O sofisma de Itaipu

O Governo negou que haverá alta no preço de energia elétrica após o novo acordo firmado com o Paraguai sobre Itaipu em relação ao contrato da hidrelétrica de Itaipu, afirmando que não irá afetar os consumidores. "O aumento em três vezes da quantia paga pela energia elétrica não vai ter impacto sobre a tarifa", disse, sem corar, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, alegando que o presidente Lula não permitirá nenhum aumento da tarifa, o governo deverá subsidiar o valor.

"Não vai ter aumento tarifário. Isso eu tinha perguntando à parte já para o presidente. Nem tratamos na reunião, mas eu já tinha perguntando e ele disse que a determinação é que não tenha impacto para o consumidor. O governo vai pagar essa conta? Concluo que a resposta é afirmativa", disse Bernardo.

O sofisma só não supera o desprezo do ministro pela inteligência dos cidadãos, mas tem lá sua razão de ser. Todo subsídio público significa o pagamento da despesa pelo Tesouro Nacional, sustentado pelos cidadãos pagantes de impostos, seja diretamente ou na compra de qualquer produto ou serviço.

A lógica governamental que escora essa mentira e impede que se a classifique de descarada é que o grosso da população não compreende o significado e o mecanismo perverso por trás do termo subsídio.

Assim atua o governo quando diz que "não haverá aumento de energia"; e se o brasileiro médio não sente no bolso o impacto do regalo ao Paraguai, algo em torno de US$ 240 milhões, não é por acreditar em almoço grátis, mas porque simplesmente não leva em conta que esse montante a menos nos cofres públicos lhe será subtraído de modo imperceptível.

Dessa forma, perante a maioria, com o milagre da multiplicação dos pães, Lula faz boa figura no exterior e no País. Posa de magnânimo, o povo paga a conta, e ele embolsa os dividendos políticos de sua política de boa vizinhança.

O presidente se justifica dizendo que não interessa ao Brasil ter um vizinho que não tenha o mesmo nível de investimento - como se tivéssemos a responsabilidade de padronizar, e isso fosse possível, o crescimento regional.

A nova fórmula governamental de negociação com a vizinhança, disfarçando concessões de “subsídios”, como se não gerassem custos para a sociedade, merece atenção redobrada, porque deverá doravante ser replicada, sempre que os hermanos, vítimas do impiedoso “imperialismo” brasileiro, voltarem à carga.

O que não haverá de tardar, já que o invariável padrão de circunflexão brasileira às imposições de nossos “parceiros” comerciais os autoriza a alimentar as mais otimistas expectativas.

Numa época de vacas magras, com o crescimento de despesas de custeio (aumento de salário do funcionalismo, principalmente) e queda na arrecadação de tributos, o governo resolve, sob disfarce sangrar mais um pouco os cofres públicos.

Luiz Leitão [email protected]

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