Brasil: Crise Doméstica Crescente, Acumulando Humilhação no Exterior

Brasil: Crise Doméstica Crescente, Acumulando Humilhação no Exterior

 

Edu Montesanti

 

 

Os Estados Unidos proibiram voos do Brasil porque os casos de coronavírus e as mortes explodiram no país sul-americano, o mais populoso da América Latina, com cerca de 215 milhões de habitantes.

Responsável por aproximadamente metade da população da América Latina, o Brasil registrou 376.669 casos e 23.522 mortes até 25 de maio.

A partir de quarta-feira, 27 de maio, os cidadãos que estiveram no Brasil nos últimos 14 dias não poderão entrar nos EUA a menos que permaneçam pelo menos 15 dias em um país que não proibiu sua entrada, como o México por exemplo, para viajar entao poder ingressar em território estadunidense.

Enquanto o Brasil tem superado mil mortes diárias de coronavírus, a América do Sul é o epicentro mundial do novo coronavírus de acordo com a Organização Mundial da Saúde.

"A ação de hoje ajudará a garantir que os estrangeiros que estão no Brasil não se tornem uma fonte de infecções adicionais em nosso país", disse a secretária de imprensa da Casa Branca, Kayleigh McEnany no último domingo, 24 de maio, sobre as novas restrições de viagem que não afetam o comércio bilateral entre os EUA e o Brasil, disse ela.

Antes do anúncio da proibição dos EUA, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araujo, havia dito que Washington enviaria mil respiradores a seu país, segundo ele parte da "excelente cooperação entre os dois países" (sic), algo não confirmado pelos fatos tanto quanto o envio de tais suprimentos médicos dos EUA para o Brasil. Pelo contrário: o governo Trump tem restringido as importações do Brasil, e não há registro de nenhuma cooperação com o Brasil até o momento.

O coronavírus atingiu o Brasil relativamente tarde, mas o país tem agora a segunda maior taxa de infecção do mundo e a sexta maior taxa de mortes por COVID-19. Agora, o número de mortes no país sul-americano está dobrando a cada duas semanas, em comparação com a taxa de cada dois meses no fortemente atingido Reino Unido.

Enquanto o gabinete de Jair Bolsonaro recusa-se a comentar a restrição dos EUA, seu assessor de relações exteriores, Filipe Martins, manteve a característica do governo Bolsonaro de culpar outrem, especialmente jornalistas: "Ignore a histeria da imprensa", disse o consultor em uma postagem no Twitter, um dia depois so anúncio da Casa Branca.

No mesmo dia, uma cidadã brasileira disse ao presidente Jair Bolsonaro nas ruas de Brasília que o Ministério da Comunicação do Brasil deveria "fazer uma propaganda melhor" de seu governo. Bolsonaro respondeu, dizendo que a "mídia mundial é de esquerda" (sic), na tentativa interminável do governo de Bolsonaro de criar inimigos imaginários.

O mundialmente renomado economista brasileiro Ladisau Dowbor disse a Pravda.ru que Bolsonaro está tentando violar a Constituição para atingir seus objetivos, que não são buscar solução para a pandemia nem ajustar a  desastrosa  economia nacional.

"O presidente está claramente tentando obter instrumentos de poder muito além da Constituição, e diariamente afirma que o caos em que vivemos é resultado de seus inimigos que amarram suas mãos: o Congresso, o Judiciário, a mídia e, é claro, os comunistas, agora ressuscitados pela simples necessidade de Bolsonaro de culpar alguém", destacou o especialista de sua residência, na cidade de São Paulo.

Estratégia semelhante à do presidente dos EUA, Donald Trump, para desviar a atenção, agora culpando a China, qualificada de inimiga americana assim alardeada por seu governo, de produzir o vírus em um laboratório na cidade de Wuhan, sem nenhuma evidência a este respeito.

O ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, disse na segunda-feira, 25 de maio, que a proibição de brasileiros de entrar no país norte-americano "é uma demonstração do fracasso total de uma política externa brasileira completamente subserviente a Washington".

Os índices de popularidade de Bolsonaro no Brasil despencaram, e agora estão abaixo de 30%. Cerca de 50% da população brasileira desaprova seu tratamento da crise. Somando-se à terrível crise de saúde causada pela pandemia, o Brasil enfrenta uma profunda crise econômica e política, à beira de um golpe de Estado de militares aliados ao presidente Bolsonaro. 

 

Também há uma grave confusão social em terras tupiniquins, provavelmente nunca vista na história do Brasil. Diante de uma oposição, especialmente a chamada "esquerda" tupiniquim paralizada, historicamente caduca, completamente distante, divorciada da sociedade. Velho filme, longe de supreender qualquer alma com mínima memória dentro do Brasil.

 

Segundo a autora e cientista política francesa Elodie Brun, especialista em Relações Exteriores, a democracia historicamente frágil do Brasil corre risco agora com Bolsonaro, considerado por ela responsável pela dramática disseminação do coronavírus no país sul-americano.

"O comportamento de Jair Bolsonaro está comprometendo o sistema de saúde brasileiro, e a proteção dos brasileiros ao mesmo tempo", disse a Pravda.ru a pesquisadora do Colegio de México.

"E a democracia brasileira, como provado pela crescente presença das forças armadas para administrar a crise do COVID-19", acrescentou o Dr. Brun em uma entrevista exclusiva da Cidade do México.

O doutor Dowbor, refugiado político nos anos da ditadura militar brasileira (1964-1985), concorda com a doutora Brun: "Os generais encarregados do Exército, da Marinha e da Força Aérea declararam, em conjunto, que defendem a democracia. Quando militares latino-americanos afirmam que defenderão a democracia, devemos nos preocupar".

O declínio no Produto Interno Bruto do Brasil neste ano pode ser de cerca de 4,5%, o que marcaria, segundo dados do Banco Central, a maior queda anual em pelo menos 50 anos. O real é a moeda que enfrentou a pior desvalorização do mundo em 2020, caindo nada menos que 45% em relação ao dólar.

A Polícia Federal do Brasil incriminou, em 25 de maio, um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro no Rio de Janeiro, apontando-o como um dos chefes de uma organização criminosa no país sul-americano dedicada à divulgação de notícias falsas, desde a campanha presidencial de 2018, até o momento.

As atividades criminosas de Carlos Bolsonaro, há muito conhecidas entre os brasileiros, incluem segundo as atuais investigações ameaças contra os oponentes políticos de seu pai. Os Bolsonaro são suspeitos de terem matado Marielle Franco em março de 2018, então vereadora no Rio de Janeiro pelo PSoL.


Juristas brasileiros disseram que a eleição ganha por Bolsonaro poderia ser revogada, e que poderia haver novas eleições sem o atual presidente.

"A situação brasileira é particularmente agravada pela muito baixa legitimidade do atual governo: Bolsonaro foi eleito porque Lula, que era amplamente favorito, foi convenientemente preso na época da eleição com base em acusações absurdas de corrupção. Em vez de unir o país para combater o vírus, as autoridades do governo estão lutando entre si ", observou o doutor Dowbor.

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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