A propósito da Cimeira e do manifesto dos escritores

João Craveirinha

É de se concordar que se façam os manifestos cívicos que se quiser mas…muitos o fazem de “barriga cheia”…Manifestos sim. Mas demagogia tipo acompanhar a moda, não.

Para reflexão dos que embandeiram em arco (ou se tornam papagaios) sobre o manifesto dos escritores sobre África e a Cimeira em Lisboa. Tudo indica que a maioria dos dirigentes africanos (e não só) nem tem conhecimento desse manifesto. É óbvio que sabemos muito bem quem desses escritores por oportunismo se aproveitam da "boleia" dos consagrados para projectarem ainda mais a sua imagem sobretudo em Portugal.

No entanto temos de salientar, pela positiva, casos como o do combatente da liberdade em África, o Prof. universitário e filósofo nigeriano, Wole Soyinka - por demais conhecido - que sempre combateu a ditadura de seu país - por tal perseguido durante anos e anos pela ditadura (de então) de seu país, mesmo no seu exílio em Londres com protecção policial inglesa para onde ia dar conferências no mundo - ao contrário de alguns que pactuaram e se beneficiaram e se projectaram com o actual regime de Moçambique (na altura ainda não reciclado) e nos piores momentos (snasps et cetera através de órgãos de informação) e surgem comodamente agora em Moçambique, como campeões não sei de quê sem o necessário acto de contrição que exigiram aos outros dos ditos campos de reeducação e exigem hoje em “oposição” em democracia que temos. Por isso podem dizer o que dizem e antes nunca. A contradição dos tempos. Com a ditadura foram cúmplices (e nunca pediram desculpas em apoiar na imprensa escrita, rádio (RM) e mesmo televisão (TVE), os campos da morte). Hoje, em democracia, são do contra.

No fundo uns querem é protagonismo para se exibirem na Europa falando mal de África a torto e a direito fora de contexto global. Tornou-se moda. No entanto nunca levantaram a voz sequer uma vez contra a discriminação, racismo, xenofobias, violação de direitos humanos de imigrantes, da mulher (e não só), agressões, e, pelo menos uma ou outra morte em Portugal e na Alemanha (por sinal um estudante moçambicano). Racismo violento e subtil que grassa na mesma Europa.

No entanto, pelo contrário, pactuam em coro contra África de uma forma cega dando material aos que numa visão colonial e cheia de preconceito, se referem a esses “manifestos como prova da incapacidade do negro” e da necessidade de “nova recolonização” do Continente africano pela Europa do “branco” através de projectos como forma de “travar” o avanço da China (Beijing) em África.

No caso da crítica jornalística é preciso saber escrever sem dar "munições" aos que estão contra. Para isso é preciso independência de pensamento. Coisa que a maioria dos jornalistas e jornais em Moçambique ainda não sabem o que é. Heranças do antigamente do mono-partidarismo e de outros complexos coloniais à espera de um “patrão” para os dirigir (sempre os mesmos). Por outro lado panfleto textual não é jornalismo.

É propaganda para um lado ou para outro. Querem fazer de oposição ao regime no poder talvez porque não conseguiram ter um pouco do “bolo”. Pena é que muitos deles nunca verão a oposição tomar o poder para (eles) saírem do lado contra o "main stream". Sem uma base de escrita jornalística a sério em termos da linguística da comunicação (e grafismo) será difícil mas não tão complicado como poder parecer. Humildade com dignidade é uma das qualidades exigidas.

Jornalismo não é “escarrapachar leads duvidosos” e sensacionalistas para vender e se promoverem em Portugal e resto do mundo, pela negativa. As fontes tem sempre de serem aprofundadas e não se ficar pelas aparências. Mas para isso é preciso pensar, repensar sobre o assunto e sobretudo investigar.

Por outro lado se a oposição tomar o poder em Moçambique (um dia quem sabe?!) gostaria de ver o “corajoso” que iria chamar de “vendedor de perdizes” a quem -, por exemplo, a esse Presidente (saído da oposição) e o que lhe aconteceria.

Para ser jornalista a sério é só ter um pouco de visão e coragem mas sobretudo saber escrever. Todavia, isso não se encontra no “tchunga-moio” na Beira (Aroângua kuSena) ou no “dumba nengue” da esquina ou na churrasqueira da AEMO ou do Aziz em Maputo. Para não dizer de outros locais com “tontonto ou antoninhos na mesa” para inspirar alguns, talvez, devido à fermentação dos ácidos, a ver se dá algum talento tipo tchova xitaduma mental - que não se encontra no fundo da garrafa, definitivamente.

JC

Adenda:

O importante é ter-se a "barriga cheia" mas nunca se esquecer dos que não a têm e sobretudo que também devido às próprias posições de consciência política já se passou fome, calor e frio, muita insónia e receio de ser preso e morto. Como é o caso do filósofo Wole Soyinka. Na imagem em baixo, o Prof. Wole Soyinka, embaixadora da Nigéria, numa conferência em Haia na Holanda sob o tema: “TRADITION AND VECTORS OF EXPRESSION”. Note-se que o actual governo nigeriano tem um relacionamento “normal” com o filósofo. Na imagem, o conferencista está inserido numa montagem para se ter uma visão simultânea da audiência. Clicar no sítio anexo, para ver detalhes da conferência e jantar em honra do filósofo Soyinka na residência da embaixadora da Nigéria na Holanda, Drª. Awolowo Dosumu. JC

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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