Um mundo de coisas

Ana Carolina de M. Uva*

Marcus Eduardo de Oliveira**

Foi a partir da Revolução Industrial (meados do século XVIII) que a produção de mercadorias em larga escala avançou consideravelmente, possibilitando, tempos depois, a criação de um mercado de consumo de massa. Isso foi, sem dúvida, a senha para que o capitalismo, com astúcia ímpar, lançasse mão de armadilhas que cegaram a humanidade no objetivo de acumular riquezas. O sucesso desse artifício foi tão intenso que, quase três séculos depois, a economia dos dias de hoje continua ignorando o ser humano e centrando-se, apenas, na acumulação material como sinônimo, único e exclusivo, de bem-estar e progresso.

Não por acaso, a sanha capitalista dos dias que correm pode ser expressa no sentido de que tal projeto de vida baseia-se no “ter” e, não no “ser”. Eis porque a lógica da economia está voltada para o mercado, sem nenhuma preocupação com as questões sociais. Desde as primeiras horas de existência desse mercado consumidor, nos venderam a idéia de que bastava adquirir qualquer coisa material para o sucesso e a felicidade bater à nossa porta.

No entanto, como a história é obra dos que olham o porvir sob dois sentimentos, um de sonhar e outro de viver, determinadas atitudes, principalmente daqueles que carregam consigo os princípios do bom senso merecem destaque.

Uma dessas atitudes está em projetos que visam escancarar a verdade dos fatos, desnudando a realidade de um mercado que somente sobrevive em nome do consumo conspícuo (supérfluo). Vide a esse respeito o projeto “The Story of Stuff”, (A História das Coisas) que pode ser consultado pelo site www.storyofstuff.com.

Por meio da divulgação de vídeos, tal projeto evidencia como adquirimos, ao longo do tempo, determinadas mercadorias que, pretensamente, atenderá todas as nossas necessidades. Conquanto, trata-se de necessidades puramente artificiais. Com isso, sem nos darmos conta, mergulhamos de cabeça nesse “mundo das coisas” e nos tornamos, por conseguintes, dependentes de um sistema insustentável. Aos poucos nos tornamos presas fáceis desse mecanismo que nos empurra tudo, a qualquer preço. Assim, fazemos a lógica do mercado que faz com que o consumo consuma o consumidor.

Pouco importa se há reclamações aqui, ali e acolá de que tal prática de consumo voraz irá desequilibrar o meio ambiente. O que de fato importa a esse sistema tacanho é vender, vender e vender. Para esse sistema, a felicidade então repousa suave e sensivelmente no ato de ter, não no de ser, conforme aventamos acima.

Ora, isso fere brutalmente a qualidade de vida. Não são as possibilidades ilimitadas de consumo que nos fará viver melhor. Até mesmo porque, bem-estar não repousa na quantidade, mas sim na qualidade. Bem-estar significa, na essência, habitar um mundo melhor agora e no amanhã. Significa fazer do presente um bom lugar para se morar, com clima equilibrado, com justiça social, com soberania, com condições dignas.

À nossa geração cabe, definitivamente, empreender esforços para construir esse mundo melhor. Na prática, um mundo onde todos possam ganhar, priorizando o desenvolvimento econômico, visto que isso não se trata de jogo de soma zero, em que os ganhos de uns significa a perda de outros.

Definitivamente, não é o consumo de bugigangas diversas que nos possibilitará habitar esse desejado mundo melhor. O projeto “A História das Coisas” tenta incutir essa idéia.

De nossa parte, para finalizar, cumpre dizer que se o mercado voraz de consumo está fracassando, e isso nos parece evidente, cabe a todos nós buscarmos reverter à história que tem sido contada até agora. Afinal, nunca é tarde para isso.

(*) Ana Carolina de M. Uva, aluna do curso de Comércio Exterior e Negócios Internacionais é membro do Grupo de Estudos de Comércio Exterior do UNIFIEO- GECEU.

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(**) Marcus Eduardo de Oliveira é economista, mestre pela USP, professor da FAC-FITO e do UNIFIEO. É membro do GECEU.

[email protected]

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