Um país de todos mas não mais do FMI

A decisão do governo Lula de não renovar o acordo com o FMI não foi algo inesperado em se tratando de um governo que tanto se orgulha dos números da economia, alcançados já após um ano de governo. Também serviu para demonstrar que o atual governo tem recursos suficientes para andar com as próprias pernas, como declarou o presidente Lula e que este governo é bem mais competente que o anterior, o portador da herança maldita.

O acordo com o FMI também faz parte da “herança maldita” pois o governo FHC necessitou recorrer ao Fundo, pois não conseguiu poupar o Brasil dos efeitos da crise da Rússia, em 1998 que fez com que, entre outras coisas, houvesse a implosão do Mercosul que chegou a ter números tão expressivos que causaram inveja ao então presidente norte-americano Bill Clinton.

Lula, no entanto, quando assumiu, encontrou um panorama internacional completamente modificado, principalmente, o crescimento estratosférico da China e foi graças ao comércio exterior baseado principalmente, no agro-negócio que o governo Lula, ou seja a equipe econômica do governo Lula chefiada pelo ministro Antônio Palocci, conseguiu recuperar a economia e até mesmo criar alguns empregos..

Ao menos, Lula não necessitará mais suplicar ao Fundo que passe a considerar as despesas com obras de infra-estrutura como investimento. Mas o FMI não é instituição de caridade.

A propósito agora que não há mais a necessidade de obedecer aos mandamentos do Fundo e ter de deixar de se fazer investimentos vultosos para .não se comprometer a meta de superávit primário, presume-se que agora tais investimentos serão efetivados e teremos, por exemplo, uma grande e eficiente malha ferroviária, como a prometida ferrovia trans-nordestina, reforma de estradas, a modernização dos portos, sem necessidade das parcerias público-privadas.

A ferrovia trans-nordestina, a propósito, será de grande valia quando o semi-árido nordestino se transformar em uma nova fronteira agrícola após a efetivação dos projetos que acompanharão a transposição de águas do rio São Francisco, o que presumivelmente, permitirá que os efeitos da seca sejam amainados, transformando em perenes, os rios temporários da região. O projeto é realmente maravilhoso, ao menos é o que se vê nas propagandas do governo. Tudo na propaganda é sempre tão maravilhoso.

O governo Lula realmente não necessita renovar o acordo, com os indicadores econômicos em números tão positivos. Temos a taxa de desemprego sendo reduzida, superávit nas contas públicas, recordes sobre recordes da balança comercial, taxa de crescimento econômico que atingiu 5,2 por cento. e inflação controlada.

Entretanto, o índice de crescimento econômico e a redução da taxa de desemprego, seriam bem mais significativos se não houvesse a asfixiante carga tributária que chegou a 16,,20 por cento do PIB, em 2004 e se o Brasil não fosse o campeão mundial de taxa de juros, cujo aumento sucessivo nem é mais criticado como antes, como era o caso do próprio Vice-Presidente e empresário, José Alencar e do Ministro Chefe da Casa Civil, José Dirceu.

A desculpa para o aumento sucessivo da taxa de juros é o controle da inflação, contudo, no primeiro ano do governo Lula em que havia ainda maior instabilidade do que no momento atual, o Banco Central, reduziu a taxa de juros em 8 pontos. De qualquer forma, quem está amando esta política de juros altos é o sistema bancário, de onde, a propósito, veio o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, bem como os investidores com capital especulativo.

Quanto ao superávit nas contas públicas, há duas formas de se obtê-lo: uma é reduzindo os gastos e a outra, aumentando a arrecadação. O governo do país de todos, aparentemente, optou pela segunda opção, pois aumentou, consideravelmente, os gastos do setor público mas em contrapartida, tem aumentado a carga tributária como é o objeto da famigerada MP 232, assinada entre o apagar das luzes de natal e o acender dos fogos do ano novo. Há ainda uma terceira opção: não se investir em necessidades básicas da população como saúde, educação, etc.....

O governo Lula durante a vigência do acordo com o FMI, comportou-se como um bom devedor, pois manteve o superávit primário nos níveis exigidos pelo Fundo. Por essa razão os diretores do FMI e também do Banco Mundial não se cansaram de elogiar o governo Lula e também estão muito tristes pois perderam seu melhor cliente.

Jose Schettini Petrópolis BRASIL

Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter

Author`s name Pravda.Ru Jornal
X