Nada mais claro...

Se alguém ainda tinha dúvidas, deixou de as ter... A Soberania do País está sequestrada e talvez já não tenha retorno, pelo menos nos anos que nos faltam viver. O Presidente Cavaco Silva, em discurso à nação, acaba de o declarar de modo solene.

Rejeita liminarmente a formação de um governo do PS com uma maioria parlamentar absoluta, apoiado pelas esquerdas. E fá-lo, como justificou, em razão do hipotético mau humor dos Mercados Financeiro... O Comandante Supremo das Forças Armadas, função que lhe compete entre várias, que lhe confere o poder de declarar a Guerra e assinar a Paz, aceita sem pestanejar a "Pax Europeia", por trás da qual se perfilam todos os Agiotas Internacionais, com assento cativo no Clube Bilderberg, sem ter havido um único tiro... Os nossos heróis fundadores do Reino e navegadores devem nesta altura tere-se revolvido na tumba por tão grande dislate presidencial, que roça "levemente" o crime de traição à Pátria...

Para sua Excelência os portugueses que votam nas esquerdas são um risco e uma ameaça lesa Mercados Financeiros. Não é que morramos de amor pelas esquerdas e muito menos temos paixão pelas direitas, mas esta atitude causa-nos engulhos... Causa-nos, porque o Presidente Cavaco Silva, pelo qual chegámos a ter alguma simpatia, parte do princípio que o voto dos cidadãos que votaram nas esquerdas não vale absolutamente nada, embora cumpram, como os demais, os deveres de cidadania. Trabalham, investem e pagam impostos. E como pagam! Mas não vale, e prontos!!! Até parece aquele menino mimado que quer mudar as regras do jogo quando está a perder... Mas foi bom vê-lo partir o verniz... Ficou claro que afinal o Presidente não é "presidente de todos os portugueses", nem mesmo daqueles, poucos com certeza, que tendo simpatias pelas esquerdas, votaram nele no seu segundo mandato... Será que ele pensou nisto? Não! Na cabeça do Professor de Boliqueime só há lugar para os ditos Mercados Financeiros, o resto são trocos...

É lamentável que o "presidente de todos os portugueses" veja o problema desta maneira... Desde logo porque, assumindo-se presidente de uma República dita Democrática, aceita sem pestanejar a submissão de Portugal aos Grandes Interesses Internacionais, considerando que os compromissos assumidos nas costas dos portugueses, como o Tratado de Maastricht e o de Lisboa, para não falar de outros, que nunca foram escrutinados pelo povo, e até já violam o ideário que presidiu à criação da União Europeia, se sobreponham às nossas leis, a começar pela Magna Carta, e já agora, às nossas tradições, que evoca, mas na hora agá dá com os "burros n'água"... Muito lamentável mesmo. Noutra época, tal provocaria a deposição do Rei... Se calhar por ser Presidente e por ser tradição... fica tudo na mesma.

A tradição, uma palavra que temos ouvido muito nestes dias, já não é o que era... O Presidente da República, para justificar a indigitação de um governo, que está ameaçado de cair, mal ponha os pés em São Bento, evocou a tradição como critério quase absoluto das suas preferências políticas. Esqueceu-se da tese do "governo estável", com uma base parlamentar maioritária... E, pelos vistos, a tradição o é também da bancada das Direitas, como ouvimos quando o seu candidato à Presidência da Assembleia da República, Fernando Negrão, foi preterido a favor de um seu colega das Esquerdas, Ferro Rodrigues, eleito pela maioria absoluta dos seus pares. Mais tradicional do que isto, não é possível. Todavia, se de facto a tradição deve passar a ser rega no Parlamento, então tradição por tradição, quem deveria ter o direito de governar Portugal devia ser o actual herdeiro à Coroa Portuguesa, D. Duarte Pio, Duque de Bragança, uma vez que a Monarquia tem cerca de oito séculos e a República, ainda é uma adolescente com a testa cheia de acne... Bem que poderiam ser mais imaginativos, mas não, foram logo escolher a tradição...

Artur Rosa Teixeira

([email protected])

Ponta Delgada, 24 de Outubro de 2015

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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