Programa de Comparação Internacional

Fonte IBGE Base: Ano de 2005

Introdução

Em 2003, o Banco Mundial iniciou uma versão mundial do Programa de Comparação Internacional (PCI), visando medir as paridades de poder de compra (PPC) e os níveis correspondentes de preço e volume do Produto Interno Bruto (PIB) numa base comparável para mais de 100 países, agrupados em 5 regiões1. Apesar de as comparações que envolvem PIBs ajustados para paridades do poder de compra não estarem ainda prontas, já existem resultados regionais preliminares para o maior componente do PIB – o consumo domiciliar.

Esses resultados comparam dez países sul-americanos cujos preços ao consumidor foram pesquisados em 2005 no intuito de computar PPCs e aplicá-las ao consumo domiciliar para o mesmo ano. O consumo domiciliar na região da América do Sul é responsável, em média, por dois terços do PIB. Portanto, é improvável que, uma vez estimados, os outros componentes da despesa nacional possam causar mudanças significativas no ranking do PIB per capita ou qualquer mudança significativa nas paridades nacionais.

Destaques:

• Em 2005, Argentina, Chile e Uruguai estavam relativamente em melhores condições do que os outros países sul-americanos

Baseando-se nos dados estimados em 2005, não há grandes surpresas no ranking dos três primeiros países em comparação à situação de dez anos atrás. A Argentina no topo, em termos de despesas per capita2, com bens e serviços domiciliares, em torno de 60% acima da média regional. Chile e Uruguai aparecem em seguida, com respectivamente 48% e 43% acima da média. Paraguai e Bolívia continuam no final da tabela, o primeiro com dois terços da média regional e o segundo com 52%. O grupo do meio está menos disperso, com a Venezuela no topo, um pouco acima da média, e a Colômbia em torno de 20% abaixo da média. O Brasil está em sexto lugar no ranking, aproximadamente 10% abaixo da média regional.

• Em 2005, os países mais caros para se viver foram Chile, Brasil e Uruguai; Paraguai e Bolívia foram os mais baratos

A melhor forma de aplicar paridades de poder de compra é determinar níveis de preço comparativos, ou em linguagem mais simples, onde é mais (ou menos) caro para se viver. Se algum visitante de fora da região se locomovesse de algum país para o outro e comprasse rigorosamente a mesma cesta de bens e serviços, ele observaria que teria gasto o maior valor no Chile e o menor valor no Paraguai e na Bolívia.

Quando se comparam níveis de preços com as despesas per capita, deve ser notado que os países com os maiores níveis de preços não são necessariamente aqueles com as maiores despesas per capita. O nível de preços é maior no Chile e no Brasil do que na Argentina.

• Argentina gasta mais do que os seus vizinhos na maioria dos itens domésticos, porém Uruguai lidera em despesas de transporte

Como as despesas per capita de grupos específicos de bens de consumo e serviços podem ser comparadas? Apesar de os preços serem coletados para grupos e serviços específicos, as despesas per capita dependem tanto dos dados de preços (PPCs) como das estimativas de despesas das contas nacionais. No entanto, as estimativas mais detalhadas de contas nacionais de despesas são de fato agregadas, tais como alimentação, vestuário, etc. Mesmo quando alguma informação detalhada das contas nacionais está disponível, ela não é totalmente comparável entre países. Além disso, valores para educação e saúde, pública e privada, são apresentados juntos visto que os resultados não são suficientemente robustos para serem apresentados separadamente. Quando os resultados do PIB como um todo forem publicados no final do ano, educação e saúde, pública e privada, serão apresentadas em quatro categorias diferentes.

• Livros são caros no Chile, Brasil e Venezuela, porém baratos na Argentina

Embora as estimativas de gastos per capita para alguns produtos específicos não sejam muito confiáveis, as PPCs para alguns produtos específicos o são. Em conseqüência disso, algumas comparações específicas podem ser feitas nos dez países.

A carne é muito mais cara no Chile do que em países que produzem esse produto, tais como Argentina e Paraguai. O café, por sua vez, é relativamente mais caro no Chile e no Uruguai, e não é nenhuma surpresa que seja mais barato no Brasil. Menos óbvio é que os produtos farmacêuticos sejam caros no Uruguai e no Brasil, porém baratos no Chile e no Equador. Veículos automotores são mais baratos no Chile e na Argentina, porém, no Brasil, que é o maior país produtor, os preços não estão longe da média regional. Livros são caros no Chile, Brasil e Venezuela, porém baratos na Argentina. Equipamento de vídeo e produtos eletrônicos são mais baratos no Chile e na Colômbia. Jantar fora é mais barato no Brasil, na Bolívia, Paraguai e Colômbia, mas é caro nos países com a maior renda per capita (Argentina, Chile e Uruguai).

• A extrapolação de dados para um longo período de tempo conduz a resultados enganosos e aumenta a lacuna entre “os que têm” e “os que não têm”

Os resultados obtidos nesta versão diferem significativamente das estimativas baseadas na última, extrapoladas para o presente3 em base em uma série de indicadores básicos, com destaque para os índices nacionais de preços ao consumidor.

Se alguém compara osresultados presentes com aqueles extrapolados a partir das PPCs de dez anos atrás, o ranking dos países em termos de despesas per capita é similar. Porém, a diferença entre o país com o maior gasto per capita (Argentina) e aquele com o menor gasto per capita (Bolívia) é bastante exagerada nas projeções. As novas estimativas apontam que a razão de um para o outro é de três para um em vez de cinco para um. Além disso, a variabilidade total dos novos números per capita é apenas dois terços daqueles extrapolados. Em geral, as novas estimativas mostram que os pobres não são tão pobres como as estatísticas convencionais apontam e que os ricos não estão relativamente tão bem quanto se acreditava.

Os níveis de preços extrapolados não se comparam tão bem quanto as despesas per capita. Eles não apenas aumentam a dispersão em torno da média regional como também alteram o ranking.

A comparação dos resultados dessa versão do PCI com os dados extrapolados da versão anterior apontam para a necessidade fundamental de calcular paridades regularmente. Na ausência de um programa multilateral que requeira aos institutos de estatística fazê-lo, qualquer análise de quais países são relativamente pobres e quais são relativamente ricos torna-se obsoleta em pouco tempo. Sem resultados atualizados, os formuladores de política terão dificuldade de tomar decisões adequadas e oportunas.

Notas:

1 América do Sul, África, Oriente Médio, Ásia e a Comunidade dos Estados Independentes (antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas).

2 Ao longo do texto, “despesas per capita” se refere às despesas per capita ajustadas pelo PPC.

3 Ver base de dados dos indicadores de desenvolvimento mundial.

Arquivos oficiais do governo brasileiro estão disponíveis aos leitores.

Ricardo Bergamini

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