Mais do mesmo…

Somos do tempo em que se ensinava aos filhos a necessidade de se poupar. Diziam os nossos pais que a cada cem escudos, devíamos economizar pelo menos dez. E evitar de todo compras a prestações. Só comprávamos um electrodoméstico, quando tínhamos a totalidade do dinheiro. A telefonia e, mais tarde, a televisão, que custavam vários salários, eram adquiridas após meses de poupança. Entrar num banco e pedir crédito para consumo doméstico era praticamente um anátema… O gerente certamente levantaria o sobrolho com ar de censura e pronunciava um não suficientemente audível a mais de cinco metros… A banca não estava ali para atender caprichos pequenos burgueses, mas servir os patrões da indústria, afinal também banqueiros, através da captação da pequena poupança, que era bem vinda. Estimulava-se pois o aforro familiar.

Por outro lado, naquele tempo o dinheiro tinha valor intrínseco, graças ao seu lastro em ouro, além da chancela da Casa da Moeda. O Estado Português emitia o seu próprio dinheiro, não precisava de dar cavaco a ninguém. Graças às reservas de ouro depositadas no Banco de Portugal, o Escudo chegou a ser a 3ª. moeda mais forte do mundo, a seguir à libra e ao dólar. Hoje, não só não temos o Escudo, como a quantidade de ouro em depósito já não é a mesma. O nobre metal tem sido delapidado à revelia do conhecimento geral do país. Aliás até mesmo o seu guardião, o banco, de Portugal apenas tem o nome… não passando de uma pequena sucursal do BCE, completamente desvinculado da tutela do Governo Português, que apenas, simbolicamente, nomeia o seu governador. Hoje, qualquer governo da União Europeia se quiser dinheiro, vai à banca como qualquer cliente que precisa de um empréstimo bancário, sujeitando-se às mesmas regras, além de carecer de uma autorização do BCE. Daí o PEC (Pacto de Estabilidade e Crescimento) com as suas exigências de disciplina orçamental. O papel dos Bancos e do Estado, com esta Globalização, feita à medida dos grandes interesses internacionais, inverteu-se e os governos nacionais perderam a autonomia financeira, além de outras…

Ao não se acautelar o controle da moeda nacional, as opções de integração económica permitiram a transferência para organismos supranacionais de importantes parcelas do poder financeiro e económico, o que, num país com a nossa dimensão e sem recursos endógenos, significa a prazo a perda total da sua autonomia política e económica, com os resultados sociais dramáticos que se avizinham. Pelo contrário, se se tratasse de um país de grande dimensão, em que a sua economia é automaticamente estruturante para os demais parceiros, a conversa seria outra… São os grandes que impõem as regras aos pequenos e estes não têm outro remédio senão dizerem amem… Por isso vemos com desconfiança os Tratados que procuram aparentemente estabelecer normas iguais para todos e para tudo, mas que a História nos diz que apenas servem para satisfazer os grandes interesses. Maior ainda é a nossa desconfiança quando os mesmos são convencionados longe das vistas dos cidadãos, ainda que se apregoe insistentemente numa Europa dos Cidadãos.

Os últimos desenvolvimentos internacionais para superar a Crise Financeira, mostram isso mesmo. No caso da União Europeia, as propostas de restauração do sistema, pois é disso que se trata, mais do mesmo… foram “cozinhadas” entre os grandes e depois apresentadas como factos consumados aos mais pequenos ou sem influência económica estruturante, que as ratificaram sem tossir, nem mugir… O governo português foi um deles. Há nesta metodologia de trabalho, muito por obra e graça do Senhor Nicolas Sarkozi, actual Presidente da União Europeia, uma tentativa de estabelecer uma Europa tutelada por um Directório, onde só tem assento as potências económicas europeias: Alemanha, França, Reino Unido, Itália e pouco mais, num ensaio, aliás, daquilo que o Tratado de Lisboa prevê em matéria do ordenamento institucional. É também significativo que antes da mini-cimeira europeia, de 4 de Outubro de 2008, o Presidente Francês e o Presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, tiveram um encontro em Camp David com o Presidente George Bush, onde terão acertado agulhas quanto à estratégia a seguir. Contudo o que transpareceu na mídia foi uma aparente divergência quanto à necessidade de uma supervisão e regulação do mercado financeiro por uma entidade internacional. Enquanto os dirigentes europeus reclamam uma nova “Ordem Financeira Mundial”, a Administração Estadunidense nem tanto… Bush foi a esse respeito lapidar ao declarar que “…é essencial preservar a fundação do “Capitalismo Democrático” (Como são hábeis na retórica…) e que nos empenhemos nos mercados livres, na livre iniciativa e no comércio livre…” Ora, o que nos trouxe até aqui foi precisamente esse “Laissez faire, laissez aller, laissez passer” irrestrito para o Grande Capital, que numa Economia Globalizada, não apenas não respeita as especificidades e necessidades dos povos, como os reduz tendencialmente à miséria, por maiores que sejam os votos no desenvolvimento.

Testas-de-ferro da Oligarquia Mundial preparam-se para manter o sistema tal como está. A mudança será apenas de cosmética, como convém… O negócio dos bancos é emprestar dinheiro e os consumidores, sobretudos os compulsivos, são os seus potenciais clientes. É mais vantajoso para o sistema dar dinheiro dos contribuintes aos bancos falidos, para continuarem a especulação financeira, do que criar linhas de financiamento de baixo juro, comparticipado pelo Estado, para apoiar pequenas e médias empresas e famílias em dificuldades financeiras. O cidadão não tem outro jeito senão voltar ao antigamente. Só comprar o indispensável, se não quiser cair na cadeia do endividamento sistemático até ao caixão… continuando os seus descendentes, até à 5ª. geração, com o ónus do remanescente da dívida. Já houve quem o dissesse.

Artur Rosa Teixeira

(Pensionista)

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