O drama dos guerrilheiros presos: a via crucis dos indultados

O drama dos guerrilheiros presos: a via crucis dos indultados

Por estes dias, correm as notícias da grave situação dos presos políticos e de guerra em Colômbia. Os cárceres andam superlotados e o estado de saúde da maioria dos presos é trágico.

Por Prensa rural

Por estes dias, correm as notícias da grave situação dos presos políticos e de guerra em Colômbia. Os cárceres andam superlotados e o estado de saúde da maioria dos presos é trágico. Muitos morreram ali sem serem atendidos por um médico, como sucedeu em 5 de fevereiro a John Jairo Moreno em Pereira. Este é o caso de Wilson Antonio López, um guerrilheiro das FARC, capturado em 22 de abril de 2014 e condenado a 72 meses e que também é notícia porque foi um dos indultados junto com outros 17, no 22 de janeiro último, que receberam indultos por delitos políticos menores e que fazem parte dos compromissos acordados em Havana. Ficariam faltando 13 para completar os 30 acordados.

O ministro de Justiça Yesid Reyes esclareceu que se comprovou que estes guerrilheiros não tinham investigações por outro tipo de delitos e que o compromisso destes para receber o indulto é não voltar às fileiras das FARC e participar de um processo de reinserção social com o Governo.

"Vão estar em liberdade, porém estarão incorporados num programa de reinserção social. Tínhamos que ter assegurados o que iam fazer ao sair do cárcere, como orientá-los durante os primeiros dias, já que muitos deles não têm raiz familiar, por isso fomos cuidadosos e não corremos mais da conta", disse o ministro Reyes.

No entanto, a realidade é outra. Wilson Antonio foi ameaçado de morte em princípios de fevereiro quando recém estava vivendo na vereda El Salado de Envigado.

 

Um drama que apenas começa

Wilson esteve grande parte de sua prisão no cárcere de Bellavista, em Bello, Antioquia, e em dezembro foi transladado para La Picota em Bogotá. Para ele foi uma grande notícia a de ficar em liberdade sem pagar o tempo ao qual havia sido condenado, ademais porque não podia trabalhar para reduzir sua pena devido ao mau estado de saúde em que se encontrava.

Estar com sua família era o maior desejo. E conseguiu. Levava um para de semanas vivendo na vereda El Salado de Envigado, reintegrando-se à vida civil; no entanto, sua saúde não melhora e o esforço por sobreviver é grande.

Porém sua felicidade se viu interrompida quando, a primeiro de fevereiro, chegam a sua casa vários homens, os quais, depois de se identificarem como membros do Escritório de Envigado, lhe manifestam que pelos meios de comunicação se informaram de "quem é você, sabemos a que se dedica e de onde vem", que se lhe dizem "para que veja a ver o que vai fazer porque por aqui não queremos voltar a vê-los".

Em 3 de fevereiro recebe uma chamada anônima, onde lhe dizem "quase que não nos damos conta de quem é você", "lhe vimos na televisão", "tinha-o muito bem guardado", "sabemos onde vive e onde está você e sua família para que saiba de uma vez de que vão morrer".

A situação familiar de Wilson é dramática. A filha maior, de 20 anos, tem problemas de arritmia cardíaca, não pode trabalhar e quer continuar estudando. A esposa é de idade avançada e tem problemas de saúde. O filho menor, de 17 anos, é o único que pode trabalhar. É o encarregado de sustentar o núcleo familiar. Trabalha numa chácara alheia e ganha 400 mil pesos mensais.Também quer terminar os estudos. Wilson está totalmente incapacitado.

A situação se agrava com as ameaças. O advogado defensor conseguiu obter umas medidas de proteção por parte da Agência Colombiana para a Reintegração ACR e da Unidade Nacional de Proteção UNP. Lhe deram uma ajuda econômica de 1'700.000 pesos, um dinheiro para emergências, também lhe entregaram um celular com comunicação direta com as autoridades.

Estiveram com a Cruz Vermelha Internacional. O mandato que têm é limitado, lhes dizem que o único que podem fazer é apresentar o caso ante a UNP e ACR, o que já havia feito o advogado, lhe sugerem enviar o caso a Havana.

Saúde em risco

Desde que Wilson ingressou no cárcere, leva uma ferida de guerra na perna direita que não foi atendida enquanto esteve preso. Levava um fragmento de granada e que ainda não foi extraído, pelo contrário, a ferida se infectou e se lhe expandiu por grande parte da perna, causando-lhe grande dores permanentes, com risco de gangrena e em consequência a perda da perna e até da vida. Tudo isto estando privado da liberdade, o que o incapacitou para desenvolver qualquer atividade ali.

A Corporação Coletivo de Advogados Suyana esteve levando o caso e num comunicado disseram que "depois de interpor uma tutela, foi avaliado por médico tratador, quem ordenou hospitalização, pelo que foi remetido para um centro hospitalar, onde foi avaliado novamente. O novo médico formulou medicamentos e recomendou retorná-lo à reclusão, pois, segundo o galeno, o paciente não precisava de internação e com os medicamentos era suficiente".

No momento, Wilson teve que sair de Envigado e se encontra em outro município, escondido e com uma infecção que não para e nenhum médico o trata.

Um dos grandes compromissos dos primeiros indultados é promover o processo de paz, porém a pergunta é: poderão fazê-lo nessas condições?

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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