Israel faz 29 vítimas em 2 dias, em Gaza

Por Gustavo Barreto ( [email protected] ), para o Fazendo Media

Com as câmeras voltadas para a fronteira com o Líbano, o governo israelense voltou a aterrorizar e assassinar palestinos ao norte da Faixa de Gaza. Nesta sexta-feira, 28 de julho, a agência de notícias BBC noticiou que soldados e tanques israelenses teriam deixado a região. Antes, no entanto, fizeram uma incursão que resultou na morte de 29 palestinos em dois dias. Segundo a BBC, os bombardeios teriam continuado durante a retirada. Mais de 70 de pessoas ficaram feridas.

Funcionários de hospitais em Gaza informaram que os soldados israelenses mataram ontem um garoto e um militante do Hamas. Bombardeios aéreos israelenses também destruíram uma pequena indústria metalúrgica e residências. Na quinta-feira, 27 de julho, cinco palestinos foram mortos em ataques, entre eles uma mulher de 75 anos cuja casa foi atingida em um dos bombardeios.

Destruição e terror psicológico


Militares israelenses estão telefonando para civis palestinos e dizendo que eles têm uma hora para deixar suas residências antes que estas sejam bombardeadas, informaram diversas fontes internacionais. O porta-voz do governo palestino, Ghazi Hamad, classificou a tática de "guerra psicológica". Os ataques recentes elevam o total de mortos desde o aumento da ofensiva de Israel na região, no fim de junho, para mais de 140 pessoas. Um soldado israelense foi morto neste período.

Israel usa um antigo pretexto para realizar ataques terroristas: afirmar que as operações visam a libertação de um soldado (Gilad Shalit), capturado por milícias palestinas, além de tentar supostamente impedir que foguetes sejam lançados contra o território israelense. A imprensa empresarial, no entanto, reluta em informar que as ações militares no Líbano partiram de Israel, que continua a aplicá-las com toda a força e tem criado por décadas, intencionalmente, um ciclo de vingança e violência na região.

Dezenas de autoridades de grupos classificados pela imprensa e por governos do Ocidente como "terroristas" têm declarado em cadeia internacional que esperam apenas que Israel pare os ataques contra estes grupos e aceite um Estado palestino efetivamente independente, com um governo, economia e regiões autônomas. Israel, além de usar um farto arsenal militar contra civis inocentes, se esquiva de permitir livre trânsito de palestinos em regiões estratégicas, além de travar uma guerra quase que silenciosa pelo controle de recursos naturais locais.

Foco desviado favorece crimes de guerra


A situação na Faixa de Gaza deixou de ser o centro das atenções no Oriente Médio depois do início dos ataques israelenses contra o Hezbollah, no Líbano. Mas os territórios palestinos, informa a BBC, continuam passando por sérias dificuldades desde que as doações internacionais diminuíram drasticamente por causa da eleição do grupo Hamas para a liderança do governo. Apesar de o processo eleitoral na Palestina ter sido democrático e transparente, segundo todos os observadores internacionais, Israel utiliza a eleição do Hamas como pretexto para levar à frente ataques de destruição em massa e técnicas de pressão psicológica. Além disso, o Hamas é considerado uma organização terrorista pelos Estados Unidos e pela União Européia - o maior doador de fundos para a região.

O historiador Mário Maestri, que investiga a região, alerta para a manipulação sobre o tema. "O Hamas vem mantendo há mais de um ano trégua com Israel, o que constitui, nos fatos, um reconhecimento daquele Estado. Imediatamente após a vitória eleitoral, propôs, explicitamente, trégua de longo prazo, e, implicitamente, reconhecimento de Israel, desde que os israelenses se retirem para as fronteiras de 1967, como exige igualmente a ONU, e liberte todos os prisioneiros palestinos", escreveu Maestri em janeiro deste ano. A proposta do Hamas como organização terrorista, irracional e totalmente estranha à política, explica o historiador, é uma criação da mídia manipulada pelo imperialismo.

Ele recorda que, em 2002, o sucessor de Ahmed Yassin, Abdelaziz al-Rantissi - também assassinado pelos israelenses - declarou à BBC que o "principal objetivo da Intifada" era a "liberação da Faixa de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém, e nada mais", já que não havia "força para liberar toda a nossa terra". "Reiteradas vezes, a direção do Hamas lembrou que a derrota de Israel, que possui amplo arsenal nuclear, é impossível", observou Maestri.

Um milhão de palestinos ameaçados


Nesta quinta-feira, 27 de julho, a União Européia declarou estar supervisionando o envio de ajuda humanitária para a Faixa de Gaza, de forma a garantir que o dinheiro chegue diretamente aos beneficiários, sem passar pelo governo do Hamas. A Autoridade Palestina, segundo a BBC, tem tido problemas para pagar os salários de cerca de 160 mil funcionários públicos, o que afeta a sobrevivência de 1 milhão de palestinos - um quarto da população na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.

As incursões militares de Israel foram supostamente paralisadas por diversos momentos, segundo a imprensa global, mas na prática, conforme denúncias de diferentes entidades internacionais, nunca pararam. Grandesmeios de comunicação global parecem não se importar com a flagrante contradição de produzir freqüentemente chamadas que começam e terminam arbitrariamente as "incursões" de Israel.

A própria BBC, dando voz a fontes militares de Israel, chegou a fazer chamada anunciando: "Israel suspende incursão no norte de Gaza" (18/7/2006). No entanto, apenas um dia depois, noticiou que "forças israelenses mataram nove palestinos em duas operações separadas num campo de refugiados na Faixa de Gaza e na cidade de Nablus, na Cisjordânia". A região já teve diversas áreas completamente destruídas por Israel, em ataques noturnos e simultâneos (aéreos e por terra).

Crescem os números do genocídio


A lógica que omite a continuidade dos ataques é um padrão que se repete na imprensa empresarial, passando ao público a falsa impressão de que, a cada ataque, observa-se um novo problema. Não faltam os sociólogos de plantão, cuja função é se adequar ao senso comum produzido por esta imprensa, conforme detalhou Pierre Bourdieu em sua famosa obra Sobre a Televisão.

Ao ignorar a referida continuidade das ações militares de Israel - inserida em um processo histórico cada vez mais evidenciado e contando com pesados armamentos estadunidenses -, abre-se espaço para a concretização de um dos maiores genocídios da História mundial, com mais de 2 milhões de mortes desde o início do conflito entre palestinos extremistas e o governo israelense.

O líder do Hezbollah foi elogiado nesta sábado (29/7) pelo conteúdo fortemente diplomático de seu discurso, mas o Jornal Nacional do mesmo dia, na Rede Globo, insistiu em anunciar que este mesmo líder vai "continuar com os ataques", caso "Israel não se retire do Líbano e realize o cessar-fogo". O discurso moderado do Hezbollah contrasta drasticamente com as ações de Israel, que não só ameaçam a Organização das Nações Unidas (ONU) com bombardeios - fato que os editores do Jornal Nacional não julgaram importante - como bloquearam o cessar-fogo de três dias solicitado pela Organização, para levar ajuda a centenas de milhares de refugiados e feridos na região.

14 ataques à ONU foram "um acidente", diz Israel


Nesta sexta-feira, 28 de julho, a ONU anunciou que fará uma investigação independente para averiguar a morte de quatro observadores da Organização no Líbano, na última terça-feira (25/7). Bombardeios aéreos e da artilharia israelenses reduziram a escombros um posto de observação militar da ONU em Khian, matando todos os quatro ocupantes. Os oficiais eram provenientes da Áustria, Canadá, China e Finlândia.

O Secretário Geral da ONU, Kofi Annan, revelou que, durante um único dia, o posto da Organização foi atacado por tropas israelenses 14 vezes. Annan declarou ainda que "reiterados chamados a Israel por parte da Força de Paz da ONU no Líbano e da sede principal em Nova Iorque não conseguiram evitar os ataques".

O primeiro ministro israelense Ehud Olmert pediu desculpas públicas a Annan, mas insistiu que os 14 ataques em um único dia à base da ONU foram "um acidente". O Conselho de Segurança da ONU aprovou nesta quinta-feira (27/7) uma declaração em que se manifesta "profundamente golpeado e aborrecido" pelo incidente. O Conselho pediu a Israel que conduza uma exaustiva investigação, levando em consideração os informes apresentados pelas Nações Unidas.

Os dirigentes de Israel curiosamente não têm sido ouvidos nas últimas reportagens internacionais sobre o tema. As redes de televisão preferiram criticar neste sábado, 29 de julho, o líder do Hezbollah, que ironicamente não recebeu críticas de nenhum outro grupo político no Líbano por conta do discurso feito no mesmo dia, como informou o próprio JN.

Leia também: Entidades pedem fim de "crimes de guerra" .

Gustavo Barreto

[ http://www.fazendomedia.com/novas/internacional300706.htm ]

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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