Jornalistas sofrem com perseguição e assassinatos no México

No dia 31 de julho último, o fotojornalista mexicano da AVC Noticias e colaborador da revista Proceso, Rubén Espinosa, e a defensora dos direitos humanos Nadia Vera foram assassinados na Cidade do México juntamente com outras três mulheres, duas estilistas e uma trabalhadora doméstica.

Manifestação para sejam punidos os responsáveis pelo assassinato do fotojornalista Rubén Espinosa.Manifestação para sejam punidos os responsáveis pelo assassinato do fotojornalista Rubén Espinosa. Mesmo que a investigação especial, aberta no dia 2 de agosto pela Procuradoria Geral da República (PGR), ainda não revelou o motivo destes assassinatos, familiares de Espinosa assinalam que a vítima havia recebido chamadas de ameaça relacionadas com seu trabalho há dois meses. Como medida de proteção, Espinosa decidiu abandonar o sul-oriental Estado de Veracruz, onde trabalhava, e estabelecer-se na Cidade do México. Vera também esteve presente em recentes manifestações em defensa dos direitos humanos, em Veracruz.

O promotor Rodolfo Ríos informou em entrevista coletiva que cada uma das cinco vítimas apresentava "uma ferida na cabeça, produzida por disparo de arma de fogo”, bem como "escoriações em diversas partes do corpo, supostamente originadas por resistência”.

No último dia 10 de agosto, o chefe de Governo da Cidade do México, Miguel Ángel Espinoza, anunciou a aprovação da Lei de Proteção a Pessoas Defensoras de Direitos Humanos e Jornalistas do Distrito Federal, que cria o chamado "Mecanismo de Proteção Integral de Pessoas Defensoras de Direitos Humanos e Jornalistas do Distrito Federal”, cujo objetivo é "proteger, respeitar e garantir os direitos humanos das pessoas que se encontram em situação de risco, como consequência da defesa ou promoção dos direitos humanos e do exercício da liberdade de expressão e do jornalismo no Distrito Federal; assim como fomentar as políticas públicas, capacitação e coordenação na matéria, para prevenir ações que vulnerem tais direitos”.

Veracruz é considerado um dos estados mais violentos do país e o mais perigoso para o exercício da imprensa. Desde 2011, 16 jornalistas foram assassinados em Veracruz por realizarem seu trabalho. O mais recente foi Juan Heriberto Santos, um ex-correspondente, nessa zona, do poderoso grupo Televisa, no último dia 13 de agosto. Além disso, no ano passado, foram registrados nesse estado 1.130 homicídios, 157 sequestros e 244 extorsões, de acordo com estatísticas da Secretaria de Governo.

Espinosa dava uma ampla cobertura às manifestações em Veracruz, que exigiam o esclarecimento dos assassinatos de jornalistas. Centenas de pessoas se congregaram em distintas cidades do país, incluindo a Cidade do México, para protestar contra o clima de violência e insegurança que vive o país. Cristina Guerrero, uma jornalista que participou das manifestações, disse que "os jornalistas que não estão vendidos são mortos, desaparecem”.

Motivação política

Em entrevistas televisivas, tanto Espinosa como Vera haviam responsabilizado o governador de Veracruz, Javier Duarte, se algo lhes ocorresse. Duarte negou qualquer vinculação com o crime. "Deixo claro que me desvinculo totalmente dos acontecimentos ocorridos em 31 de julho, na Cidade do México”, disse em um comunicado.

Organizações internacionais e da sociedade civil reclamam acelerar e aprofundar as investigações sobre a possível motivação política dos assassinatos. Desde 2000, a Promotoria Especial para a Atenção a Delitos Cometidos contra a Liberdade de Expressão, da PGR (Procuradoria Geral da República), registrou, em todo o país, 103 assassinatos de repórteres e jornalistas, oito somente em 2015.

"Com o nível de violência contra jornalistas no México aumentando a um ritmo alarmante, esperamos que este caso não se converta no último exemplo da impunidade generalizada que prevalece no México, que, no caso de jornalistas, é de 90%”, declarou em um comunicado, no último dia 04 de agosto, Carlos Ponce, diretor do programa da América Latina da Freedom House, organização defensora da liberdade de expressão, com sede em Washington, Estados Unidos.

A organização internacional Artigo 19, também defensora da liberdade de expressão, denuncia por muito tempo a situação de vulnerabilidade na qual trabalham os jornalistas em Veracruz. "O problema de fundo é a impunidade. Se não se punem os casos, o que se está dizendo é que os ataques estão permitidos”, disse Jesús Robles, advogado da Artigo 19 em declarações colhidas pela imprensa. "A maior parte das investigações sobre a morte dos jornalistas em Veracruz continua abierta”.

A governamental Comissão Nacional de Direitos Humanos exigiu, por sua parte, que a linha de investigação sobre a morte de Espinosa se relacione "com o trabalho jornalístico do repórter fotográfico” e demandou às autoridades "medidas de proteção urgentes”, especialmente para os familiares das vítimas. As primeiras pesquisas apontavam para um homicídio perpetrado pelo crime organizado.

Pedro Matías, correspondente da revista Proceso, em Oaxaca, declarou que os jornalistas "estamos cansados de que continuamos sendo objetos de agressões, já que, para as autoridades, só existimos no momento de enviar as notícias”.

Fonte: Adital

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Foto: Reprodução

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