Optar pelos países ricos

Milton Lourenço (*)

Cresce a percepção na sociedade brasileira de que a atual política de comércio exterior está equivocada e que, se persistir nesse descompasso por mais quatro anos, o País poderá ficar irremediavelmente para trás na luta pelo desenvolvimento econômico-social. Em vez de procurar abrir mercado nos países que realmente contam no concerto das nações, o governo brasileiro, de maneira destrambelhada, tem insistido em contaminar a agenda comercial com a agenda política, voltando a defender idéias superadas pelo tempo segundo as quais a culpa da miséria dos países pobres é dos países ricos.

De fato, essa é a idéia que está por trás da política de aproximação Sul-Sul, que pretende unir o Brasil a outras nações emergentes, como Índia e África do Sul. Nada contra o crescimento do intercâmbio comercial com esses países, mas imaginar que aumentar as exportações para o continente africano ou para a Índia possa compensar a perda de mercado nos Estados Unidos, por exemplo, é idéia de gente parva, que nada entende de comércio exterior nem de estratégias de crescimento.

Basta ver que, hoje, 70% das exportações brasileiras são destinadas aos Estados Unidos, União Européia e outros países desenvolvidos. E que o mínimo que um governo responsável deveria estar preocupado em fazer seria procurar aumentar essa faixa para 80% em cinco anos, embora nenhum exportador se negue a vender seus produtos para quem queira comprá-los, desde que tomadas as devidas cautelas que evitam problemas de pagamento.

Os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) mostram que, de janeiro a julho deste ano, o Brasil vendeu US$ 16,3 bilhões para países da União Européia, ou seja, 21,89% do total das exportações, US$ 13,5 bilhões para os Estados Unidos (18,14%) e apenas US$ 3,8 bilhões para a África (5,23%).

Por esse quadro, vê-se que o governo começa a desperdiçar esforços quando anuncia com toda a pompa acordos do Mercosul com Índia e África do Sul, que, afinal de contas, não têm qualquer relevância. Mais uma vez sejamos claros: ninguém é contra que o Brasil exporte para Índia, África do Sul, México ou Arábia Saudita, mas o que deveria ser o objetivo básico da política comercial brasileira seria a integração com os países ricos. Afinal, vender mais 10% para a Índia não é o mesmo que vender mais 10% para os Estados Unidos ou para a União Européia. Elementar, caro leitor.

A equivocada política comercial do governo brasileiro salta aos olhos quando se percebe que nações como Chile e México estão empenhadas cada vez mais em fechar negociações com países importantes, assinando ou não tratados de livre comércio, enquanto o Brasil isola-se cada vez mais ou vai em buscar de parceiros pouco significativos.

O Chile, por exemplo, tem 14 acordos de livre comércio com Estados Unidos, Europa e países emergentes como China, Coréia e Nova Zelândia. Desde 1996, o governo chileno deixou de pensar em mercados poucos representativos, concentrando os seus esforços em relação aos países mais lucrativos. Hoje, o governo chileno está a ponto de fechar acordos também com Japão e Malásia. Como resultado disso, em menos de dez anos, as exportações passaram a representar de 20% a 36% do Produto Interno Bruto (PIB).

A exemplo do Chile, o México não alimentou receios ao assinar o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) com Estados Unidos e Canadá. Se haveria um país no mundo que deveria ter sempre um pé atrás em relação aos Estados Unidos, sem dúvida, seria o México. Basta ver o que conta a história comum dos dois países.

Sem levar em conta idéias ultrapassadas que vêm do tempo da Guerra Fria, o México tem procurado a sua inserção no comércio internacional. Tanto que, além do Nafta, fechou outros 12 tratados com 42 países. O resultado disso é que o comércio exterior mexicano representa hoje 63% do PIB do país.

Nos últimos dez anos, o México cresceu a uma taxa anual de 3,6%, o que não é muito se comparada aos 9% da China e 6% da Índia, mas bem superior aos 2,2% do Brasil. Mas, como o Brasil, o México enfrenta outras questões de difícil solução, como descontrole nas despesas públicas, sistema previdenciário social mal equacionado, um cipoal tributário a desestimular negócios, corrupção endêmica etc.

É claro que, se o Brasil abrir-se unilateralmente para o comércio externo, nem todos os problemas estarão resolvidos. Mas que já será um grande passo, não há que duvidar.

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(*) Milton Lourenço é diretor-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP (www.fiorde.com.br). E-mail: [email protected]

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