José Aparecido de Oliveira

Ele era meu amigo… eu o adorava. Embaixador da mineiridade, sempre foi o Zé de todos os amigos, como ficou conhecido; reconhecido. Possuía a grandiosidade dos gênios, a generosidade dos grandes, a nobreza dos que estão acima de nós. Deixou suas pegadas na memória e na história da alma brasileira, no coração dos mineiros, dentro e fora de nós.

Governador de Brasília, primeiro secretário de Cultura de Minas e primeiro ministro da Cultura do Brasil, sempre vislumbrou um país melhor, voltado para suas coisas, renascidos em suas raízes, embebido em sua luz. Ensinou aos mineiros um jeito de ver a vida; aos brasileiros uma forma de fazer política; uma maneira de pensar e sonhar um país, um povo.

Ao nosso primeiro encontro, convidou-me para almoçar com ele, em sua casa, servindo à mesa os valores que ele trazia incrustado em seu coração. Eu menino, acanhado e encabulado, e ele com seu garfo servindo as coisas em meu prato. Era o início de tudo.

Ninguém nunca ficou sozinho ao seu lado, ninguém ficou desamparado. Na época da Ditadura, diante da censura moral que abatia aos seus amigos de jornal e de ideal, ele sempre tinha uma verbinha amiga, uma palavra providencial, um atalho para encurtar o caminho de sofrimento de muitos. Oséas de Carvalho, amigo que Zé Aparecido me deu, em seu último encontro com o Zé Aparecido, enquanto enxugava as lágrimas, me confidenciou: - Ele sempre me ajudou em tudo, em tudo! Ele sempre nos ajudou Oséas, em tudo, em tudo!

Um dia, o inconfidente Celso Brant, quando me questionou sobre um novo amigo, lhe respondi: - Celso, eu sei que ele é amigo do Zé Aparecido. Depois de uma risada pachorrenta, Celso ponderou: - Petrônio, todo mundo é amigo do Zé Aparecido! Quando passou por uma cirurgia no Rio, o médico reclamou com a enfermeira diante da romaria dos que foram em busca do seu amigo: - Dá próxima vez, nos vamos ter que operá-lo no Maracanã . Assim foi, assim viveu, assim escreveu a sua história.

Quando ele chegou ao Palácio da Liberdade, em sua última visita, estava lá quando abriram a concha. Era como se abrissem em mim um baú repleto apenas de boas recordações . Que saudade, que saudade!

Depois, seguiu para a sua Conceição que ele trazia bem dentro de si. Sempre fui para lá ao seu convite. E era sempre uma festa, uma confraternização, uma alegria incontida. Agora, parto para lá sem convite algum.

Quando cheguei, vi a pequena cidade em luto. Na igreja, a comovente e comovida missa e a canção que não esqueço mais: “... quem tem as mãos limpas e o coração puro, quem não é vaidoso e sabe amar”. Os discursos foram poucos, as lágrimas foram muitas, verdadeiras.

Agora, o Zé de todos os amigos, o querido embaixador dos sonhos mineiros, está no céu, brincando aos pés de dona Araci, que fica na varanda do tempo tricotando histórias para os anjinhos... é de novo o menino Zé, como gostava de ser, um ser de luz, que levou consigo a chama que acendia a fogueira que ao seu redor os homens sonhavam, festejam e eram mais felizes... Com a bênção de Bom Jesus do Matosinhos !

Petrônio Souza Gonçalves é jornalista e escritor

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