Partido repartido

Desgastado, de sonhos não vividos e esquecidos, segue dividido o partido de mil pedaços, todos recortados pelo pensamento menor dos que querem apenas a fatia maior. Fez-se velho, quase eterno, caricatura eternizada no rosto hereditário de José Sarney.

O país assiste ao poder das sombras do PMDB, a capacidade de vicejar longe dos holofotes e da luz. Não pode gerar fruto bom a escuridão, em que os fungos dos sonhos, mofam a velha chama austera e democrática. Tudo pelo vice; a língua viciada e calada das gravatas lambendo as publicações dos diários oficiais. Tétrico espelho, triste retrato.

O Brasil inteiro, constrangido, leu a entrevista do senador peemedebista Jarbas Vasconcelos. Agora, falam em expulsá-lo do partido, jogar a sujeira para debaixo do tapete, calar o insurreto, estabelecer que tudo tem que ficar como está.

E aqueles que querem o PMDB histórico? E aqueles que fundaram o partido em tempos bem mais difíceis que o atual? Ao que se vê, dentro do PMDB, está tudo dominado, instituído em ações isoladas, mas orquestrada pela cumplicidade ideológica do todo. O silêncio como afago. O aceno da precedência do livre fazer! Pena!

Entre muitas constatações de Jarbas Vasconcelos, destacamos algumas, buscando na memória a chama acesa dentro dos brasileiros por um movimento que se dizia democrático, há algum bom tempo...

O dedo na ferida: “Hoje, o PMDB é um partido sem bandeiras, sem propostas, sem um norte. É uma confederação de líderes regionais sendo que mais de 90% deles praticam o clientelismo, de olho principalmente nos cargos, para fazer negócios, ganhar comissões. Alguns ainda buscam o prestígio político. Mas a maioria dos peemedebistas se especializou nessas coisas pelas quais os governos são denunciados: manipulação de licitações, contratações dirigidas, corrupção em geral. A corrupção está impregnada em todos os partidos. Boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção”.

O clientelismo: “o Renan Calheiros é o maior beneficiário desse quadro político de mediocridade em que os escândalos não incomodam mais e acabam se incorporando à paisagem. (...) De 1994 para cá, o partido resolveu adotar a estratégia pragmática de usufruir dos governos sem vencer eleição. Daqui a dois anos o PMDB será ocupante do Palácio do Planalto, com José Serra ou com Dilma Rousseff. O PMDB não terá aquele gabinete presidencial pomposo no 3º andar, mas terá vários gabinetes ao lado. A parte majoritária ficará com o governo, já que está mamando e não é possível agora uma traição total”.

Hoje, lamentamos, no exato sentido de requerer por um PMDB que aprendemos a admirar e a votar. Um PMDB de Pedro Simon, de Tancredo Neves, um PMDB de Ulisses Guimarães. Um PMDB muito além desse que está aqui e que nos faz muito mal.

Petrônio Souza Gonçalves é jornalista e escritor

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