Bolívia 2020: o iluminador triunfo da vontade popular

Bolívia 2020: o iluminador triunfo da vontade popular
Por Alain Valdés Sierra * Havana (Prensa Latina) Poucas vezes uma eleição geral na Bolívia foi objeto de tanta atenção quanto a do passado dia 18 de outubro, quando saiu vitoriosa a chapa do Movimento ao Socialismo (MAS), formado por Luis Arce e David Choquehuanca.
Esse processo também abriu caminho para a restauração da democracia neste país sul-americano.
Depois do golpe de estado que obrigou o presidente Evo Morales a renunciar em novembro de 2019, a direita boliviana estabeleceu um governo de fato que desde o início mostrou total desinteresse pela segurança e pelo progresso do povo.
Sem o apoio popular, Jeanine Áñez foi empossada como presidente, e seu governo começou a desmantelar os avanços que o país havia feito em matéria econômica e social durante o mandato de Morales (2006-2019).
A privatização de recursos e setores estratégicos, repetidos escândalos de corrupção em todos os níveis, endividamento do país com instituições financeiras internacionais, diminuição das reservas internacionais e do Produto Interno Bruto, são algumas das consequências deixadas pelas políticas promovidas pelo governo de fato em questões econômicas.
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Além desses males, deixou também uma profunda crise social agravada pela pandemia Covid-19, cujo manejo foi repetidamente criticado pela população, médicos e pessoal de saúde, como evidenciado pelos quase 150 mil casos confirmados e os mais de oito mil mortos por essa doença.
Nesse cenário, somam-se a perseguição política desencadeada pelas autoridades golpistas contra dirigentes do MAS, ex-dirigentes do governo de Morales, e o uso excessivo da força para reprimir aqueles que clamavam pacificamente pelo retorno à institucionalidade e pelo respeito aos resultados das eleições de 20 de outubro de 2019.
Este triste capítulo resultou em dezenas de mortos e centenas de feridos nos massacres de Senkata e Sacaba, na prisão de dezenas de autoridades governamentais do MAS sob falsas acusações, plantações de provas e violações do devido processo, tudo com os poderes do Estado como meio para tanto, violando assim o que está estabelecido na Constituição Política do país.
A Bolívia passou a ser o centro das atenções na América Latina: de um lado, daqueles que defendiam a democracia e negavam a narrativa da fraude eleitoral; de outro, daqueles que desde o poder, desrespeitaram as leis e praticaram perseguições políticas e a violenta repressão.
No entanto, as projeções políticas da direita boliviana e do governo de fato falharam em subestimar a força da base social do MAS e de seus dirigentes, principalmente Evo Morales, que desde o exílio na Argentina reorganizou as forças progressistas, movimentos sociais e sindicatos diante de um novo processo eleitoral. Diante da nova realidade e no papel de força de oposição, o MAS revisou seus métodos de trabalho com vistas à retomada do poder, intenção que ganhou respaldo nos excessos do governo de fato.
O governo Áñez, reconhecido pela Assembleia Legislativa Plurinacional (parlamento) com o único mandato de convocar novas eleições, logo buscou alternativas para impedir o MAS de retornar ao poder.
Para tanto, o governo de fato adiou três vezes a data das eleições gerais, invalidou candidaturas com base em artifícios jurídicos rejeitados por especialistas, como os casos de Evo Morales e do ex-chanceler Diego Pary, a quem foram negadas as aspirações para o senado.
O governo também incentivou a criminalização dos candidatos do MAS com base em evidências inexistentes para retirá-los da disputa eleitoral, conforme tentaram em mais de uma ocasião com o presidente eleito, Luis Arce.
Finalmente, no dia 18 de outubro, o povo boliviano decidiu nas urnas encerrar um ano de abusos, saques, repressão e atentados contra a vida, apoiando a proposta eleitoral do MAS e sua agenda política baseada na defesa da soberania, o recursos nacionais e a redistribuição da riqueza.
Luis Arce e David Choquehuanca foram eleitos no primeiro turno como presidente e vice-presidente, respectivamente, com o apoio de mais de 55% dos votos válidos.
Por meios democráticos e aos olhos do mundo, os bolivianos disseram 'NO' a um modelo personificado pelo governo de fato em nome da direita nacional, que em menos de um ano mostrou sua ineficiência para governar e a incompatibilidade do neoliberalismo com aspirações de um modelo de desenvolvimento sustentável.
O MAS é mais uma vez o núcleo político da nação, em torno do qual giram as comunidades indígenas, sindicatos de trabalhadores e camponeses, movimentos sociais, pequenas e médias empresas e a classe média, setores que agora trabalharão por um novo pacto social.
A nova Bolívia já começou a crescer; seus fundamentos são o imenso apoio popular conquistado nas administrações anteriores do MAS e a irrevogável liderança de Evo Morales, Luis Arce e David Choquehuanca.
Segundo Morales, líder do MAS, a unidade os levou à vitória e por isso é urgente mantê-la para proteger o processo de mudança e promover a Revolução Democrática e Cultural nesta nação andino-amazônica.
Após seu retorno à Bolívia, depois de um ano no exílio, o líder indígena manteve várias reuniões com representantes de organizações sindicais e sociais com o objetivo de traçar estratégias para apoiar o governo do MAS e assim oferecer iniciativas em benefício do povo.
arb / avs / hb/gdc
* Jornalista da Redação Sul-americana da Prensa Latina
http://www.patrialatina.com.br/bolivia-2020-o-iluminador-triunfo-da-vontade-popular/