Um bom professor

Padre Dalton voltava para Belo Horizonte no final de semana. Pároco na Igreja São José, no voo para Confins, sentou-se ao lado do ministro Patrus Ananias. Folheando os jornais do dia, perguntou a Patrus: - Ministro, e o Sarney, como vai ficar aquilo? Patrus respondeu: - Já chega, aquilo já passou do limite.

Mas o pior padre é a gente não conseguir retirar os prefeitos, vereadores, líderes comunitários que desviam verbas do Bolsa Família. Hoje, de 10 a 12% das verbas do Programa são desviadas em seu destino, infelizmente... Desolado, desabafou o ministro, enquanto padre Dalton mirava o infinito, buscando um sopro de Deus por sobre as nuvens de nossa pobre e podre vida diária.

Ao que se vê, o Brasil inteiro se tornou aluno de Sarney. Não que Sarney tenha inventado a politicagem, o nepotismo, o patronato, o compadrio, a canalização das verbas federais. Talvez tenha, com esmero de escritor, aprimorado, ao longo de décadas de desmandos e improbidades. Ao largo de seus mandatos, a crescente e complacente colônia de áulicos acocorados em seus muitos castelos. Isso tudo, realizado em plena luz do dia, bem no centro do Brasil, dentro da sede do poder, ao lado do Supremo, da Polícia Federal, do Ministério Público, do TSE. Por certo, acreditando que estava tudo dominado, como sempre esteve.

Para Sarney, o poder gira ao redor de seu umbigo, de onde ele alimenta filhos, genros, noras, netos e quem mais chegar. É a umbilicalização do poder, a perenização da hereditariedade, um retrocesso histórico, político, cultural e social em nosso país, nos conduzindo a alguns séculos de decepções e atrasos. Sarney escreveu, em vida, uma epopéia ao avesso, um verdadeiro romance anacrônico e despudorado. Só o tempo para livrar o país de seus joios enraizados, só os séculos para dar ao Maranhão a liberdade sonhada.

Alunos da mesma escola, Lula e o PT vão asfaltando o caminho que imaginam seguir distante, com anos de poder e glórias. No Tribunal Superior Eleitoral, além dos três ministro que estão lá, Lula dá um tampinha nas costas de outros, enquanto as verbas do PAC financiam um novo programa eleitoral e novas campanhas. E todos nós assistimos calados a sarneylização do governo petista, como uma erva daninha que se alastra país afora e inebria a todos com o gosto alucinante do poder.

Fizeram do Brasil, um imenso Maranhão. Esse é o país que eles alugaram, esse é o povo que eles sufocaram, essa é a esperança que eles nos legaram. Um Brasil vencido, rendido, traído e dominado.

Sinais de melhoras, nenhum. Sinais de mudança, nenhum. Sinais de um novo tempo, muito menos. Enquanto isso, amamentados pela sede e fome de poder, os despudorados se agarram aos cargos, concorrências e comissões, sugando da pátria falida a sua última gota de dignidade, honestidade e vergonha.

Petrônio Souza Gonçalves é jornalista e escritor

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