Relações diplomáticas: o jogo dos EUA com Cuba

Cubanos não se empolgam com volta das relações com os EUA - Com o poder de mídia que tem, os governantes do grande país do norte se aproveitam para propagar pelos quatro cantos do mundo que o regime comunista da ilha é, e continua a ser, nocivo ao seu próprio povo.

Valter Xéu*

Estão rolando as conversações entre os Estados Unidos e Cuba pelo reatamento das relações diplomáticas entre os dois países, rompidas desde o inicio dos anos sessenta do século passado e acompanhada de um infame bloqueio mantido pelos sucessivos governos ocupantes da Casa Branca e condenado por todo mundo, inclusive na ONU, onde Tio Sam vem,  há anos, sofrendo sucessivas e fragorosas derrotas quando o tema é colocado em votação anual pela Assembleia Geral.

Com o poder de mídia que tem, os governantes do grande país do norte se aproveitam para propagar pelos quatro cantos do mundo que o regime comunista da ilha é, e continua a ser, nocivo ao seu próprio povo.

Os cubanos sentam, discutem com os norte americanos e sabe qual é a estratégia deles com as conversações para a volta das normalizações das relações entre os dois países em nível de embaixadas onde chegam a  fazer um paralelo com as negociações nucleares com o Irã, onde, quando se imagina que as coisas estejam resolvidas, os estadunidenses e seus aliados europeus sempre criam um fato novo, uma exigência nova e as conversações vão se prolongando sem se saber quando terminarão e assim, Israel vai se aproveitando para continuar a demonizar o Irã junto à comunidade internacional.

O Líder Supremo já avisou que o Irã não abre mão de continuar a desenvolver seu projeto que tem fins pacíficos e segue a fiscalização rigorosa da AIEA - Agência Internacional de Energia Atômica, órgão ligado a ONU.

A mesma coisa esperam os cubanos dos americanos, conversações sem fim, com um sentido diferente do caso iraniano, e sim, a influência que Cuba exerce no continente, principalmente na Venezuela, onde os Estados Unidos atuam para derrubar o governo de Maduro que é chavista, mas não é Chávez.

O bloqueio continua

Facilitar a ida de norte americanos à ilha, que era antes ilegal, passível de prisão e multa de centenas de milhares de dólares. Isso, vindo da nação que se diz a mais democrática do planeta, e que proíbe seus cidadãos de visitar tal pais sob pena de prisão e multa, talvez preocupado em esconder aos olhos americanos, um país que o governo e a mídia pintavam como o inferno e que na realidade era completamente diferente.

Se tem uma coisa que deixou os cubanos na mais completa alegria, não foi a noticia do reatamento das relações diplomáticas com os EUA e sim,  a volta dois cincos heróis que estavam presos e condenados à prisão perpétua nos Estados Unidos, acusados de atos de espionagem, quando na verdade trabalhavam em comum acordo com os serviços da inteligência americana, no sentido de vigiar alguns porras loucas da máfia de Miami, que sempre estão a perpetrar casos de terrorismo contra Cuba. Os Cinco Herois (como são conhecidos em Cuba) são amados e endeusados pelos cubanos, recebendo todo o tipo de homenagens do povo e do governo, onde aparece a figura do ex-presidente Fidel Castro, o mentor das pressões e manifestações pelo mundo, pela liberdade dos cinco.

E assim, com as festividades pela volta dos "cinco heróis", até o consumo de rum aumentou no país com as comemorações diárias pelo retorno e não pelo restabelecimento das relações entre os dois países que os cubanos não levam a sério. "Se eles, os americanos, querem conversar, conversaremos, como conversamos com todo mundo. Se acham que vão nos fazer imposições, estão redondamente enganado. Nesses cinquenta anos, suportamos e enfrentamos todo o tipo de pressão e sabotagem praticadas por eles e que só fizeram dificultar a vida dos cubanos e não será agora que vamos nos dobrar, pelo fato de estarmos conversando sobre  reatamento das relações diplomáticas, apesar do bloqueio continuar firme e forte", disse uma autoridade cubana.

Então, por esse clima, já dá para adiantar que não será fácil o lero-lero entre os dois países.

A base de Guantánamo e alguns fundos cubanos congelados há décadas nos Estados Unidos e o levantamento de uma série de barreiras, sempre estarão na pauta das discussões e bem sabem os cubanos, serão empurradas intermitentemente para outras discussões que se tornarão intermináveis, assim como a questão nuclear iraniana.

Sabem os cubanos, que por trás  dessa reaproximação está todo um quadro político na América Latina, mais precisamente na Venezuela.

Acreditam os norte americanos que, em conversações com Cuba, dificilmente essa reagirá e seus aliados na América Latina também, de um endurecimento e até mesmo intervenção na Venezuela, onde a presença e influência dos Estados Unidos nos protestos são visíveis, além de aplicações de sanções, no sentido de levar o país a um desastre econômico e daí enfraquecer o governo de Maduro.

Também vêem os cubanos que os Estados Unidos estão preocupados com a crescente presença russa no continente e as alianças desses firmadas com os cubanos, nicaraguenses, Peru, Chile, Equador e fortes negócios na área de importação de produtos brasileiros.

As conversações é pano de fundo para desestabilizar tudo isso, imaginando os sobrinhos do Tio Sam que os cubanos para não colocar impasses nas conversações, dificilmente levantarão a sua voz em defesa da Venezuela, cujos laços de amizades com Cuba, foram construídos e solidificado na era Chávez.

Ledo engano!

*Valter Xéu é diretor e editor dos portais Pátria Latina e Irã News

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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