No Brasil, 'Máfia do Apito' do futebol é condenada a pagar multa de R$180 Milhões

No Brasil, 'Máfia do Apito' do futebol é condenada a pagar multa de R$180 Milhões

Por ANTONIO CARLOS LACERDA

Correspondente Internacional

SÃO PAULO/BRASIL (PRAVDA.RU) - No Brasil, na cosmopolita São Paulo, maior centro industrial, financeiro e esportivo do país, a "Máfia do Apito" do futebol brasileiro, como ficou conhecido o esquema de manipulação de resultados de jogos de futebol descoberto em 2005, foi condenada pela justiça a uma multa de R$180 Milhões.

14674.jpegO ex-árbitro Edilson Pereira de Carvalho e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) terão de dividir uma multa de R$ 160 milhões, enquanto que o empresário Nagib Fayad, o ex-árbitro Paulo José Danelon e a Federação Paulista de Futebol, também envolvidos no caso, tiveram o prejuízo de R$ 20 milhões.

O escândalo da "Máfia do Apito" explodiu em 2005, envolvendo os árbitros Edilson Pereira de Carvalho e Paulo José Danelon, que manipulavam resultados de jogos do Campeonato Brasileiro de Futebol, o Brasileirão - maior campeonato de futebol do mundo -, com base em negociações com apostadores.

Após a descoberta do esquema, 11 jogos do Brasileirão daquele ano, apitados por Edilson Pereira de Carvalho, foram anulados e jogados novamente.

Máfia do Apito foi o nome dado pela imprensa brasileira a um esquema de manipulação de resultados de jogos de futebol, descoberto em São Paulo, através de uma investigação realizada por promotores de Justiça e a Polícia Federal. A investigação se tornou pública por meio de reportagem da revista Veja, em outubro de 2005.

Um grupo de investidores havia "negociado" com o árbitro Edílson Pereira de Carvalho, então integrante do quadro de árbitros da FIFA, para garantir resultados em que haviam apostado em sites na Internet.

A partir daí, foi descoberta a participação de um segundo árbitro no esquema, Paulo José Danelon. Os dois, Paulo José e Edilson, foram banidos do futebol e, depois, denunciados pelo Ministério Público por estelionato, formação de quadrilha e falsidade ideológica.

No sentido técnico e jurídico da palavra, a 'Máfia do Apito' era uma "quadrilha" (associação de quatro ou mais pessoas para o fim de cometer crimes - conforme o art. 288 do Código Penal) formada pelos ex-árbitros de futebol Edílson Pereira de Carvalho e Paulo José Danelon, o empresário Nagib Fayad, e outros membros conhecidos apenas por apelidos, os quais se organizaram para ganhar dinheiro criminoso, em detrimento da credibilidade do esporte, dos sentimentos de milhões de pessoas, do patrimônio de clubes de futebol e das economias de inocentes cidadãos.

Os "árbitros" em questão fabricavam resultados, alterando o curso normal de partidas de futebol, seja inventando pênaltis inexistentes, seja irritando jogadores até expulsá-los ou intimidá-los, tirando-lhes a concentração, seja truncando o jogo com faltas inexistentes, seja pelos mais variados recursos insidiosos.

As partidas com resultados dirigidos eram objeto de apostas em sites no Rio de Janeiro e Piracicaba, mas divulgados para todo o país por meio de rede mundial de computadores, recolhendo dinheiro de um número indeterminado de pessoas de boa fé, as quais, iludidas, punham suas economias, apostando em um jogo de cartas marcadas.

A organização criminosa lucrava aproximadamente R$ 400.000,00 por partida fraudada, pagando aos árbitros fraudadores a quantia aproximada de R$ 15.000,00 por resultado bem sucedido. Não há notícia do envolvimento de clubes ou dirigentes.

A ação penal foi suspensa em 2007 pelo desembargador Fernando Miranda, do Tribunal de Justiça de São Paulo. Em agosto de 2009, o mesmo desembargador e outros dois colegas determinaram o "trancamento" da ação penal, alegando que os fatos apurados não traduziam crime de estelionato.

A decisão dos três desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo encerrou, assim, na área criminal, a investigação sobre a quadrilha da 'Máfia do Apito'. Entretanto, o Ministério Público propôs uma ação civil, na área do consumidor, que passou a tramitar na Justiça de São Paulo e resultou na condenação dos acusados em R$180 Milhões.

Os 11 jogos apitados por Edílson Pereira de Carvalho no Brasileirão acabaram anulados pelo presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, Luís Zveiter, alegando que a anulação ocorreu para remover completamente a participação do árbrito no Brasileirão, tentando, assim, restaurar um pouco do prestígio da disputa.

O campeão daquele ano foi o Corinthians, que terminou 3 pontos à frente do 2º colocado, o Internacional. Se os resultados originais dos jogos tivessem sido mantidos, o Internacional teria sido campeão, um ponto à frente do Corinthians.

Em uma das partidas anuladas, Santos 4 X 2 Corinthians, levantou-se uma polêmica por conta de uma das sonoras vazadas dos grampos onde o investidor comprava a vitória do Corinthians, embora na prática o árbitro tivesse prejudicado o clube com a não marcação de duas penalidades.

Segundo o Ministério Público, as gravações apontavam que Edilson Pereira de Carvalho fazia jogo duplo, vendendo resultados para dois lados em diversas partidas, o que fez com que os agentes investigadores recomendassem a anulação de todos os 11 jogos arbitrados por Edilson.

Em 2005, a revista Veja denunciou a 'Máfia do Apito' em matéria com manchete de capa, revelando o esquema de compra de árbitros para a "fabricação" de resultados do Brasileiro, com o objetivo de favorecer apostadores de loterias clandestinas, realizadas pela Internet.

Por conta da denúncia, em 2005, ficaram sob suspeita jogos do Campeonato Brasileiro, Copa Libertadores da América, Copa Sul-Americana e Campeonato Paulista de futebol.

A cronologia do escândalo

 

23/09/2005

A revista Veja publica matéria de capa denunciando um esquema de compra de juízes para a "fabricação" de resultados, com o objetivo de favorecer apostadores de loterias clandestinas, realizadas pela Internet. Estiveram sob suspeita jogos do Campeonato Brasileiro, Copa Libertadores da América, Copa Sul-Americana e Campeonato Paulista de futebol, todos da edição 2005.

O esquema de manipulação funcionava da seguinte forma: o empresário Nagib Fayad, juntamente com outros três empresários ligados ao ramo dos bingos, combinava um determinado resultado em jogos apitados por Edílson Pereira de Carvalho e, em seguida, realizava apostas milionárias em dois sites de apostas eletrônicas.

Esse tipo de jogo é proibido no Brasil e acontecia de forma clandestina. Estima-se que o lucro da quadrilha supere R$ 1 milhão no período. O nome dos demais empresários é mantido sob sigilo pela Polícia Federal. O juiz receberia entre R$ 10 mil e R$ 15 mil por jogo pelo "serviço".

24/09/2005

O árbitro da Fifa Edílson Pereira de Carvalho e o empresário Nagib Fayad são presos durante a madrugada, acusados de manipulação de resultados de partidas de futebol. Edílson apitou 25 partidas neste ano, sendo 11 delas do Campeonato Brasileiro.

O árbitro José Paulo Danelon, que apita jogos da Série B do Campeonato Brasileiro, também está sendo investigado e poderá ter a sua prisão preventiva decretada a qualquer momento. De acordo com as investigações, ele seria o responsável pela apresentação de Carvalho ao empresário do ramo de jogos.

Ainda na madrugada de sábado, quando tomou conhecimento das denúncias, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) divulgou nota informando sobre o afastamento dos dois árbitros do seu quadro de arbitragem.

A CBF informa que se encarregaria também de comunicar a Fifa do caso, pedindo o afastamento do juiz do quadro de arbitragens da entidade internacional.

O promotor José Reinaldo Carneiro de Bastos, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado do Ministério Público de São Paulo) não informou quais seriam os jogos que tiveram influência da arbitragem. "A Polícia Federal tem certeza que, ao menos, sete jogos tiveram resultados manipulados. Mas não queremos revelar isso por enquanto", disse.

25/09/2005

O presidente da comissão de arbitragem da CBF, Luiz Zveiter, disse que as partidas dirigidas pelos dois árbitros poderão ser canceladas. Segundo ele, os casos seriam analisados individualmente. Zveiter garantiu que o Campeonato Brasileiro não será paralisado de forma nenhuma, mas não descartou a anulação de jogos.

26/09/2005

O juiz Edilson Pereira de Carvalho, pivô do escândalo de esquema de manipulação de resultados do futebol brasileiro, disse no depoimento à Polícia Federal que há mais árbitros suspeitos de envolvimento.

A Caixa Econômica Federal informou que manteria os resultados dos jogos - para efeito de premiação da Loteria da Caixa - apitados pelo árbitro Edílson Pereira de Carvalho neste Campeonato Brasileiro, mesmo que as partidas sejam anuladas pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva.

O advogado Cássio Paoletti afirmou que o cliente Nagib Fayad foi procurado pelos árbitros Edilson Pereira de Carvalho e José Paulo Danelon para participar do esquema que fraudava partidas dos Campeonatos Brasileiro e Paulista e da Copa Libertadores.

O presidente do STJD, Luiz Zveiter, admitiu que algumas partidas apitadas pelo juiz Edilson Pereira de Carvalho poderiam ser anuladas. No entanto, o tribunal deveria concluir quais partidas seriam disputadas novamente apenas em duas semanas.

27/09/2005

Após se sentir prejudicado por Edilson Pereira de Carvalho na Copa Libertadores, a diretoria do Alianza Lima, do Peru, disse que pretendia processar o árbitro, de acordo com o jornal Folha de São Paulo.

O Clube dos 13, entidade que reúne 20 dos principais times do país, pretendia evitar uma virada de mesa após o escândalo da arbitragem.

O presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), Luiz Zveiter, muda de opinião ao afirmar na Superintendência da Polícia Federal, que todos os 11 jogos arbitrados por Edilson Pereira de Carvalho seriam analisados.

A Anaf (Associação Nacional dos Árbitros de Futebol) divulgou nota de repúdio ao escândalo da arbitragem no futebol e mostrou que estaria disposta a revitalizar a imagem da classe perante o público.

Apesar do escândalo, o site betfair.com disponibilizou jogos de clubes brasileiros pela Copa Sul-Americana e pela Série A para apostadores.

28/09/2005

O árbitro Paulo José Danelon, suspeito de manipular resultados de jogos, presta depoimento na sede da Superintendência da Polícia Federal. O promotor Roberto Porto, do Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado, afirma não ter dúvidas de que o árbitro Paulo José Danelon, assim como Edilson Pereira de Carvalho, está envolvido no escândalo da arbitragem.

Rebaixado para a Série C em 2006, o Vitória, da Bahia, tenta aproveitar a confusão do escândalo da arbitragem e cogita uma virada de mesa para se manter na segunda divisão.

Em depoimento à Superintendência da Polícia Federal, o árbitro Paulo José Danelon confirma participação em manipulação de algumas partidas do Campeonato Paulista.

O apostador Nagib Fayad é liberado da Superintendência da Polícia Federal, em São Paulo, após ficar cinco dias preso. Em seguida, o árbitro Edilson Pereira de Carvalho, acusado de manipular 11 jogos do Campeonato Brasileiro, é solto, mas acaba sendo agredido por um torcedor do Corinthians, que se identificou como Eliseu.

29/09/2005

O presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, Luiz Zveiter, promete acelerar as investigações sobre os 11 jogos apitados pelo árbitro Edilson Pereira de Carvalho.

A Federação Paulista de Futebol (FPF) cria uma corregedoria para investigar a atuação de seus árbitros.  O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, pode anunciar se algum dos onze jogos - ou mesmo todos - do Campeonato Brasileiro apitados por Edílson Pereira de Carvalho será anulados ou não.

 A quadrilha acusada de fraudar os resultados de partidas de futebol para beneficiar apostadores em sites ilegais de jogos teria movimentado pelo menos R$ 3 milhões somente em 2005.

30/09/2005

Juiz Edilson Pereira de Carvalho, através de seu amigo Daniel de Oliveira, avisa que vai cobrar R$ 15 mil para conceder, com exclusividade, a primeira entrevista após sua prisão.

O empresário Wanderlei Pololi, acusado de ser o responsável pela intermediação entre árbitros e empresários no esquema de corrupção, é preso pela manhã e levado algemado para a sede da Superintendência da Polícia Federal, em São Paulo.

Luiz Zveiter, presidente do STJD, diz que a anulação dos 11 jogos apitados pelo juiz Edilson Pereira de Carvalho pode acontecer mesmo sem a verificação das fitas dos jogos, já que apenas os dados levantados pela comissão de auditores do tribunal devem ser suficientes para que a decisão seja tomada.

Armando Marques, presidente da Comissão Nacional de Arbitragem, deixa o comando da organização com o escândalo da arbitragem. Em seu lugar, assume o vice-presidente Edson Resende, também ex-árbitro e ex-delegado da Polícia Federal.

Ricardo Teixeira, presidente da CBF, exime a entidade de responsabilidade e deixa a decisão sobre a anulação dos 11 jogos comandados por Edilson Pereira de Carvalho na mão do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva).

01/10/2005

O presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, Luiz Zveiter, marca para domingo, às 11h (de Brasília), na sua residência, uma entrevista para anunciar a decisão sobre os 11 jogos apitados pelo juiz Edilson Pereira de Carvalho.

02/10/2005

O presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), Luiz Zveiter, anuncia a anulação dos 11 jogos apitados pelo árbitro Edilson Pereira de Carvalho no Campeonato Brasileiro.

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) escolheu datas para a repetição de oito dos 11 jogos anulados pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) após a descoberta do esquema de manipulação de resultados.

A primeira rodada será no dia 12/10, quarta-feira, às 16h (de Brasília): Vasco x Figueirense, Cruzeiro x Botafogo, Santos x Corinthians e Juventude x Fluminense.

Já a segunda rodada será disputada no dia 19/10, também quarta-feira, mas às 20h30: Vasco x Botafogo, Juventude x Figueirense, Paysandu x Cruzeiro e Ponte Preta x São Paulo.

Os jogos restantes (São Paulo x Corinthians, Fluminense x Brasiliense e Internacional x Coritiba) serão programados em função do andamento da Copa Sul-Americana.

 

Quem é Edílson Pereira de Carvalho

Edílson Pereira de Carvalho nasceu em Jacareí, São Paulo, em 4 de agosto de 1962, é um ex-árbitro de futebol internacional pertencente aos quadros da FIFA. Religioso, antes de cada jogo ele sempre seguia o mesmo ritual: levantava seus cartões (amarelo e vermelho), que eram personalizadas com a inscrição Deus é Fiel, e rezava no centro do campo. Ele é casado, tem uma filha e atualmente mora em Jacareí, São Paulo.

Quando jovem, tentou se tornar um jogador de futebol fazendo um teste no São José Esporte Clube, mas não foi aprovado. Em 1991, iniciou a carreira de árbitro. Três anos depois apitou seu primeiro jogo profissional pelo Campeonato Paulista de Futebol.

Tornou-se árbitro internacional em 2000, por indicação de Armando Marques, então presidente da Comissão de Arbitragem da Confederação Brasileira de Futebol, em substituição ao árbitro Dacildo Mourão.

Edilson Apitou em importantes competições como o Campeonato Brasileiro, Campeonato Paulista e torneios internacionais, como a Copa Libertadores e a Copa Sul-Americana, sem nunca, porém, chegar a uma Copa do Mundo.

Entre os jogos mais importantes de que participou estão as duas partidas das semifinais da Copa Libertadores da América de 2000 entre Corinthians e Palmeiras.

Em 2003, foi acusado de submeter à Federação Paulista de Futebol um falso comprovante de conclusão do ensino médio, requisito básico para qualquer um tornar-se árbitro no país. A acusação nunca foi confirmada pela Federação.

Em 2005, foi acusado de insultar os jogadores argentinos Sebá e Carlitos Tévez, durante uma partida entre São Paulo e Corinthians.

Figura central do escândalo da Máfia do Apito em 2005, Edilson foi acusado de receber entre dez e quinze mil reais fixo por jogo, fato que levou a Confederação Brasileira de Futebol a anular onze partidas por ele apitadas, e a determinar que essas partidas fossem novamente realizadas.

Edílson Pereira de Carvalho foi suspenso em 24 de setembro de 2005, e posteriormente banido do futebol. Ele também foi acusado de fraude, conspiração e crimes contra a economia. Em sua defesa alega que só chegou a tal atitude em razão de não ter como honrar uma dívida que possuía no valor de quarenta mil reais.

ANTONIO CARLOS LACERDA é Correspondente Internacional do PRAVDA.RU. E-mail:- [email protected]

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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