Obama discursa em academia militar sobre política externa expansiva

O presidente estadundidense Barack Obama discursou sobre as "novas diretrizes" da sua política externa, nesta quarta-feira (28), na Academia Militar dos Estados Unidos em West Point, Nova York. Como em discursos recentes sobre o rumo do país no âmbito internacional, Obama mostrou seguir os passos já demarcados pelo imperialismo tradicional determinando uma "necessidade" de os EUA manterem a "liderança global" a todo custo. 

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho

 

"Pensem nisso. Nosso Exército não tem igual. A probabilidade de uma ameaça direta contra nós por qualquer país é baixa, e não chega perto dos perigos que enfrentamos durante a Guerra Fria," disse Obama.

Dirigindo-se aos graduandos na Academia Militar, Obama disse: "Este é um momento propício para a América [os EUA] refletir sobre aqueles que sacrificaram tanto pela nossa liberdade, poucos dias depois do Dia do Memorial. Vocês são a primeira classe a se formar, desde o 11 de Setembro, que pode não ser enviada para o combate no Iraque ou no Afeganistão."

Cabe lembrar, na perspectiva do que significa esse valor para o governo estadunidense, que a invasão do Afeganistão, em 2001, foi denominada exatamente Operação Liberdade Duradoura, sob o guarda-chuva da chamada Guerra Global contra o Terror. Este é um termo midiático que permitiu à comunicação internacional e aos líderes políticos a invenção e a reciclagem de diversos mecanismos jornalísticos-discursivos, com o objetivo de legitimar a investida militar dos EUA pelo mundo. 

Relatórios de várias organizações que monitoram as guerras dos EUA contra estes países indicam que, além do dano vasto aos territórios que invadiu e ocupou desde 2001 e do impacto que a presença militar estadunidense tem causado, 2.178 soldados norte-americanos morreram no Afeganistão entre 2001 e abril de 2014 (cerca de 20 mil civis afegãos foram mortos no mesmo período) e 4.468 morreram entre 2003 e 2012 no Iraque (enquanto 170 mil a 190 mil iraquianos morreram, dos quais 134 mil eram civis, até 2013, segundo o projeto Custos da Guerra). 

Em termos mais abrangentes, a alegada redefinição da política externa norte-americana, que vem sendo analisada amplamente, causou a reação de diversos acadêmicos em um aparato de sustentação desta ideia de projeção e manutenção da hegemonia dos EUA. No caso do Instituto Brookings, um atuante "think tank" estadunidense, Bill Galston criticou a falta de atenção de Obama à China, que tem sido pensada, por estes acadêmicos, em termos de "ameaça" recém-emergida aos "interesses dos Estados Unidos". 

Já Michael O'Hanlon, apesar de criticar o que considerou um "ponto vago" de Obama sobre por que motivo os EUA "não podem usar a força [militar] para cada um dos casos no mundo" - em referência específica à Ucrânia e ao Irã -, ressaltou como "a melhor nova ideia" o anúncio do presidente sobre um fundo de US$ 5 bilhões para o "treinamento contraterrorista" no Oriente Médio, justo quando denúncias e evidências têm sido cada vez mais frequentes sobre o apoio das potências ocidentais, especialmente dos EUA, a grupos extremistas que têm atuado na Síria, no Líbano e no próprio Iraque.

A "eficiência" da ingerência dos EUA


Além disso, o financiamento da formação contraterrorista também é anunciado na corrente do debate sobre a redução da despesa militar dos Estados Unidos, quando grande parte dos defensores do corte promove a busca por uma maior "eficiência" da atuação militarista norte-americana pelo mundo. Para começar, os "especialistas" deveriam debater, ainda na tendência quase comercial da sua abordagem, como cortar esforços duplos - o de financiamento a grupos extremistas e, depois, a contraterroristas.

Isto porque o debate sobre o necessário "retraimento" - ou, mais especificamente, o abandono da política intervencionista a escala global - foi enfaticamente rechaçado no interior do governo Obama, inclusive pelo secretário de Estado norte-americano, John Kerry, como posição"de nação pobre".

Obama lembrou que, da primeira vez que discursou em West Point, em 2009, os EUA ainda mantinham uma força de mais de 100 mil sodados no Iraque e preparavam-se para aumentar sua presença no Afeganistão, em um contexto global marcado pela explosão da crise econômica e financeira, em 2007-2008. Desde então, milhões de estadunidenses passaram ao desemprego e o empobrecimento foi acelerado, assim como em sua aliada Europa, onde a elite continuou enriquecendo. 

Mesmo assim, em resposta arrogante aos que observam um declínio relativo dos EUA, Obama diz que o país continua sendo o mais forte, em comparação com o resto do mundo. Para ele, os que dizem o contrário "estão lendo incorretamente a história ou engajados em política tendenciosa." E continua: "Pensem nisso. Nosso Exército não tem igual. A probabilidade de uma ameaça direta contra nós por qualquer país é baixa, e não chega perto dos perigos que enfrentamos durante a Guerra Fria."

"Da Europa à Ásia, nós somos o centro de alianças incomparáveis na história das nações," disse ele. Depois das descrições, porém, de um mundo que evolui rapidamente, Obama chega ao cerne anunciado. "Este é o meu ponto central: A América [Estados Unidos] deve sempre liderar no cenário mundial. Se não o fizermos, ninguém mais o fará. O Exército ao qual vocês acabaram de se juntar", continua, dirigindo-se aos graduandos, "é a medula desta liderança." 

Ainda que Obama tenha feito uma breve ressalva sobre a importância de outros "componentes" dessa "liderança", a centralidade da ameaça militarista e da capacidade de intervenções, invasões e agressões, como vistas em histórias demasiado recentes, não apresentou qualquer "novidade na política externa" dos Estados Unidos. 

Susan Walsh / AP Photo

 

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