Movimentos migratórios internacionais: qualidades e defeitos

O professor do Centro de Estudos Geográficos (CEG) da Universidade de Lisboa Jorge Gaspar abre hoje a primeira de várias sessões plenárias da 11ª Conferência Internacional Metropolis - um evento que junta anualmente os mais conceituados investigadores mundiais na área das migrações, bem como responsáveis políticos e organizações não governamentais. O primeiro-ministro, José Sócrates, intervém na sessão de abertura, comunicou Público.pt.

Este ano, pela primeira vez, a conferência, que se prolonga até sexta-feira, acontece em Lisboa e estão inscritos 700 delegados, de mais de 50 países. Para hoje, a organização - o grupo Metropolis Portugal e o Alto-Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas - programou workshops e visitas a locais onde se desenvolvem projectos com as comunidades de imigrantes e seus descendentes, como os bairros da Cova da Moura e 6 de Maio, na Amadora.

De acordo com as estimativas mais recentes da Organização das Nações Unidas (ONU), o número de pessoas que saem do seu país de origem rumo a outro mais do que duplicou entre 1960 e 2005 - existirão mais de 191 milhões de "migrantes internacionais".

Mas para além da dimensão que ganharam, os fluxos migratórios sofreram profundas alterações. "Hoje em dia, os movimentos migratórios internacionais são sobretudo entre cidades". E não do campo para a cidade. E isto tem vantagens ao nível da integração do estrangeiro que chega a um novo lugar, explica. Na América, na Europa, na África, as metrópoles são hoje cada vez mais parecidas entre si, "nas suas infra-estruturas, nos seus serviços, nas relações sociais..."

Quando aterram no novo país o funcionamento de coisas tão simples como os transportes públicos, ou as marcas das roupas nas lojas correspondem a algo familiar para os novos migrantes do mundo globalizado. "Os imigrantes de Angola, ou do Brasil, por exemplo, que hoje recebemos já passaram primeiro pela cidade nos seus países de origem, alguns até já nasceram em Luanda, ou em Belo Horizonte".

Resultado: "As pessoas, mesmo que falem línguas diferentes, têm valores de comportamento urbano comuns". Algo bem diferente do que se passava nos anos 60, recorda ainda Gaspar, quando os portugueses saíam das aldeias do interior do país, para Paris, que para eles era outro planeta.

Em frente à Igreja de São Domingos, no Rossio, em Lisboa, por baixo duma árvore, vários africanos conversam e jogam às cartas. Na zona, algumas mercearias vendem peixe seco e outros produtos ao gosto dos imigrantes que fizeram daquela parte da baixa um enorme espaço de convívio. Alguns vivem ali perto, no coração da cidade. Outros vêm dos subúrbios encontrar os compatriotas. A imagem é utilizada por Jorge Gaspar para dar o exemplo de como a imigração "revitalizou" zonas do centro cidade que estavam a perder pessoas e a ficar decadentes.

Os últimos censos feitos em grandes cidades europeias dão conta de como as migrações se concentram nas metrópoles. Na área Metropolitana de Lisboa os estrangeiros representam 4,7 por cento da população, contra uma média nacional de 2,2 por cento (de resto 55,5 por cento dos que existem no país estão nesta região); em Paris são 14,5 por cento (a média em França é 5,6); em Amesterdão, 48 por cento (contra 17 por cento no país); em Frankfurt 27,8 (contra 8,9 por cento em toda a Alemanha)... as cidades são a promessa de mais oportunidades de trabalho e de mobilidade social, de maior facilidade de encontro com outros do mesmo país.

Mas se as políticas adoptadas não forem as correctas, as cidades multiculturais podem ser também focos de frustração e de tensão. Em muitas metrópoles dos países do Sul da Europa tem havido reacções negativa aos imigrantes, como houve no Norte. E a região enfrenta uma pressão enorme, seja dos fluxos migratórios com origem na África, no Médio Oriente, ou nos Balcãs.

Na génese do Projecto Internacional Metropolis, que já inclui instituições de investigação e organizações políticas de duas dezenas de países, está o objectivo último de reforçar "a tomada de decisão política". E Jorge Gaspar não deixará de dar algumas recomendações sobre este tema em particular.

Cada área metropolitana deve ter uma estratégia de inserção dos imigrantes a diferentes níveis, diz. Por exemplo, o alojamento deve ser uma absoluta prioridade - "é preciso dar alma aos sítios"; as comunidades imigrantes devem ter ser estimuladas a desenvolver os seus negócios - "o pequeno comércio tem um papel muito importante" nas comunidades; deve ser dada uma particular atenção às infraestruturas relacionadas com o lazer, nomeadamente com o desporto - afinal esta é, na opinião de Jorge Gaspar, uma das actividades que "mais aproxima globalmente as pessoas".

O Partido Nacional Renovador (PNR) de Portugal anunciou hoje que vai realizar um protesto na quarta-feira à porta de um hotel em Lisboa onde vai decorrer um workshop em que será questionada a delinquência dos imigrantes, segundo escreve Portugal Diário. Este workshop está integrado na 11ª Conferência Internacional Metropolis.

Para o Partido Nacionalista, «esta mega conferência vem na continuidade de políticas mundialistas, que visam diluir povos e culturas, destruindo assim a identidade e a soberania das nações e colocando em perigo a estabilidade dos povos». Segundo o PNR, estas são «políticas criminosas» que «promovem a invasão irresponsável de imigrantes e a transformação destruidora dos lugares de acolhimento».

O PNR decidiu avançar para o protesto ontem em reunião extraordinária.

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Author`s name Ekaterina Spitcina
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