Bélgica: encontro de solidariedade e debate sobre a Venezuela

Sob o título "O Que Está Realmente a Acontecer na Venezuela" decorreu em Bruxelas um encontro que contou com a presença de 85 pessoas, apesar das várias ameaças por parte de apoiantes da oposição venezuelana em perturbar o evento. O encontro encontrou-se inserido no mais recente "Jeudi du Marxism", em evento organizado mensalmente em Bruxelas pela secção local da Tendência Marxista Internacional e que, desta vez, contou com a organização conjunta da campanha Tirem As Mãos Da Venezuela! 

Para responder às questões acerca do activismo violento que tem sido extremamente mediatizado pela comunicação social de massas, foram convidados três oradores: Ronnie Ramirez, cineasta chileno a residir actualmente na Bélgica e que costumava trabalhar frequentemente na Venezuela; Erik Demeester, activista da campanha de solidariedade internacional Tirem As Mãos Da Venezuela! e Luis Vargas, membro da Juventude dos Trabalhadores Cristãos da Venezuela.

À semelhança de eventos ocorridos em Espanha, na Alemanha e no Reino Unido, foram várias as ameaças de violência recebidas por parte de apoiantes da oposição venezuelana, que iniciou há meses uma campanha internacional de "caça ao homem" visando familiares de políticos bolivarianos, apoiantes do governo venezuelano e inclusivamente meros funcionários e familiares de trabalhadores das embaixadas e consulados venezuelanos no estrangeiro, algo que tem contado com o repúdio inclusivamente de sectores mais moderados da oposição, embora minoritários. 

Recorde-se que também em Portugal já decorreram também protestos e tentativas de intimidação junto das instalações da Embaixada da República Bolivariana da Venezuela em Lisboa e ao Consulado da República Bolivariana da Venezuela no Funchal, arquipélago da Madeira. 

A organização achou que a melhor defesa seria publicitar o mais possível o encontro e optou por pendurar centenas de cartazes em Bruxelas a anunciar o evento e publicitá-lo amplamente nas redes sociais. A Tirem As Mãos Da Venezuela! e a Tendência Internacional Marxista conseguiram também reunir 20 voluntários dispostos a defender o encontro na eventualidade de um ataque, e um grupo Antifa de Bruxelas afirmou estar disponível para aparecer em caso de ataque às instalações, o que acabou por não ser necessário uma vez que o evento decorreu sem qualquer incidente. 

A polícia foi alertada para a possibilidade de haver uma manifestação de protesto por parte de activistas hostis ao governo venezuelano e a organização na sua convocatória abriu a porta ao diálogo, afirmando que caso algum membro da oposição quisesse tomar a palavra a mesma não lhe seria negada, desde que não tentassem sabotar o encontro. Apesar de vários apelos nas redes sociais por parte da oposição para que fosse organizado um protesto e das ameaças recebidas pela organização, não houve qualquer manifestação ou protesto. Embora não estivesse agendada a sua presença, os embaixadores da República Bolivariana da Venezuela e da República de Cuba na Bélgica decidiram surpreender os conferencistas com a sua presença e solidariedade.

Erik Demeester, coordenador belga da Tirem As Mãos Da Venezuela! apresentou uma perspectiva global acerca do que está a acontecer na Venezuela, alertando que "se trata de uma tentativa sustentada e coordenada para derrubar um governo democraticamente eleito e o seu presidente. Contam com a ajuda da oligarquia local e do imperialismo. Não nos podemos manter neutros... e em simultâneo devemos levar a cabo uma análise crítica do desenvolvimento das políticas do governo. Fazer concessões à classe capitalista não a irá acalmar. No seio do movimento popular há uma exigência cada vez maior para a radicalização da revolução ou esta acabará por morrer." A Tirem As Mãos Da Venezuela! tem defendido reiteradamente que a sua defesa incondicional da revolução bolivariana contra os ataques das forças imperialistas e de direita não a isentam de se solidarizar de modo crítico para com o governo.

Ronnie Ramirez analisou o papel dos truques utilizados pela comunicação social de massas para obscurecer a revolução, tendo dado vários exemplos práticos de manipulação mediática e desmistificado algumas mentiras e distorções que têm sido publicadas como facto na imprensa belga e internacional, quando na realidade são mero fruto da propaganda da oposição. Explicou também que apesar da crença disseminada no exterior, a verdade é que a maior parte dos órgãos de comunicação social na Venezuela ainda se encontram sob o controlo do sector privado e que a imprensa alternativa de âmbito comunitário é quem está a tentar contrapor esse monopólio. 

Luis Vargas, da Juventude dos Trabalhadores Católicos da Venezuela, defendeu, antes de mais, a revolução e as suas conquistas. "Não vou negar que há uma situação social e económica desesperante, mas rejeito a explicação da direita para essa mesma crise", defendeu. Foi a primeira vez que muitos simpatizantes bolivarianos europeus puderam contactar directamente com alguém que tem estado no terreno na Venezuela, tendo o mesmo explicado que existem muitas contradições entre os vários sectores bolivarianos quando à necessidade de uma radicalização da revolução bolivariana. "As eleições para a criação de uma nova Assembleia Constituinte são uma oportunidade para o movimento popular mas também podem ter os mesmos resultados do passado, em que os burocratas acabam por tomar conta do processo."

 

No final o embaixador da República Bolivariana da Venezuela em Bruxelas tomou a palavra e levou a cabo a defesa do governo e do presidente contra os ataques a que têm sido sujeitos. Estiveram também presentes e colocaram algumas questões um pequeno número de opositores. Espera-se que este evento dê um novo ímpeto mobilizador ao movimento de solidariedade bolivariana na Bélgica.

Flávio Gonçalves

Pravda.ru

Foto: Tiremasmaosdavenezuela.com

 

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