Pesquisa e tecnologia

Um estudo preparado por técnicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) explica com números aquilo que já se sabia de antemão: é o alto investimento em pesquisa e tecnologia que tem impulsionado o crescimento das vendas de produtos de média e alta tecnologia pela China.

Milton Lourenço (*)

Um estudo preparado por técnicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) explica com números aquilo que já se sabia de antemão: é o alto investimento em pesquisa e tecnologia que tem impulsionado o crescimento das vendas de produtos de média e alta tecnologia pela China. Em contrapartida, é o baixo investimento feito pelo Brasil no mesmo setor que explica por que as exportações brasileiras no segmento respondem por apenas 5,4% das vendas do País, segundo dados de 2008. Só para comparar: naquele mesmo ano, esses produtos (químicos, máquinas e carros) responderam por 22,5% das vendas externas da China.

Já se foi o tempo em que se dizia que bastava ser chinês para que o produto não prestasse, embora ainda hoje seja possível encontrar itens de baixa tecnologia oriundos daquele país – especialmente aqueles vendidos em lojas de R$ 1,99 – que, às vezes, apresentam riscos à saúde do consumidor. Hoje, segundo o levantamento da Fiesp, as exportações de produtos de média e alta tecnologia pela China quase equivalem às vendas de mercadorias de baixa tecnologia, que são as mais visíveis aos olhos do consumidor, o que explica, de certa maneira, a manutenção do preconceito.

O resultado dos investimentos feitos pelos chineses em pesquisa e tecnologia é facilmente constatado no ritmo do seu crescimento: em 2008, a taxa de investimentos da China em todos os tipos de produtos chegou a 40,9% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto no Brasil ficou ao redor de 19%. Mas há outras discrepâncias brutais apontadas pelo estudo da Fiesp, mesmo levando em conta peculiaridades como diferenças populacionais ou o PIB de cada país: na China, há 4,6 engenheiros para cada grupo de 10 mil habitantes, o que equivale a dizer que 40% dos 600 mil formandos do país optam por engenharia, enquanto no Brasil apenas 8% dos 30 mil formandos se dedicam a essa área, o que representa 1,6 engenheiros para cada grupo de 10 mil habitantes.

Além disso, desde que a China começou a se abrir para o mundo, centenas de empresas multinacionais abriram unidades no país com a obrigação de transferir também tecnologia. E o fizeram atraídas pelo baixo custo da mão-de-obra, carga tributária baixa, câmbio estável e facilidade para investimentos em pesquisa e tecnologia. Segundo números do levantamento da Fiesp, a participação chinesa nas exportações globais saiu de 7,5% em 1997 para 12,3% em 2008, enquanto, no mesmo período, a fatia do Brasil no comércio mundial subiu apenas de 1,08% para 1,36%.

Ora, isso se deu porque o Brasil fez exatamente o contrário da China. Depois de oito anos de mandato e mesmo com os altos índices de popularidade do mandatário-chefe, o atual governo manteve a ferro e fogo uma carga tributária escorchante, vital para manter a sua estratégia de sobrevivência política que passa pelo inchaço da esclerosada máquina pública, com a contratação desnecessária de milhares de servidores.

Basta recorrer ao estudo da Fiesp e fazer a comparação: na China, a carga tributária representava 18,3% do PIB em 2003, enquanto no Brasil chegava a 35,8% naquele mesmo ano, sem sinais de que tenha decrescido nos últimos 18 meses. Mesmo assim, o atual governo decidiu que a crucial questão da reforma tributária ficará para o detentor do próximo mandato, ainda que as condições macroeconômicas do País tenham melhorado nos últimos anos.

Tudo isso explica por que, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), a China comprou, até abril de 2010, US$ 2,5 bilhões do Brasil, superando os EUA, antigo principal parceiro, que importaram US$ 1,6 bilhão de itens nacionais. Entre os destaques das vendas aos asiáticos estão soja em grão, petróleo bruto, celulose e minério de ferro, embora também se incluam exportações de aviões, máquinas e equipamentos.

Se o Brasil tivesse oferecido mais facilidades para investimentos em pesquisa e tecnologia e carga tributária mais baixa, com certeza, a sua indústria de eletroeletrônicos, por exemplo, não estaria passando pelas atuais dificuldades, deixando de fabricar e empregar para importar produtos prontos, sobretudo do Leste asiático. Pelo contrário, poderia estar vendendo a China mais produtos sofisticados, que geram maior riqueza, seja pela qualificação da mão-de-obra, seja pelo aumento do valor agregado. Além disso, a balança comercial entre os dois países estaria mais próxima de um ponto de equilíbrio.

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(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: [email protected] Site: www.fiorde.com.br

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