A IMPRENSA BRASILEIRA E OS EUA

Recentemente, duas notícias nas versões eletrônicas dos dois mais importantes jornais brasileiros, a "Folha de São Paulo" e "O Estado de São Paulo", revelaram um enorme preconceito. É estranho como, embora nem o governo nem a população brasileira sejam entusiastas dos Estados Unidos, mas até bastante críticos, a imprensa, longe de refletir a opinião pública, insiste em ser ardorosamente partidária dos EUA. E se nossa única fonte for os grandes meios de comunicação brasileiros, estaremos bastante mal informados a respeito de acontecimentos mundiais atuais e históricos: acharemos que tudo de bom que existe no mundo é feito pelos EUA.

Muitos exemplos podem ser encontrados; mas vejamos apenas dois, recentes, que apareceram nos jornais mais prestigiados do Brasil. No dia 6 de junho, noticiando as comemorações dos 60 anos do desembarque aliado no norte da França na Segunda Guerra Mundial (mais conhecido como "dia D"), "O Estado de São Paulo" assim definiu o acontecimento: "o desembarque de tropas aliadas na Normandia que marcou o início da vitória sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra mundial." Absurdo flagrante.

Quando ocorreu o "dia D", as coisas já estavam feias para a Alemanha há muito tempo.

Em janeiro de 1943 (quase um ano e meio antes do ataque à Normandia), os nazistas já haviam sido definitivamente derrotados em Stalingrado, perdendo um exército inteiro depois de mais de um ano de combates. Este foi o verdadeiro início da derrocada nazista, pois a partir daí os alemães só retrocederam. Em abril de 1943, as tropas de Hitler iniciaram a "Operação Citadela", na região de Kursk, tentando montar uma contra-ofensiva e fazer os soviéticos recuar. Até setembro daquele ano, ocorreram batalhas decisivas que envolveram o maior número de tanques e aviões, e os alemães foram novamente derrotados.

Quando do "dia D", em junho de 1944, os soviéticos já haviam expulsado os alemães de seu território, e preparavam-se para libertar a Polônia, a Romênia e até os antigos territórios alemães no Leste (Prússia Oriental).

Não se trata de desmerecer o ataque anglo-americano na Normandia. Foi o maior desembarque anfíbio da história, uma operação militar muito complexa e cara, e marcou o início da liberação da França - é sem dúvida um dos eventos mais importantes da Segunda Guerra Mundial.

Porém, não foi o acontecimento decisivo, que significou a derrota da Alemanha. Mesmo que o "dia D" tivesse sido uma derrota para os aliados ocidentais, a União Soviética poderia ter derrotado sozinha a Alemanha, já que a maior parte das forças nazistas estavam mesmo concentradas no fronte oriental.

A outra notícia saiu na "Folha de São Paulo", no dia 30 de junho, e traz a seguinte manchete: "Astronautas fazem reparos na Estação Espacial Internacional da NASA". Bem, esta manchete já traz em si uma contradição explícita: se a Estação Espacial é internacional, como ela pode ser da NASA, ou seja, pertencer exclusivamente à agência espacial dos Estados Unidos? Claro que a NASA participa do programa, mas não é a proprietária da estação: Rússia, Japão, os vários países membros da Agência Espacial Européia, Canadá e também o Brasil participam do programa.

Mas o que torna a distorção desta notícia ainda mais patente é quando nos lembramos que, desde que a Columbia explodiu em fevereiro do ano passado, todos os vôos tripulados dos EUA estão suspensos, sem prazo para serem retomados, e o único país que no momento opera naves espaciais tripuladas com regularidade é a Rússia. Desde fevereiro de 2003, a tarefa de enviar tripulações à Estação Espacial Internacional e abastecê-la está sendo realizada exclusivamente pela Rússia.

Como, então, se pode dizer que esta estação é da NASA? Claro, segundo a imprensa brasileira, porque a NASA tem as melhores naves espaciais, enquanto a Rússia é um fracasso, e só a NASA pode realizar grandes feitos. Qualquer mínimo problema na Mir, a estação espacial russa desativada em 2000 depois de 14 anos de ótimos serviços, era noticiado como "mais um acidente ocorre na Mir". Mas ninguém salienta o fato que a NASA perdeu dois de um total de cinco ônibus espaciais, com perda total de suas tripulações, em 1986 (Challenger) e 2003 (Columbia), enquanto a Rússia não registra nenhum acidente fatal desde 1971 - e ainda deve-se acrescentar que o número de lançamentos russos nesse período excederam os dos EUA.

Olhando os fatos objetivamente, não resta dúvida sobre qual país tem o melhor programa espacial.

Os Estados Unidos são ricos, poderosos, científica e tecnologicamente avançados, e tiveram grande importância nos maiores acontecimentos dos últimos 100 anos - isto é inegável. Mas o que eles têm de melhor é a propaganda: pois tentam fazer com que acreditemos que foram eles que fizeram absolutamente tudo, e que sem eles o mundo nada seria - não teríamos aviões, carros, luz elétrica, viagens espaciais, democracia nem liberdade; os alemães teriam ganhado a Primeira e a Segunda Guerra Mundial; o comunismo teria dominado o mundo; e os terroristas estariam soltos, cometendo impunemente seus crimes.

Nada está mais longe da verdade. Só é incompreensível que a imprensa brasileira tente impor esta distorção, embora a população seja em geral bastante refratária a este entusiasmo pró-EUA.

Carlo MOIANA PRAVDA.Ru BRASIL

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