Hora da engorda

Hora da engorda

 

Jolivaldo Freitas

 

Quem não se preparou o ano inteiro, perdeu pelo menos dez quilos e murchou a barriga e "chupou" o rosto - era assim que se dizia antigamente quando a pessoa emagrecia tanto que as maçãs do rosto sumiam e os olhos esbugalhavam - está lascado, lenhado e no cecê da cobra. Quando chega o mês de dezembro passamos a vivenciar o período de engorda. Um processo de engordar que não tem como vencer. Por mais força de vontade e atitude que se tenha. A não ser que vá passar pelo menos oito horas diárias denytro de um a academia, malhando como se fosse maratonista para poder manter as medidas, o colesterol baixo e não virar um tonel de gordura.

É sempre assim quando vem o período dos festejos natalinos. Passada a primeira semana do mês a empresa onde se trabalha convoca - e você que não vá - para a festa de fim de ano e todo mundo cai de boca num churrasco, pois se tem coisa que não dá para ficar só olhando enquanto os outros se acabam na gulodice é churrasco e o mesmo vale para a pizza e para feijoada completa, daquela de comer e chamar o médico amigo para ir buscar no restaurante.

Também é o período em que empresas de clientes convidam o tempo todo para evento comemorativo - para ajudar a comemorar os bons resultados, a parceria ou esquecer o ano ruim que passou e o ano de 2018 foi péssimo para a maioria das pessoas - comemoram tudo o que tem direito e ninguém vai resistir a um bom prato seja lá do que à parmegiana, ao barabacue ou mesmo um singelo enfrentar de cachorro-quente e hambúrgueres.

É quando os amigos inventam queijos e vinhos em casa ou a confraternização anual (e você que não foi ano passado não tem desculpas a dar este ano e todo mundo sabe que sua avó morreu faz tempo) e são litros de cerveja, vinhos e vodca e toneladas de massas, carnes e peixes e se você não cai de boca (os amigos, ah! Amigos servem mesmo para isso) jogam por sua goela abaixo e você não vai regurgitar é claro, pois seria pior: gozação para o ano novo inteiro.

E lá vem os parentes que passaram o ano inteiro sem sequer passar um zap, um e-mail, um sinal de fumaça, mas que, quando baixa o espírito natalino fazem questão de você aparecer para comer aquele pernil, um peru (no bom sentido), um fricassê, panetone ou o famigerado arroz com passas e você que chegue lá e faça doce, diga que está de regime, que comeu antes de sair de casa, que está enjoado, que não tem apetite que será hostilizado e a primeira a falar mal será a cunhada. Pior é que quando termina o jantar e você ainda tem de levar uma quentinhá substanciosa parecendo que o dono da casa quer mesmo é se livrar de ter de guardar no freezer o que restou do jantar.

Pois, de casa em casa, de restaurante em restaurante, empresa, clientes, paneotones, pão de Natal, queijo e até fatia de parida a pança vai crescendo como se ganhasse vida própria e quando menos se espera até oi espírito do Natal engordou. E você leva mais uns meses para emagrecer. E quando já está chegando lá, pronto ou pronta para correr a São Silvestre chegam de novo os festejos de fim de ano. E volta o desalento. Quem tem tendência a engordar sofre da síndrome do Mito de Sísifo. A agonia não para. Mas que é um período gostoso, isso é, e que se lenhe a balança. Vou cair de boca (no bom sentido).

Escritor e jornalista: [email protected]

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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