Iraque: 5 anos depois, sem fim à vista

Quando um bando incompetente de elitistas corporativos toma o poder numa nação bem sucedida e poderosa, é o pior pesadelo de todos, como um touro enfurecido numa loja de porcelana. Cinco anos depois do lançamento de uma das quebras mais flagrantes de sempre da lei internacional, o governo dos Estados Unidos da América continua a saudar a sua vitória. A verdade nua, no entanto, é que cinco anos depois, não há fim à vista.

Há precisamente cinco anos, esta coluna foi escrita com um sentido de presságio, tristeza e uma aceitação sombria e reluctante de que o regime de Bush tinha feito dos Estados Unidos de América o pária da comunidade internacional. Com o decorrer do tempo, e quando ficava evidente que as previsões aqui feitas não só eram correctas mas sim, dolorosamente próximas da verdade, aumentaram as perdas humanas (militares e civis) e a tragédia se desenvolveu perante os nossos olhos.

Seriam recebidos como heróis, diziam. As pessoas saudá-los-iam com os braços abertos. E com flores. Um novo governo democrático seria colocado no poder numa onda de euforia popular e a população inteira do Iraque elevar-se-ia, colocaria as suas mãos nos seus corações e cantaria Deus Abençoe a América.

Só um diminuido mental com overdose de revistas cor-de-rosa, do tipo que acredita que nas Cowboyadas os vaqueiros eram os bonzinhos e os "índios", os vilões - engoliriam tal disparate.

Depois de cinco anos inteiros de crimes de guerra, ingerência criminosa, quebra da Carta da ONU, quebra da Convenção de Genebra, assassinato em grande escala, tortura, estupro, utilização de armas de destruição em massa em áreas residenciais civis, destruição de estruturas civis com equipamento militar, o Iraque continua em caos.

5 anos depois, sem fim à vista. O processo de edificação do estado foi demorado, pois cometeram o erro de varrer quaisquer e todos os que estavam ligados ao Partido Ba’atista, as mesmas pessoas que foram treinadas para gerir o serviço público que mantinha o Iraque em funcionamento. Em seu lugar, um punhado variado de pseudo-políticos nas margens da sociedade iraquiana foi apressadamente reunido num hotel de Londres. Os membros deste grupo, incrédulos, receberam a informação que seriam os novos candidatos numa eleição democrática, tão democrática aliás que a pergunta mais ouvida fora da secções de voto foi "Em quem nós vamos votar"? O resultado? O governo de Iraque não ousa sair da Zona Verde em Bagdade.

Iraque: 5 anos depois, sem fim à vista. Vastas á reas do Iraque estão fora do controle da força de invasão e as poucas que foram devolvidas caíram nas mãos de bandos de criminosos e milícias. Sob os auspícios da força de invasão, discotecas do estilo ocidental foram abertas em várias cidades, entre estas Basra. Hoje, o contingente britânico está acampada no aeroporto, fora da cidade, a sonhar com aviões para os levar para casa enquanto na cidade, quem entra numa discoteca à noite sabe que pode não sair vivo e de dia, até, as mulheres podem ser estupradas ou decapitadas por não usar um véu.

5 anos depois, sem fim à vista. A maioria da população iraquiana não tem nenhuma fonte estavel de água ou de energia. Acima de 50% da população activa continua sem trabalho ou com emprego precário. Há dois milhões de refugiados iraquianos em países vizinhos e um mais que três milhões internamente deslocados.

5 anos depois, sem fim à vista. Quase quatro mil militares dos EUA perderam a vida neste conflito ilegal, para quê? Quase 30,000 foram feridos, alguns mutilados para o resto da vida. Isto não é alguma estatística de 2004. A última baixa foi ontem, dia 19 de Março. Outra vida desperdiçada, outra família em lágrimas. O total de baixas entre pessoal militar da força de invasão excede 4.300... e cada vez mais a maneira de calcular essas perdas é debativel (onde estão registadas as perdas entre militares de outras nações integrando os pelotões norte-americanos)? Pelo menos 85,000 civis iraquianos perderam as suas vidas como resultado direto desta catástrofe, e a cifra poderá até atingir três quartos de milhão.

5 anos depois, sem fim à vista. O badalado “surge” (ímpeto final) só teve efeito porque os militares dos EUA foram forçados a integrarem sob a sua bandeira seus antigos inimigos (milícias Sunita e Xiita) na tentativa desesperada reduzir perdas (não ganhar a guerra). Como diz o ditado, se não consegues vencê-los, junta-te a eles. Os métodos usados para registar as baixas alteraram numerosas vezes desde 2003. É verdade que em Janeiro de 2008, o número de baixas militares dos EUA era idêntico à cifra de Dezembro de 2003 (estatística do DoD). Quanto ao êxito do "surge", em Janeiro de 2008, havia mais de 2,000 ataques por “insurgentes”. Isso constitui uma vitória?

5 anos depois, sem fim à vista. O custo estimado em 60 biliões de dólares alcançou 600 biliões (600.000.000.000 USD) em custos diretos e até dois triliões (2.000.000.000.000 USD) em custos indiretos. Continua a aumentar. E vai continuar. Entretanto, como explicar isto ao cidadão dos EUA cujo filho necessita uma operação, mas é-lhe negado porque não há dinheiro?

5 anos depois, sem fim à vista. O bando de criminosos de guerra, os elitistas corporativos agarrados ao poder em Washington ficaram mais ricos e mais gordos com esta "guerra". Foi uma desonra à imagem militar dos EUA (incapacidade de derrotar uma milícia de voluntários mal treinados e escassamente armados), foi um vergonha para a imagem humanitária dos EUA (Abu Ghraib) e foi um desastre para a imagem pública dos EUA (quebra da lei internacional, crimes de guerra).

Que George W. Bush e os membros do seu regime possam olhar as pessoas dos Estados Unidos da América e os cidadãos do mundo nos olhos e afirmar resolutamente que esta situação é uma vitória norte-americana, não surpreende ninguém. No entanto, que sirva este artigo como mais um contributo entre outros milhões que escreverão seu epitáfio político. Eles não podem dizer que não foram advertidos. Foram arrogantes demais para escutar.

5 anos depois, sem fim à vista

Timothy BANCROFT-HINCHEY

PRAVDA.Ru

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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