Pauperismo papal, lucro dilmista

Tão logo anunciado como novo Sumo Pontífice da Igreja Católica, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio dispensou a presença de monarcas, chefes de Estado e suas comitivas na cerimônia de entronização, realizada no último dia 19 de março de 2013.

HELDER CALDEIRA*

Revelado arauto do pauperismo (modista e marqueteiro... ou não!), o Papa Francisco pediu que, ao invés de comparecer à sua coroação, as autoridades deveriam orar por ele em seus países e doar aos menos favorecidos todo dinheiro que seria gasto com a viagem. Por óbvio, ninguém atendeu ao apelo do jesuíta e milhões de Euros foram consumidos para que nobres excelências pudessem entrar na fila santa do "beija-mão".

Autoridades políticas (como Sua Santidade o é, desde a eleição) tem plena convicção de que o discurso do pauperismo tornou-se, ao longo dos últimos dois milênios, um extraordinário instrumento de suposta boa popularidade. Ademais, o perfil político-salvacionista de pobres e oprimidos tornou-se um verdadeiro "sucesso de bilheteria" na América Latina. Um rápido olhar sobre a extrema popularidade das gestões do falecido comandante Hugo Chávez, na Venezuela, e do ex-presidente Lula da Silva, no Brasil, e a afirmação a seguir faz-se clara e límpida: o povo aceita, silenciosa e candidamente, um governo com farta corrupção e esquizofrenia democrática e institucional, desde que este deposite uns trocadinhos gratuitos a título de assistencialismo pedestre e para abafar a miséria múltipla deste canto do Hemisfério Sul.

Ainda que o Papa Francisco tenha as melhores intenções ao se tornar o "garoto-propaganda" do pauperismo latino-americano (bastante adequado em tempos de monstruosa crise mundial e esfacelamento social e financeiro da Europa), a mensura do pontífice é tomada pelas autoridades internacionais com base em suas próprias réguas discursivas, na maioria das vezes falaciosas. Não por acaso, centenas de líderes foram ao Vaticano e enfrentaram a longa fila, sôfregos por beijar a mão do novo Papa e garantir algumas fotos de divulgação para estampar os jornais de seus países. Clássico.

Justo por isso, não foi surpresa a denúncia feita pela imprensa brasileira com as dimensões da comitiva oficial da presidente Dilma Rousseff e seus suntuosos gastos durante estada em Roma para ver o Papa. Além da excelentíssima e seu staff, outros quatro ministros embarcaram na estratégica jornada dos "papagaios de pirata". O "elefante branco" era tão grande que, entre os dias 16 e 20 de março, foram consumidos 52 quartos em hotéis cinco estrelas, 07 veículos sedan executivos, 01 carro blindado de luxo, 04 vans executivas, 01 micro-ônibus, 01 veículo para os seguranças, 02 furgões e até 01 caminhão baú. Somaram-se profissionais de segurança, cerimonial, comunicação, tradução, saúde, etc. Apenas com a hospedagem, a comitiva de Dilma gastou R$ 324 mil. Sem falar que, para os cinco dias na Itália, cada membro recebeu o total de quase R$ 5 mil a título de diárias para viagens internacionais. Estima-se que o passeio tenha custado quase R$ 2 milhões.

É certo que a presidente Dilma Rousseff não mencionou esses gastos astronômicos e irresponsáveis do dinheiro público brasileiro em sua audiência "privê" com o Papa Francisco. Tampouco explicou porque a comitiva presidencial dispensou a costumeira e gratuita hospedagem no palacete que serve de sede à Embaixada do Brasil em Roma e preferiu um luxuoso hotel na Via Veneto, um dos endereços mais sofisticados da Itália. Aliás, só em 2014 o "respeitável público" ficará sabendo o que Aloizio Mercadante foi fazer na posse do Papa. Levar consigo o ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, e a ministra da Secretaria de Comunicação Social, Helena Chagas, é até compreensível. Em última instância, é possível argumentar a favor da ida do ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da República. Mas, o que justifica o passeio do ministro da Educação? Ou Mercadante foi discutir com Francisco a sintaxe do miojo numa redação aprovadíssima pelo ENEM ou estamos diante de um pré-candidato petista ao governo de São Paulo.

Noves fora, a ascensão do Papa Francisco renderá bons lucros à tentativa de reeleição da presidente Dilma Rousseff. Apesar dos quase 80% de aprovação ao seu governo, ainda não há tranquilidade na cúpula petista. Sobram fantasmas a assombrar os vastos meses que restam até as eleições de 2014. Ironia celestial, o pauperismo defendido por Bergoglio cai bem ao discurso de pseudoassistencialismo do PT e seus asseclas que adoram suítes de luxo e contas bancárias recheada ("por fora", fique claro!). Que ninguém se surpreenda ao ver as imagens de Dilma e Francisco, juntos, estampadas no programa eleitoral do ano que vem, de olho nos sagrados votos dos pobres e oprimidos. No Brasil do século XXI, pauperismo papal é lucro dilmista e "amém" aos dividendos políticos.

 

Escritor, Jornalista Político e Apresentador de TV

www.ipolitica.com.br - [email protected]

*Autor dos best-sellers "ÁGUAS TURVAS" e "A 1ª PRESIDENTA".

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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