Valhacouto de velhacos

Casa da mãe Joana e do pai José, o Senado brasileiro descortina semanalmente um rosário de escândalos e aberrações. Dominado por velhos desmoralizados, o Senado tornou-se o feudo dos larápios. Hereditário e capitaneado, cada um separa seu quinhão escolhendo os melhores cargos, os mais cobiçados salários. Para os pobres faxineiros e coveiros, uma boa recompensa para garantir a vultuosa comissão. É a desfaçatez escancarada, a mediocridade jogada no seio da família brasileira, a cusparada cretina na cara do trabalhador honesto.

Velhos desavergonhados, os nossos corações estão de luto, diante do exemplo deixado para as atuais e futuras gerações. Páginas amarelas na nossa história, tempo de desgosto em nossa memória. O que poderemos esperar de um país que assiste aos seus mais experientes e experimentados homens fazendo isso aí, essa bandalheira que está estampada nos jornais e em nossas frustradas caras, para nossa maior desilusão? Homens que já galgaram os maiores postos da nação agora ficam aí, contabilizando migalhas, somando comissões, leiloando nomeações. Nódoas da hipocrisia sujando a desgastada mortalha. O coração da pátria está devastado pela corrupção, pela prevaricação, pela absoluta falta de decência.

Valhacouto de velhacos, não é de hoje que o Senado tomado por eles nos envergonha, em uma sucessão sucessiva de escândalos e aberrações. Inaugurando a tragicomédia da Casa da Mãe Joana, tivemos o primeiro capítulo com o ranário do embaralhado Jader. Depois, as várias violações de Toninho Malvadeza e seu camarada José Roberto Arruda. Seguindo a mesma toada, o abastado herdeiro de Renan, o cabra-macho das Alagoas e, agora, o Sir Ney, que usou seu bigode como quelíceras e inoculou no Senado o seu insensato veneno, infectando todos os cargos e comissões, do Maranhão ao Amapá, chegando até Brasília.

Que país podemos vislumbrar assistindo a repetidos escândalos encenados em plena luz do dia no centro geográfico e político do Brasil por esses homens que se misturam com a história recente desse assaltado país? Qual Sarney irá entrar para a história: o presidente da transição democrática ou o presidente do Senado e seus muitos cargos? O grande problema é que eles são sempre um só e nossa história sempre a mesma, sem respeito, tradição ou glória. Uma pena, uma desastrosa e vergonhosa constatação.

Tudo, financiado pelo voto do brasileiro, pelo voto de muitos homens honestos que financia os vícios e vicissitudes de nossos políticos, há alguns bons anos. Não tenho dúvida que a maior aprovação disso tudo é nossa, ingênuos e equivocados eleitores, que permitem que homens de recorrentes delitos sejam reconduzidos, por vontade manifestada da imensa maioria, ao posto da imunidade de corromper sem temer a Lei que pesa sobre cada um de nós. Isso é a verdadeira inversão de valores, permitida pelo confortável silêncio de todos nós. A nossa maior culpa é a nossa passividade, que aprovou e aprova todos os escândalos encenados no Senado, tendo seus maiores atores reconduzidos aos bons, velhos e generosos cargos.

Disso tudo, a única certeza que tenho - para nossa pobreza maior - é que quem vai sempre pagar a conta será cada um de nós, que vivemos sem cargos, padrinhos, direitos ou privilégios.

Petrônio Souza Gonçalves é jornalista e escritor

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