Alckmin, retrocesso internacional

O candidato do PSDB ataca a política externa do governo Lula, acusando-a de "terceiro-mundista" e "ideológica"; e dizendo que ela teria se desviado do seu "leito natural" e dos "valores tradicionais" do Itamaraty.

O candidato tucano gosta também de afirmar que essa política é "irresponsável" e "fracassada".

Para ele, o Brasil errou ao fazer campanha ativa para obter vaga permanente num Conselho de Segurança da ONU.

Os tucanos criticam, também, a ênfase dada pelo governo Lula à cooperação Sul-Sul, à consolidação do Mercosul e à integração da América do Sul, diretrizes que segundo ele, não teriam produzido resultados positivos para o país.

Alckmin critica, ainda, a aproximação com a África e com o Oriente Médio, bem como o papel do Brasil nas negociações comerciais na OMC.

Com o intuito de corrigir esses "erros" e colocar a política externa brasileira de novo em seu "leito natural", o que Alckmin propõe?

Ameaça à integração continental

Em relação ao Mercosul, o candidato tucano afirmou que pretende promover um "grande debate nacional" sobre o futuro do bloco, o qual segundo ele, estaria perpassado pelo "imobilismo".

Para bom entendedor meia palavra basta.

Os defensores da política externa conservadora sempre viram o Mercosul com certa desconfiança.

Para esses conservadores, o ideal é que o Mercosul fosse reduzido a uma simples área de livre comércio.

Desta forma, estaria aberto o caminho para realizar aquilo que os conservadores mais ambicionam: celebrar rapidamente e sem maiores exigências acordos bilaterais de livre comércio com os EUA.

Ou, caso haja vontade do governo norte-americano, aderir à Alca.

Importante lembrar que os Tratados de Livre Comércio propostos pelo governo dos EUA incluem cláusulas que dizem respeito a investimentos (com regras draconianas para o proteção de investimentos estrangeiros) e propriedade intelectual, que acarretam limites para políticas públicas, particularmente na área da saúde.

No caso do Brasil, que tem grandes interesses defensivos nas negociações comerciais, já que possui economia complexa e bastante industrializada, as conseqüências de acordos desse tipo, sejam bilaterais ou multilaterais, seriam trágicas.

Por tudo isto, um hipotético governo tucano fragilizaria o Mercosul e a Comunidade Sul-Americana de Nações.

Retrocesso na relação com África

Os autores do programa de Alckmin já deixaram claro que consideram um absurdo o Brasil ter reaberto embaixadas em países africanos que, segundo eles, a "maior parte da população brasileira sequer sabe onde ficam".

Os alckmistas deveriam, pelo menos, reconhecer que ao longo dos três primeiros anos do governo Lula, as exportações brasileiras para a África subiram de US$ 2,36 bilhões para US$ 6 bilhões, um crescimento de cerca de 160%, bem acima do incremento médio das nossas exportações, que foi de 96%.

Boa parte desse resultado deve-se ao esforço diplomático e comercial despendido pelo governo Lula.

O mesmo pode ser dito em relação ao Oriente Médio.

Os países africanos e do Oriente Médio têm voz e voto na OMC e na ONU, bem como em outros foros multilaterais.

Caso Alckmin decida realmente rever essa diretriz da política externa brasileira, poderemos ter prejuízos comerciais e diplomáticos de monta.

Política externa progressista

As nossas exportações para a Associação Latino-Americana de Integração cresceram de US$ 9,9 bilhões, em 2002, para 25,4 bilhões, em 2005, um aumento de 156%.

A Aladi já absorve cerca de um terço das nossas exportações de manufaturados, superando até mesmo o gigantesco mercado norte-americano, que absorve cerca de 22% dessas exportações.

As diretrizes da política externa do governo Lula aumentaram em muito o nosso protagonismo no continente americano e globalmente.

A criação do G20 permitiu articular os interesses dos países em desenvolvimento na OMC, algo essencial para que nosso país obtenha acesso mais amplo aos mercados dos países desenvolvidos.

Essas iniciativas converteram o Brasil em ator internacional de primeira linha.

A política externa proposta por Alckmin, se fosse aplicada, nos faria retroceder ao papel de segunda ou terceira linha que tínhamos em passado recente.

A relação com os países ricos

Durante o governo Lula, aumentaram nossas exportações para os principais países e blocos desenvolvidos (EUA, Japão, União Européia e Canadá).

O crescimento das exportações para EUA, Japão, União Européia e Canadá foi, no triênio 2002-2005, de 60,1 %, dentro da média do crescimento das exportações mundiais no período (60%).

Portanto, as diretrizes de política externa do governo Lula não implicaram em abandonar ou diminuir as relações entre o Brasil e os países ricos.

É um equívoco acreditar,como faz Alckmin, que tais relações - tanto as comerciais e econômicas, quanto as políticas e diplomáticas - só podem prosperar mediante alinhamento automático e pela volta à subalternidade que prevalecia no passado.

Brasil quer ter assento no Conselho de Segurança

Outro ponto alto da política externa de Lula, também criticado por Alckmin, é a ênfase em parcerias estratégicas com países emergentes, como China e Índia.

Essas parcerias são essenciais para o desempenho de nossas exportações e para melhor projetar os interesses brasileiros no exterior.

A política externa proposta por Alckmin constitui um retorno à política externa de Fernando Henrique, que foi um desastre sob diversos aspectos: gerou gigantescos déficits comerciais, aumentou a vulnerabilidade externa da nossa economia e diminuiu o nosso protagonismo no cenário mundial, resultado do alinhamento subalterno do governo FHC aos interesses de nações poderosas.

Alguém por acaso se lembra de alguma grande realização de política externa ao longo dos 8 anos do governo FHC?

Alckmin parece acreditar que a política externa de Lula baseia-se numa superestimação do nosso papel no mundo.

Na realidade, a política que ele defende é que se assenta na subestimação da dimensão e do potencial do Brasil. O nosso país não merece esse retrocesso.

Fonte: PT

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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