COMUNIDADE LUSO – AFRO – BRASILEIRA

Em outubro , o Presidente Luiz Ignácio Lula da Silva, acompanhado de uma numerosa comitiva, dentro da qual, por especial convite, estava o Governador Paulo Hartung, do Espírito Santo, representando, sem dúvida um Estado que está marcado por uma elogiável viabilidade econômica e pólo de atração de grandes investimentos internacionais, iniciava uma espécie de resgate das tradições históricas do continente, com preferencial preocupação com os países de língua portuguesa, cicatrizando velhas chagas do passado e abrindo para o futuro um novo padrão de relacionamento e convivência com a África.

Na esteira de uma visita que priorizou reuniões e contatos empresariais com Angola, São Tomé e Príncipe, Moçambique, Namíbia e África do Sul, foram assinados cerca de 40 convênios e defendida a hipótese, consoante pronunciamento do Presidente Lula, do próprio Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico destinar investimentos da ordem de 600 milhões de reais para fortalecer uma nova via de projetos e parcerias, unindo os países de língua portuguesa, tentando, embora com algum atraso, criar verdadeiramente uma Comunidade Luso-Afro-Brasileira.

Este sonho foi nosso, há mais de 20 anos, quando iniciamos o projeto que transformou Vitória, capital do Espírito Santo e, Cascais, Cidades-Irmãs, na formação de um processo de aculturamento, convivência, parcerias comerciais, sociais, culturais e históricas, abrindo, naquela oportunidade, com um sentido mais amplo de aliciamento sócio-econômico, não só a Portugal, mas, sobretudo, levando-o com o Brasil a lutar pela implantação de uma comunidade luso-afro-brasileira, chegando à época, a sugerir a criação de um Banco com capitais portugueses, brasileiros e africanos, para atuar como instrumento de desenvolvimento e efetiva garantia de um amplo mercado, de diálogo fácil e de comportamentos sociais comuns.

É , portanto, hoje necessário prestar uma homenagem aos que acreditaram no projeto e que eu me permito destacar: Comendador Joaquim Pereira Baraona, então vice-consul de Portugal no Espírito Santo, deputado federal Christiano Dias Lopes, também ex-governador do Espírito Santo e do vice-governador José Carlos da Fonseca, hoje ministro aposentado do Superior Tribunal do Trabalho , que ao nosso lado deram expressão e amplitude a idéia do resgate histórico de nossos compromissos com a África e, em especial , com as comunidades de língua portuguesa.

Vale recordar, com a alma em festa, gratificado ainda pelo pronunciamento presidencial de agora, que valeu a pena a luta de ontem e mais se justifica o comportamento das gerações de hoje.

Da tribuna da Câmara dos Deputados, em Brasília, Christiano Dias Lopes pronunciou um discurso que pelo seu conteúdo histórico-secular e por traduzir a comunhão de ideais e interesses cívicos, e a comunhão de valores lingüísticos e étnicos, não poderia estar distanciado dos parâmetros da então política externa do Brasil, com referência à África, ganhando atualidade agora.

O brasileiro, destacava o deputado Dias Lopes, tem raízes comuns em Portugal e na África, pois o seu processo de miscigenação e aculturamento, no passado, criou um embrião nostálgico na montagem de uma raça, nos trópicos, que resistiu a toda e qualquer influência, logrando manter os laços históricos que impediram o rompimento com suas origens.

Interpretando o sentido filosófico e histórico do pronunciamento do deputado federal Christiano Dias Lopes, escrevemos para a imprensa portuguesa, sob o título “ Comunidade Luso-Afro-Brasileira “ , em novembro de 1981, um artigo que foi muito comentado e discutido e provocou tímidos seminários, valendo pela importância do resgate e pela coragem da abordagem, com mais de 20 anos de antecedência.

O Brasil – escrevi em meu artigo na imprensa portuguesa – é o único país do mundo que tem pai e mãe. Como pai, Portugal e como mãe a África. Os descendentes desta união sem precedentes na história da humanidade, devem se constituir numa só e poderosa família, abrigada sob o panteon do sentimento e da cultura, da etnia e da espiritualidade, solidificando os verdadeiros alicerces da Comunidade Luso-Afro-Brasileira.

J.C.Monjardim Cavalcanti ([email protected])

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