Genialidade de Maradona, Porões da FIFA e Decadência do Futebol Brasileiro

Genialidade de Maradona, Porões da FIFA e Decadência do Futebol Brasileiro

 

Foi-se o gênio argentino que ousou enfrentar poderosos cartolas. Não sem ser perseguido, enquanto o Brasil, cuja decadência é evidente há décadas, sempre gozou de força política nos porões da FIFA


Edu Montesanti

Tributo ao gênio. Vale recontar determinada fase da vida esportiva de Diego Armando Maradona, da escola futebolística que mais tem se desenvolvido nas últimas décadas: exatamente a argentina.

Maradona, quem ousava desafiar os bilionários porões do poder do futebol, jogava muito mais que com genialidade: desfilava em campo com a peculiar alma argentina, marcante garra assim como sempre viveu desde tempos de infância, nas favelas da cidade de Lanús (grande Buenos Aires).

Exatamente pela mescla de genialidade com marcante personalidade (virtude de poucos nos superficiais tempos atuais), em momento de suma importância à carreira do atleta e à equipe que enchia os olhos do mundo, Maradona e sua seleção acabaram brutalmente eliminados por uma máfia desavergonhada, exatamente a FIFA comandada então pelo brasileiro João Havelange e suas cartas marcadas envolvidas em um sistema que, intencionalmente, faz com que o melhor nem sempre vença.

Agressiva, impiedosa quadrilha que intimida e cala o mundo esportivo, jornalístico e político em absolutamente todos os lugares do planeta. De quem o menino pobre que seria autor de um do gol mais espetacular da história do futebol (vídeo) nunca teve medo, pelo contrário: sempre enfrentou mesmo em seus derradeiros momentos de vida na condição de comentarista, enfrentando de frente, expondo-a ao mundo todo - não sem ser ignorado e até ridicularizado inclusive no Brasil, que deveria separar rivalidade futebolística da razão, da ética e da justiça, quando o assunto é futebol e nos mais diversos segmentos da vida.

Vale muito a pena também, junto desta homenagem ao gênio Dieguito, repensar o próprio futebol brasileiro, e tentar entender o porquê do pateticamente folclórico "jornalismo" esportivo internacional, muito mais voltado ao entretenimento e à imbecilização das massas que ao seu verdadeiro ofício, tão ensinado nas faculdades quanto ignorado já ali mesmo: informar e gerar senso crítico baseado nos seguintes princípios jornalísticos: objetividade, imparcialidade, ética e transparência.

Recontando a Copa de 94: Tributo ao Gênio


O jornalista britânico Andrew Jennings declarou, no Senado brasileiro em 2015, que a máfia corrupta que toma conta da FIFA teve início na década de 1970, quando o brasileiro João Havelange presidia a entidade. Blatter sucedeu Havelange, e era o principal assessor do dirigente brasileiro quando este esteve à frente da FIFA.

Na premiação da Copa do Mundo de 1990 na Itália, Maradona subiu ao pódio chorando copiosamente a fim de receber a medalha de prata: havia perdido para a Alemanha, 0-1, que fizera gol através de pênalti apontado pelo árbitro nos últimos minutos da partida de maneira, no mínimo, muito duvidosa.

O eterno camisa 10 argentino estendeu a mão a todos os dirigentes naquele pódio, menos a Havelange, então presidente da maior entidade do futebol mundial, o qual ninguém ousava enfrentar mas o craque argentino, sim, já vinha denunciando há anos, afirmando que "a FIFA é a pior inimiga do futebol". 

 

Naquela solenidade final no Estádio Olímpico de Roma, Maradona deixara o dirigente máximo do futebol abanando a mão direita, totalmente constrangido em busca do aperto jamais dado pelo brioso camisa 10 da alvi-celeste.

Quatro anos mais tarde, foi direcionada exatamente a Havelange a "careta" desafiadora de Maradona (vídeo), quase enfiando o rosto na câmera após marcar o terceiro gol (dos mais eletrizantes de toda a era do futebol) da Argentina na vitória de 4-0 sobre a Grécia na estreia dos argentinos, que seria o mais belo daquela Copa do Mundo de 1994 nos Estados Unidos, em jogada que parecida com um fliperama "e não se sabia onde estava a bola", conforme apaixonadamente narrado pelo jornalista argentino Victor Hugo.

O estádio se colocou de pé, os milhares de espectadores se olharam desacreditados uns aos outros diante daquela jogada em que "toda a maquininha [de fliper] parecia azul", de acordo com o sempre apaixonado Victor Hugo. Mescla de obediência tática, inteligência, muita raça (com certo toque de fúria) e extrema fineza no toque de bola, peculiaridades argentinas.

O público presente nos Estados Unidos e o próprio mundo em busca de futebol-arte naquele evento, estavam empolgados com as apresentações da Argentina comandada por Dieguito.

Após ter estufado a rede grega com brava maestria, era clara a mensagem de Maradona ao politiqueiro engravatado da FIFA naquela fantástica e até raivosa comemoração que retratou - assim como a própria jogada magistral que havia culminado naquele golaço em meio a gregos perdidos correndo de um lado a outro - o estado de espírito do jogador, e de toda a equipe que brilhava sozinha, que primava pela técnica, pela raça, pela obediência tática, pela condição física, pela contagiante vibração em um mundial paupérrimo do ponto de vista técnico: "Estou vivo!".

No segundo jogo, mais uma bela apresentação em que a seleção argentina venceu a fortíssima Nigéria por 2-1, Maradona acabou "sorteado" para o exame anti-dopping. Curiosamente, a biomédica responsável pela coleta de material para tal exame foi até o meio do campo logo após o término da partida, e buscou o craque portenho levando-o pela mão para fora dali. Maradona apenas sorria e comemorava mais um grande jogo: a Argentina estava virtualmente classificada paras as oitavas-de-final, e não parecia haver, naquele momento, rival á sua altura - mesmo o apático Brasil com grandes nomes (Raí, Bebeto, Romário, Taffarel), e baixíssimo rendimento técnico.

Completamente arrasada do ponto de vista psicológico, a anteriormente vibrante Argentina liderada por Maradona, que não tinha rival á altura, acabou eliminada pela Romênia nas oitavas-de-final, perdendo por 2-3.

Em entrevista coletiva (vídeo) após resultado positivo do exame de dopping, Maradona jurou pelas filhas diversas vezes não ter feito uso de efedrina. "Não preciso, como nunca precisei de estimulante". À época, parecia sintomático o estranhíssimo cenário na saída do campo, mais ainda se levando em conta o resultado do exame; hoje, é praticamente impossível acreditar que a FIFA de Havelange não havia arquitetado a eliminação de Maradona do Mundial, e que a biomédica fora movida por mera "tietagem" em relação ao astro argentino para romper o protocolo daquela maneira ridícula (ao que tudo indica, uma espécie de provocação a fim de gerar reação de Maradona frente às câmeras, e adiantar sua "culpa" a todo o mundo).

Já o Brasil, que se tornaria campeão nos pênaltis após fraco 0-0 com a Itália em 120 minutos de futebol sem nenhum atrativo, em sua partida mais difícil naquele mundial, contra a Holanda nas quartas-de-final (3-2), fora gritantemente beneficiado na marcação da falta que, no final da partida que caminhava à prorrogação (com o adversário com moral superior, só crescendo), deu origem ao gol de falta do lateral-esquerdo Branco.

 

Este autor teve a honra de aprender a admirar de perto o adorável Dieguito, como todos os jogadores argentinos: em 1997, quando este que escreve lutava por um lugar ao sol do futebol da terceira divisão da Argentina (e muito bem tratado), no Ituzaingó da Grande Buenos Aires (região oeste), Maradona liderou greve geral de todas as divisões, por parte de todos os futebolistas na Argentina em favor de um único atleta que estava sem receber salário. Por cerca de dez dias apenas treinamentos, sem jogos oficiais em todo o futebol proffisional argentino. Este era o Dieguito! Adorado por todos.

 

A Balança da FIFA que Pende para Um Lado Só


Em relação aos anos de Havelange, ou mesmo de Blatter é tarefa bastante difícil se recordar de fato em que a seleção brasileira tenha sido prejudicada por erros de arbitragem, com exceção da camiseta de Zico rasgada dentro da área adversária no jogo contra a Itália na Copa do Mundo de 1982 na Espanha, em que a seleção brasileira acabou desclassificada nas quartas-de-final (2-3).

Pelo contrário: nos anos de Havelange, a "seleção-canarinho" foi beneficiada contra a dificílima União Soviética na primeira fase da Copa de 1982, e na estreia da Copa do México em 1986 através de evidente gol da Espanha anulado, apenas para ficar nos fatos mais marcantes.

Antes e principalmente depois de Havelange, com a ascensão de seu principal assessor Blatter a história pende a favor do Brasil, politicamente muito forte nos bastidores da "cartolagem" mundial.

No mundial de 1962 no Chile, quando o inglês Stanley Rous presidia a FIFA, o pênalti não marcado para a forte Espanha que, no último jogo da primeira fase daquela Copa, poderia ter tirado o Brasil (já sem Pelé) daquele mundial, é outro "erro" gritante.

Já nas semifinais, no duelo contra os donos da casa em que a seleção brasileira venceu por 4 - 2, Garrincha foi expulso. Segundo o regulamento, o maior astro brasileiro em campo, que fazia toda a diferença em favor do Brasil, não poderia jogar a patida final contra a Tchecoslováquia, o que enfraqueceria seriamente o escrete nacional já desfalcado de nada menos que Pelé, contundido na primeira fase do torneio.


Mas o brasileiro Abílio de Almeida, vice-presidente do Setor de Arbitragem da FIFA, conseguiu, internamente, fazer com que a entidade máxima do futebol internacional burlasse as próprias regras por meios até hoje não revelados: Garrincha acabou entrando em campo contra os tchecos, e o Brasil sagrou-se campeão através da vitória final por 3 -1.

Blatter "garantiu" a presença do Brasil na Copa de Mundo de 2002, quando a seleção nacional viveu uma de suas maiores crises devido aos escândalos envolvendo seu então diretor técnico, Vanderei Luxembrurgo. Em 2001, Eliminatórias para a Copa do ano seguinte, quando até se chegou a duvidar da classificação da seleção brasileira, o apito sempre pendeu para o lado brasileiro em diversos detalhes (inversão de faltas, na aplicação sem critério dos cartões amarelo e vermelho, na anulação e marcação de gols duvidosos).

No mundial de 2002 realizado simultaneamente no Japão e na Coreia do Sul, o Brasil, apático durante quase todo o torneio, acabou "levado" à final contra a Alemanha: favorecido tão indiscutível quanto decisivamente contra a Bélgica nas oitavas-de-final (2-0), e nas semifinais contra a Turquia (1-0).

A Copa do Mundo realizada no Brasil em 2014 foi mais um festival de "erros" em favor do Brasil, ofuscados pelo horror derradeiro envolvendo a seleção brasileira que, nos "baratos" 1-7 contra a Alemanha que "tirou o pé" no segundo tempo, esbanjou as fortes características da sociedade nacional: desorganização, apatia, impossibilidade de reação diante das adversidades.

Logo na estreia, contra a forte Croácia, e na última partida da primeira fase contra o duro México, o apito soou vergonhosamente contra o Brasil, o que, alegado tanto fora quanto dentro do país (embora neste caso não tão intensamente), seguiu-se nas oitavas-de-final contra o Chile (vencido apenas na prorrogação por 3-2, em duríssima partida que, no tempo normal, havia terminado em 1-1), e clamorosamente contra a Colômbia nas quartas (2-1). Até chegar à Alemanha, que anulou qualquer pretensão da "cartolagem" de fazer do Brasil o hexacampeão do mundo, conforme denunciado havia anos pelo jornalista Jorge Kajuru, de credibilidade inquestionável.

Enfim, a lista de "erros" cuja balança pende praticamente para um lado só, é vasta.

Não se trata, aqui, de acirrar rivalidades e nem de se realizar um campeonato aritmético de erros históricos, retirar título de uns e consagrar novos campeões de tempos passados levando a questão a uma rasa discussão de boteco incentivada pela baixa prática jornalística, brasileira e internacional. Já dizia em vida o brilhante escritor uruguaio, Eduardo Galeano: "Há ditaduras visíveis e invisíveis. A estrutura de poder do futebol no mundo é monárquica. É a monarquia mais secreta do mundo: ninguém sabe dos segredos da FIFA, fechados a sete chaves. Os dirigentes vivem em um castelo muito bem resguardado".

Brasil Melhor do Mundo?


Saindo brevemente do campo político para entrar efetivamente no gramado onde a bola é jogada, a realidade é que dentro do Brasil precisa-se perceber que o país deixou, há muito, de ser o melhor futebol do mundo conforme gritado constante e ufanisticamente por "comunicadores" e políticos que tentam anestesiar a nação com falsas alegrias e muita demagogia. Se o futebol brasileiro quiser se reencontrar, deve encarar mais essa dura realidade.

Este autor brincou de bola na equipe juvenil do São Paulo Futebol Clube campeã paulista, posteriormente no extinto Paulistano F.C. da cidade paulista de Jundiaí, para posteriormente passar rápida pelo Club Nacional da 1ª divisão do Paraguai de onde foi levado por dois empresários (inescrupulosos), os ex-jogadores argentinos Carlos Alberto Abal Gómez (Club Lanús) e Orlando Giménez (Lanús e Barcelona da Espanha) ao Atlético Ituzaingó, equipe das divisões inferiores da Argentina, na grande Buenos Aires conforme aontado mais acima, podendo atestar sem titubear: desde cedo, nas quadras de futebol da Argentina entre crianças de 8, 9, 10, 11 anos, o toque de bola, a inteligência, a disciplina, a disposição, a garra, a objetividade e a obediência tática dos meninos argentinos está a um ano-luz de distância dos brasileiros.

Esta triste realidade para os brasileiros mais fanáticos, porém, não se resume à vizinha e "odiada" Argentina (cuja capital federal possui mais livrarias que todo o Brasil de dimensões continentais, para quem ainda acha que futebol é uma coisa, e problemas sociais são outra...).

Os tombos esportivos tupiniquins que "chocam" a nação do futebol e do Carnaval, têm sido mais impactantes justamente por não se enxergar a decadência do futebol brasileiro e ascensão de outras escolas. Porém, prefere-se assistir aos fracassos no cômodo camarote da ilusão à ilusão, também quando o assunto é futebol.

No Brasil o debate é sempre paupérrimo, seja qual for o assunto (política, economia, qualidade de ensino, etc). Mais ainda quando entram em campo os 200 milhões de jogadores da alopradamente apaixonada Pátria de Chuteiras e os representantes da Corrente prá Frente que não admitem autocrítica, os autodenominados "especialistas" em bola no mato, que o jogo é de campeonato: faz-se proibido pensar enquanto, no sentido contrário, os supostos "comunicadores" e políticos em geral jamais ousam "forçar a barra" dos preguiçosos neurônios e da fraca memória nacional.

Da parte deste autor, contudo, acredita-se valer a pena tentar desafiar o imposto e impostor status-quo para que o Brasil, muito além do futebol, seja efetivamente grande e digno - mesmo nas derrotas.

Diante disso tudo, o futebol é evidentemente indissociável do sombrio cenário global. E enquanto negócio globalmente bilionário que talvez só perca para o narcotráfico, tal modalidade esportiva, assim como todas as outras, é assunto que também se discute tanto quanto o futebol envolve questões políticas, sociais e econômicas ao contrário da alienante ideia difundida em terra tupiniquim, vendida pelos usurpadores do poder brasileiro e plenamente aceita pela sociedade local.  

 

Hasta siempre, Diegol!

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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