Brasil: No fim o caos

Por Décio Pizzato*

"No principio era o caos, então foi feita a luz e a luz era boa...", assim de forma adaptada está no Livro Gênesis. Tudo isso vem a propósito com o que está acontecendo neste país. São alguns fatos aparentemente estanques, mas que tem uma forte ligação entre os mesmos. O presidente ao ser vaiado no Estádio do Maracanã, na abertura dos jogos pan-americanos, demonstrou que o fato o atingiu ao declarar mágoa em seu programa de rádio semanal. Deixou expresso haver uma fissura em sua blindagem. Embora institutos de pesquisas, analistas políticos simpatizantes, áulicos e outros bajuladores procurem minimizar o episódio. A fissura está lá.

Nesta terça-feira (17) o governo concedeu um aumento de 18,25% no Bolsa - Família, benefício federal que atende 11 milhões de famílias. O programa ao ser auditado pela Controladoria Geral da União mostrou que em 90% dos municípios analisados há irregularidades na aplicação de recursos. Não eram esses beneficiados que estavam na abertura oficial do Pan. Afinal, era a primeira vez que o presidente comparecia a um evento que não havia sido organizado pelo seu partido ou pelo braço sindical do mesmo.

Outro fato se refere à proteção explicita ao Senador Renan Calheiros, envolvido até a raiz dos cabelos em situações inexplicáveis. O que mostra o grande descontentamento nacional com essa política do "toma lá, dá cá".

A corrupção generalizada que sangra os cofres públicos, através de relações promíscuas entre políticos, empreiteiras e prestadores de serviços, vêm a público sistematicamente com escândalos desde fevereiro de 2004, com o caso Waldomiro. Até agora não houve uma só condenação. A impunidade se generalizou. Muitos dos envolvidos eram próximos à presidência da República, ou ligados a congressistas e membros do Judiciário. Há um descrédito aos ocupantes dos três poderes.

Em 16 de junho de 2005 escrevi o artigo "Incompetência, inexperiência e mediocridade" onde mostrava o amadorismo dos detentores dos ocupantes dos cargos federais. Ao lotear o governo com militantes do partido presidencial a ação governamental só ficou pior. Existe um saque generalizado no dinheiro do país. Até o presidente boliviano, depois que o governo deu quase de presente as refinarias da Petrobrás, se sentiu motivado para fazer mais exigências que beneficiasse ao seu país. O assalto ficou institucionalizado.

Não dá mais para silenciar quando é mais do que sabido que a tragédia em Congonhas com o vôo da TAM é em função da péssima situação do aeroporto e da incompetência dos órgãos federais do setor. Até hoje estamos dando voltas, sem conclusão nenhuma com relação ao outro acidente com o avião da empresa GOL. E o que então dizer dos milhares de vidas ceifadas pela precariedade da malha rodoviária do país? Ou os que são vitimados pelo descalabro na saúde pública? E o custo da violência generalizada que atinge 5,9% do Produto Interno Bruto do país?

O Brasil possui uma máquina de arrecadação perfeita com gastos mais do que imperfeitos. Os tributos pagos não são apenas em dinheiro, são também com vidas. Há um descaminho no país, se neste último quadriênio não implodiu foi graças ao terceiro e quarto escalão da máquina pública que tentam fazer essa andar. Nos escalões superiores preenchidos pelos militantes do partido do presidente ou pelos novos adesistas, a mediocridade é generalizada. O PAC está emperrado, o que existe é apenas marketing colocado nos veículos de comunicações.

Assim parece que está havendo uma inversão das primeiras palavras do Gênesis, "No principio havia a luz, e no fim o caos".

*Economista, articulista do Jornal do Comércio (Porto Alegre) desde 1995. Faz palestras sobre economia contemporânea para cursos de graduação e pós-graduação (RS). Atua como consultor de cenários de econômia contemporânea brasileira. Décio Pizzato, escreve nesta coluna às sextas-feiras. e-mail: [email protected]

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