Brasil: Diga não ao retrocesso diante da ameaça do fascismo

Brasil: Diga não ao retrocesso diante da ameaça do fascismo

 

Marivaldo do Amaral*

 

"Precisa-se de matéria prima para construir um país." Quando João Ubaldo Ribeiro, autor de tão célebre constatação, cunhou esta frase, ele afirmava com veemência aquilo que todos que conhecem o ambiente político ou a história política do Brasil sabem: a corrupção não é uma marca de um partido, é fruto de um sistema político viciado e desonesto com a população que visa manter o controle das massas através de discursos supostamente honestos, mas que na verdade objetiva apenas ocupar o poder para pôr em prática tudo que se condena. O Brasil já provou desta conduta em 2016.

Por não aceitarem o que as urnas haviam dito em 2014, de forma irresponsável, sem preocupação com a população, inviabilizaram o governo Dilma para sustentarem a justificativa que achavam ser a perfeita: vamos tirar o PT para acabar com a corrupção. A partir de então, o que assistimos foi uma sequência de descobertas que levaram os batedores de panelas a silenciarem decepcionados diante de tanta aberração  do governo Temer, das malas de dinheiro do Aécio, da descoberta de que a corrupção na Petrobras vem acontecendo desde a década de 1980. Enfim,  toda uma sequência de perdas de direitos que a população brasileira tem vivido de 2016 pra cá.

Este segundo turno não se resume à disputa raivosa entre petistas e antipetistas, peemedebistas-demistas-psdebista, ela vai muito além disso que os portadores do ódio tentam polarizar. Não estamos diante, apenas, de uma disputa de quem é contra ou a favor de um partido, seja ele qual for. Estamos diante de um risco do aumento da violência urbana, da perda do 13º  salário, do retorno ao trabalho escravo no país, do fim da escola pública gratuita, do fortalecimento dos homens que agridem mulheres, da legitimação do racismo como política de governo, do assassinato aos homossexuais, do genocídio dos jovens negros das periferias que, em um estado de intolerância com armas, entrarão na estatística da máxima que preconiza "bandido bom, é bandido mirto".

Estamos diante da ameaça do fascismo!

As urnas nos mostram que parte dos brasileiros reconhecem os acertos do governo Lula, em que pese as falhas que precisam não serem mais cometidas. A outra parte da população - em um total sinal de desesperança, descrença na classe política e nas instituições - resolveu apostar na aventura do candidato do PSL, jogando o Brasil no abismo. A maior prova de que esse candidato não tem condições de governar um país é que ele se nega a fazer o debate e apresentar propostas. Aliás, ele até apresenta propostas, mas coisa do tipo: pobres e ricos pagando o mesmo percentual de imposto de renda, o fim do décimo terceiro salário e o fim da escola pública gratuita ( as famílias pobres passarão a depender de uma bolsa para os filhos terem acesso a escola, ferindo a constituição que assegura a educação como um direito de todos e dever do Estado).

 

Eleição não é uma gincana!

 

Na consulta popular se decide o futuro de um país, além de revelar o que é este país e os valores de sua sociedade. Apoiar Bolsonaro  é apoiar o fascismo, o racismo, a violência contra a mulher, a homofobia, a violência como caminho para resolver os problemas sociais, o fim da democracia. Muitos dos cidadãos de bem, por indignação, por não aceitar o mar de lama em TODO SISTEMA POLÍTICO que os últimos anos revelaram, resolveram, em um voto de protesto, apostar em Bolsonaro no primeiro turno. Compreende-se a indignação, mas não podemos fazer o mesmo que os alemães fizeram quando levaram Adolf Hitler ao poder. O cenário era muito parecido com o que agora estamos vivendo no Brasil. Por isso, precisamos ser muito honestos e sensatos neste debate.

 

O que está em jogo não é o Lula ou Haddad X Bolsonaro. O que está em disputa é o Brasil que nós queremos.

Precisamos escolher entre o Brasil das bravatas, dos achacadores e fisiologistas do poder, dos deputados que passam 30 anos fazendo do congresso um emprego permanente não só para si, como para os familiares, das perdas dos direitos trabalhistas, do acirramento do racismo, da violência contra mulheres, do fim dos programas sociais de inclusão de jovens pobres nas universidades ou o Brasil com programas como Minha Casa Minha Vida, que aqueceu o mercado imobiliário gerando milhares de empregos, um país com aumento da produção industrial, ampliando o acesso de brasileiros a emprego e renda, um Brasil com um projeto de nação mais inclusiva e transparente, com o fortalecimento das instituições fiscalizadoras (a exemplo do Ministério Público - MP e Polícia Federal - PF), da conquista de direitos (como os que as empregadas domésticas passaram a ter), do acesso às universidades públicas, antes restritas à elite, mas que abriu suas portas para os filhos do agricultor, da faxineira, do operário da construção civil , entre outros membros da classe trabalhadora.

É esta a disputa que a sociedade precisa decidir.

Qualquer tentativa de desviar o foco do debate não estará contribuindo com o nosso país.

Não estamos disputando quem gosta ou não do PT, ou quem tem críticas à A ou B.

Estamos decidindo o futuro de uma nação.

Todas as vezes que a população desacreditou nas instituições, na democracia e na convivência harmoniosa; toda vez que se buscou heróis, vimos emergir figuras como Adolf Hitler, o qual não precisamos elencar o porquê de sua ascensão ao poder ter sido uma das piores experiências da humanidade. Quem já estudou história sabe disso.

Portanto, amig@s, precisamos ter o cuidado para que, em nome do fim da corrupção e das descrenças, não coloquemos o Brasil nas mãos de uma pessoa que é a mais pura expressão do que o nosso país, e países a fora, já experimentaram e não aprovaram. Por estas e outras muitas experiências é que precisamos, com muita calma e cautela,  debater muito este momento, tirando a venda dos olhos daqueles que, por decepção com alguns frutos, querem jogar veneno em toda a lavoura.

 

Digam NÃO ao retrocesso!

 

*Marivaldo do Amaral é Secretario de Educação no município baiano de São Francisco do Conde

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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