Diversidade sem cisão

“Quando falamos dos direitos das mulheres, às vezes parece ser o direito de uma parte da sociedade. Ela não precisa se perceber cindida, basta se perceber diversa.”

A frase, cunhada por Marina Silva, ultrapassa a milenar questão da inferiorização das mulheres. Aplica-se a todas as formas de discriminação:ao racismo, à intolerância religiosa; resume, enfim, a dificuldade humana em aceitar as diferenças que são, justamente, a sua característica fundamental.

Essa filosofia vai contra o discurso oficial brasileiro de “igualdade racial”, um duplo eufemismo, já que não existe o conceito científico de raça e, muito menos, de o igualdade.

O que significa esse tolice semântica para a mulher, ex-empregada doméstica, a saúde um tanto frágil, de cuja origem humilde nunca lançou mão para se promover politicamente?

Marina usou a adversidade em seu favor,como estímulo, mas não para encarnar o figurino de vítima. Foi à luta e formou-se em História pela Universidade Federal do Acre.

Hoje, aos 52 anos, comprova-se a sinceridade de sua alocução quando pediu demissão do Ministério do Meio Ambiente – “Perco a cabeça, mas não perco o juízo!” – pela frase que inicia esse artigo.

O “simples” fato de não se ter agarrado ao cargo com o pragmático apego de nove entre dez ocupantes de funções públicas relevantes é revelador da clareza de sua noção de limites contida na regra básica de servir ao Estado, e não ao governo de ocasião.

Os críticos poderão dizer que ela deveria ter saído do PT quando o apodrecimento moral da agremiação já era inescondível, mas para onde iria, se nossos partidos políticos são perniciosamente homogêneos?

Sua adesão ao Partido Verde não terá sido pelos belos olhos de seus integrantes, mas porque o PT jamais lhe daria a chance de, concorrendo à presidência, fazer sombra a Lula, roubando-lhe a veleidade do Poder até que a morte os separe.

Sua menção à tolerância,a argumentação mais serena, a ausência dos arroubos que sempre caracterizaram nossa mais importante figura política, cuja artificialidade se esconde sob um manto que já se revela um tanto puído, sinalizam sua provável conduta na Presidência da República.

Infelizmente, na política,como na vida, nada é certo, há que pagar para ver, mas já pagamos tanto e tão caro por opções sempre tão óbvias e parecidas, que parece ter chegado a vez de apostar no diferente – Lula nunca foi autêntico.O aguerrido contestador era, na verdade, o mais empedernido conservador, e deu seguidas mostras disso.

Marina deve expor seu ideário,sua opinião sincera, escancarada, sobre as falcatruas no Congresso, um plano de governo bem delineado, com começo, meio(s) e... fin(s).

Marina não precisa copiar a fórmula lulo-serrista de um vice de peso – nem sempre com substância.

Ela se haverá de bastar expondo exaustivamente o seu ideário; a imprensa está aí para ouvi-la, de graça. Diálogo com o eleitorado, no lugar de incontáveis inaugurações e reinagurações, de fotos beijando crianças.

Luiz Leitão é jornalista

[email protected]

MTE 57952SP

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