"Estou certo de que caminhamos para ações mais sólidas no sentido de controlar a epidemia"

Nessa entrevista ao Em Questão, Chequer falou também das mais novas ações do governo para controlar a epidemia que já atingiu mais de 362 mil brasileiros ao longo dos últimos 24 anos. "A decisão do Ministério da Saúde reforça o compromisso do governo federal em fortalecer as ações de combate à epidemia", esclarece.

Em Questão - Quais são os principais sintomas da lipodistrofia? Pedro Chequer - Os pacientes apresentam acúmulo de gordura no abdome, alargamento da região posterior do pescoço e, nas mulheres, aumento do volume das mamas. Também há perda de gordura na face, nas nádegas, nos braços e nas pernas, sem contar no afinamento dos membros superiores e inferiores e visualização de músculos e vasos sangüíneos superficiais. Ou seja, são efeitos devastadores, tanto para o corpo como para a mente dos pacientes.

EQ - Quais procedimentos para lipodistrofia entrarão na tabela do SUS? Chequer - São oito intervenções, todas cirurgias estéticas e reparadoras, de pequeno e médio portes: lipoaspiração de abdome e giba (gordura acumulada na base do pescoço), redução mamária, ginecomastia, enxerto e reconstituição glútea, e preenchimento facial com gordura e polimetil. Em 60 dias, conforme determina a portaria que autoriza a inclusão dos procedimentos na tabela do SUS, teremos elaborado os protocolos de indicação das cirurgias e os formulários de preenchimento obrigatório, que serão anexados ao prontuário dos pacientes.

EQ - Qual a importância dessas cirurgias para quem tem a síndrome? Chequer - A importância é enorme porque muitos efeitos da lipodistrofia são irreversíveis. As alterações anatômicas decorrentes do uso dos anti-retrovirais podem afetar o funcionamento do músculo-esquelético, causar escaras e problemas na coluna cervical. Ocorrem também alterações metabólicas, como aumento do colesterol e dos triglicerídeos e o surgimento do diabetes tipo 2. Os pacientes sofrem ainda com distúrbios emocionais e psiquiátricos, que provocam perda da auto-estima, problemas familiares, exclusão social e, o que é mais grave, abandono do tratamento, que agrava a doença. Portanto, os novos procedimentos são fundamentais no tratamento dos usuários de anti-retrovirais.

EQ - O governo anunciou no dia 1º de dezembro uma bolsa estudos para universitários negros cotistas que queiram estudar a aids. Qual o objetivo desse projeto? Chequer - Contribui para resgatar a dívida histórica que o Brasil tem com a população negra. O programa Afroatitude, lançado em 1º de dezembro, Dia Mundial de Combate à Aids, tem como objetivo principal integrar as políticas de ações afirmativas para os afro-descendentes com ações de controle da epidemia.

EQ - Como vai funcionar o Afroatitude? Chequer - O projeto será desenvolvido com 10 universidades públicas que adotam cotas para negros. Serão oferecidas 500 bolsas no valor de R$ 241,51 por mês, durante um ano. O valor é o mesmo utilizado pelo CNPq para iniciação científica. A bolsa é destinada a alunos cotistas de graduação que queiram pesquisar a relação entre a epidemia e questões sociais, econômicas e culturais. A bolsa será distribuída para estudantes que apresentem projetos em três áreas de atuação: pesquisa de iniciação científica, intervenção com populações vulneráveis e atividades de monitoria.

EQ - Como o projeto foi elaborado e o que o governo espera dele? Chequer - O Afroatitude é uma parceria entre os Ministérios da Saúde e da Educação, as secretarias de Estado de Direitos Humanos e de Promoção da Igualdade Racial e com as universidades públicas participantes do projeto. O Afroatitude ajudará a sistematizar informações bibliográficas sobre estudos e pesquisas, nacionais e internacionais, sobre DST/Aids e a população negra.

EQ - Recentemente, foi divulgado o novo boletim epidemiológico da aids no Brasil. Qual a novidade desse relatório? Chequer - Pela primeira vez, apresentamos números da epidemia segundo raça e cor. Agora sabemos que a população branca representa a maior parte dos registros, pouco mais de 51%, seguida dos negros e pardos, com 33%. Os números revelaram, entretanto, que há tendência de crescimento nos casos de aids entre a população negra e parda. A investigação desse quesito é importante não por questões biológicas, pois a exposição ao vírus HIV independe da cor da pele. Mas sim, porque no Brasil, as desigualdades socioeconômicas estão ligadas à questão étnica. Outra novidade trazida pelo relatório, foi o cruzamento de dados entre de dois bancos de dados - O SINAN (Sistema Nacional de Informação de Agravos de Notificação) e o SISCEL (Sistema de Controle de Exames Laboratoriais). Isso permitiu resgatar registros que ainda não haviam sido notificados e eliminar dados duplicados. Assim, o número de casos de aids acumulados desde 1980 passou de 321.163 para 362.364. O boletim também incluiu pela primeira vez informações sobre a sífilis congênita.

EQ - Qual o perfil atual da epidemia no país? Chequer - Os novos dados indicam que a epidemia de aids está se estabilizando, embora ainda mantenha patamares elevados. Os números apontam o crescimento do número de casos entre as mulheres e homens heterossexuais e uma leve queda entre os homens que fazem sexo com outros homens, grupo que inclui os homo e bissexuais. Também há redução do número de casos de transmissão vertical (da mãe para o bebê, durante a gestação) e entre usuários de drogas injetáveis. Nesse panorama, as mulheres são o grupo que mais preocupa. No começo da epidemia, a proporção era de 16 casos em homens para cada um em mulher. Hoje, são dois para um. Por isso, o lema do Brasil para o Dia Mundial deste ano foi "Mulher, sua história é você quem faz". Estou certo de que caminhamos para ações mais sólidas no sentido de controlar a epidemia, com o reforço do orçamento para oferta gratuita dos medicamentos anti-retrovirais e de preservativos, além da manutenção das campanhas de esclarecimento e prevenção. Especial atenção será dada a populações mais vulneráveis e sob maior risco de infecção do HIV (homens que fazem sexo com outros homens, profissionais do sexo, usuários de drogas injetáveis ou não). Neste sentido é importante destacar que o tratamento e atenção integral aos portadores do HIV e doentes de aids é um compromisso e uma prioridade deste Governo. Além disso, faremos todo o esforço para conquistar a auto-suficiência do nosso país na produção dos anti-retrovirais estratégicos.

Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da Presidência da República

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