O cérebro de Lucy a 100%

A idéia de que os homens utilizam só uma parte mínima da potencialidade de seu cérebro não é nova. Pode ser até uma verdade científica como procura demonstrar o cientista vivido, no filme Lucy de Luc Besson, pelo ator Morgan Freeman.

O diferente e que prende os espectadores por hora e meia, é a maneira como Luc Besson adaptou essa idéia num filme.  partindo de uma suposta nova droga imitando artificialmente a substância natural produzida pelas mulheres, na sexta semana da gravidez, chamada CPH4.

Lucy, que tem o mesmo nome da primeira mulher prehistórica, entra em contato direto com essa nova droga e seu cérebro passa a utilizar 20% de sua capacidade até chegar aos 100%. Nesse momento, simbolizado pelo encontro de Lucy moderna com Lucy ancestral, o filme lembra a mesma experiência do astronauta da Odisséia no Espaço, de Kubrick, baseado num livro de Arthur Clark, expulso da nave pelo computador Hal.

O filme não é unicamente uma ficção científica do tipo entretenimento, pois agrementado com efeitos especiais  assume feições de um thriller ao qual não faltam as obrigatóris corridas de automóveis com os inevitáveis acidentes no tráfego, todos fakes ou falsos como explica Luc Besson.

Terminado o entretenimento que pode satisfazer aos que nutrem pendores esotéricos, ressurge um tema preferido em muitos filmes recentes - o do tempo como atestado da realidade ou fator probatório da existência com sua decorrente normal, a evolução e transformação dos homens e da civilização.

Tudo isso Luc Besson consegue misturar num filme que convence amadores de vulgarizações científicas e faz sorrir cientistas. como o neurologista Yves Agid, um dos consultores.

Da entrevista de Luc Besson, extraímos os seguintes trechos-

Sobre seu filme que está sendo exibido, faz alguns dias, nos EUA:

Quando um filme começa a ser projetado nos cinemas, já não nos pertence é como um filho que decide deixar os pais para viver sozinho. Espero que tenha uma boa vida, meu filme vai sert exibido em 80 país, entre as projeções e as edições em Dvd, espero que tenha uma longa vida.

Sobre influênia ou não de Arthur Clark, autor de 2001, Odisséia no Espaço:

O filme 2001 Odisséia no Espaço de Arthur Clark foi tão importante na história do cinema que, desde que se faça um filme envolvendo questões nele levantadas, haverá a referância sem significar, entretanto, influência. Eu era menino quando sai 2001, vi, gostei mas não entendi tudo, há coisas que entendi bem mais tarde.

Mas não há como confundir os macacos no início de 2001 com o início de Lucy, porque a figura que se vê no início não é um macaco mas nossa ancestral, a primeira mulher humana que conhecemos, Lucy préhistórica, encontrada na África e que viveu há 3,5 milhões de anos, de certa forma Eva. Lucy, cujo cérebro pesava 400 gramas, enquanto o cérebro atual dos homens pesa 1,4 quilo. A referencia não é ao homem de Cromagnon ou homo sapiens.

Sobre a impressão de ter preferência por filmes com mulheres:

Não fiz filmes apenas com mulheres, meu primeiro filme O Grande Azul, era história de um homem. O outro filme era Leon, que não era mulher. Atlantis não tinha nem homem e nem mulher e O Último Combate era a história de dois homens. E não posso ser considerado sexista, por mostrar as mulheres de formas extremas, porque procuro dar o melhor às personagens, sejam homem ou mulher nos meus filmes.

Sobre Lucy, préhistórica e a Lucy do filme::

Com relação a Lucy, poderíamos dizer que se trata da senhora todo mundo, ela não tem nenhuma característica particular que a distinga das outras, é uma mulher comum. Ela estuda, não sabe bem o que fazer na vida, tem um namorado. Por que escolhi uma jovem e não um jovem, talvez porque ela está longe de sua família, é uma americana perdida em Taipei, que não fala o chinês e com pouca defesa e com sua minissaia não pode correr e nem se defender. É como uma jovem indefesa num ninho de crocodilos.

Sobre a babel criada com atores de idiomas diferentes:

No começo o filme parecia um tanto complicado, uma confusão enorme, porque dele participam atores franceses que só falam francês, americanos que só falam inglês, coreanos que só falam coreano e taiwanneses que só falam chinês. Nos intervalos das filmagens, era uma Torre de Babel, mas depois tudo se engrenou e todo mundo aprendeu a se comunicar, usando uma linguagem do tipo do Carlito do Charlie Chaplin.

Sobre sua transformação do Grande Bleu até Nikita e Lucy:

Acho que um criador existe para abrir portas e não ter medo de desafios. Se eu escutasse o que me diziam estaria fazendo um Leon número 8 ou fazendo outros filmes Nikita. a única maneira de se enriquecer é a de viajar, na realidade ou dentro da cabeça e descobrir novas realidades e experimentar novos sabores em lugares diversos. Eu aprendo enormemente em cada filme que faço em lugares diferentes. O cineasta deve ser como um grand maitre de cuisine, que viajar descobre novos sabores para criar seus pratos. Meu grande medo é o de dizer sempre a mesma coisa e fazer sempre o mesmo filme. Quando Picasso desestruturou a pintura, pode ter sido chamado louco, naquele momento, mas abriu novos caminhos não só na pintura como em todas as artes. O mesmo com o jazz e Miles Davis. Eu me inspiro dessas pessoas mesmo que meus filmes não satisfaçam a todos.

Quanto ao fato de ser chamado de americanizado pelos franceses:

Sobre o fato de eu ser assimilado aos americanos em matéria de filme, digo apenas uma coisa. VAn Gogh era holandês, mas um de seus melhores quadros, um campo de tulipas, foi pintado na França e agora está no museu de Nova Iorque.

Rui Martins

 

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