No País de faz-de-conta

Deixemos de lado a frase que, afinal, não teria sido dita por De Gaulle “O Brasil não é um país sério”. Nós, mais do que qualquer um, o conhecemos o suficiente para concordar com a frase, e ir além. Podemos dizer que o nosso querido Brasil é um País de faz-de-conta, um grande palco onde se representa o tempo todo.

Quarta-feira, 3 de setembro, um avião Cessna King Air C-90, com o curioso prefixo de PT-PAC (sigla do Plano de Aceleração do Crescimento, do governo federal), teve de abortar uma decolagem e quase varou a pista. Fosse um avião de grande porte, com muito mais peso e velocidade, teria varado a pista. Exatamente como fez, em julho do ano passado, o Airbus da TAM, no horrível acidente que custou cerca de duzentas vidas.

Na época, as autoridades, como sempre nessas ocasiões, falaram muito e fizeram pouquíssimo ou mesmo nada. Aventou-se a construção em um terceiro aeroporto para São Paulo (definição do local em noventa dias, segundo a ministra Dilma Roussef, da Casa Civil), ou na ampliação do Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo, com uma inviável terceira pista. Mais do que isso, foi dito e repetido que deveria ser feito um aumento da área de escape da pista de Congonhas (Zona Sul, quase centro de São Paulo), além da instalação de concreto poroso, um tipo de pavimento que cede, sob determinadas circunstâncias, ao peso da aeronave, fazendo a parar.

Lula, por ocasião desta tragédia, nem sequer deu as caras em São Paulo, mas, sob pressão, acabou demitindo, por incompetência crônica, seu ministro da defesa, Waldir Pires, coisa que deveria ter feita muito antes de se consumarem dois desastres aéreos de grandes proporções; o da Gol, que colidiu com um jatinho sobre a Amazônia, e este, da TAM. Em seu lugar foi nomeado o ex-ministro do Supremo, Nelson Jobim, que entende tanto de aeronáutica e assuntos correlatos quanto o traficante Fernandinho Beira-Mar de direitos humanos.

Jobim, veio, foi, voltou de novo, reclamou da distância entre os assentos dos aviões de carreira - por causa de sua grande estatura, cerca de 1,90 m -, como se fosse este o detalhe premente da questão. O fato é que nada, virtualmente nada mudou. Talvez seja exagero recomendar ao leitor que não dê férias ao seu anjo da guarda quando for viajar de avião no Brasil, mas, pensando bem, não é demais rezar quando se depende do poder público por estas bandas.

Mudando de assunto, mas dentro tema seriedade, uma discussão acerca das interceptações telefônicas que a revista Veja revelou terem sido feitas pela Agência Brasileira de Informações, a já famosa Abin, Nelson Jobim disse que a agência possui equipamentos de interceptação telefônica, umas maletas, e soube-se, então, que o Exército também tem !! Ora, mas se nem o Exército nem a Abin têm poder de polícia, e se escutas só podem ser autorizadas pela Justiça, a serem feitas exclusivamente pela polícia, por que é que têm tais engenhocas?

Aí, veio a "explicação": na verdade, as tais maletas são para detectar escutas, fazer varredura. Mas elas também servem para grampear (monitorar) telefones, embora só sejam eficazes a meros cem metros. E precisa mais do que isso? É a distância de um quarteirão.

Como se viu e como se vê, em toda encrenca onde o governo se mete há justificavas, promessas de tomada de medidas "enérgicas", mas os perigos que nos rondam, sejam de bisbilhotice ou de nos arrebentamos num acidente aéreo, marítimo (vide o recente naufrágio na Amazônia) ou rodoviário (operação "tapa buracos"), continuam aí, muito sólidos, latentes. Esses não são de faz-de-conta.

Luiz Leitão da Cunha

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