Por quê a reeleição de Lula


O presidente até agora não aproveitou as melhores chances, mas ainda tem a de ser mediador no País dividido abruptamente entre ricos e pobres.


Por Mino Carta (Carta Capital, 13 de Setembro de 2006 - Ano XII - Número 410 )


Há quatro anos CartaCapital fez sua opção, declarou explicitamente preferência pela candidatura Lula no confronto com José Serra. Agora volta a escolher o presidente no embate contra Geraldo Alckmin. Em 2002, não faltou quem condenasse nosso comportamento, por considerá-lo impróprio de um jornalismo isento e pluralista.


Essas definições às vésperas de uma eleição são comuns, no entanto, nas melhores mídias do mundo. De resto, aqui mesmo, o O Estado de S. Paulo apoiou abertamente a candidatura de Serra, ao contrário dos demais que alardeavam, e impávidos alardeiam, uma eqüidistância inexistente. Isto, em castiço, chama-se hipocrisia.


Dependesse dos donos da mídia nativa, não sobraria pedra sobre pedra do governo que se encerra. Outros senhores, mais céticos, afirmam que tudo dá na mesma. CartaCapital entende que a prática da política há de ser pragmática, donde encaramos a reeleição como mais conveniente para o País.


Esta revista não se furtou, nos últimos quatro anos, às críticas, às vezes contundentes, ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Fomos desabridamente contrários à política econômica da parceria Palocci-Meirelles e não hesitamos em expor a nossa insatisfação com a política social, tímida demais do nosso ponto de vista na terra vice-campeã mundial em má distribuição de renda.


Condenamos peremptoriamente a política relativa aos transgênicos, a favorecer a Monsanto, a qual, está claro, nunca mais anunciou em CartaCapital. Na área da comunicação denunciamos amiúde a submissão aos interesses da Globo, tão bem defendidos pelo ministro Hélio Costa, e nunca deixamos de exigir a apuração rigorosa das malversações de todos os gêneros.


Política, contudo, não se faz para bochechar sangue humano. Tampouco jornalismo. Justiça, em compensação, impõe fidelidade canina ao preceito inalterável: in dubio pro reo. Ninguém haverá de ser sentenciado sem provas, e estas faltaram à inquisição antimensalão, conduzida pelos torquemadas de plantão com o transparente propósito de solapar a reeleição. Ou mesmo de impedi-la por alguma forma jurássica de violência, como ainda hoje invoca Fernando Henrique, saudoso de Carlos Lacerda.


O governo Lula ficou longe daquele que teríamos desejado. Tem, entretanto, seu trunfo, a própria eleição de um ex-metalúrgico, retirante nordestino, para a Presidência da República, a despeito da ojeriza, quando não o ódio, que nutrem por ele graúdos de vários calibres, e aspirantes a graúdos.


O povo brasileiro identifica-se com um igual, e isto explica a reeleição iminente. Já escrevi, e repito: a mídia que se diz isenta deveria meditar sobre seu fracasso. Esforçou-se com empenho máximo para fazer buracos n’água.


Volta e meia, alguém aparece para nos acusar de “lulistas” e “petistas”. Não somos nem uma coisa nem, muito menos, outra. Pessoalmente, tenho a honra de ter sido o primeiro profissional a perceber no presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, faz 29 anos, o poder de liderança, o QI alto, o carisma de alguém habilitado a fazer história.


Íntegra, clique: http://www.cartacapital.com.br/index.php?funcao=exibirMateria&id_materia=5378

A anatomia da inveja



Mauro Santayana (Carta Maior, Sábado, 09 de Setembro de 2006)


BRASÍLIA - Em “Os velhos marinheiros”, o clássico da literatura picaresca brasileira, Jorge Amado narra uma partida de pôquer em que o capitão Vasco Moscoso de Aragão depena o adversário. O perdedor procura insultar o ganhador de todas as formas – e um terceiro jogador observa: “inveja mata, seu Chico, inveja mata”.


Há alguns meses o médico Adib Jatene, senhor dos mistérios do coração, órgão em que se presume alojar a alma dos homens, dizia a mesma coisa que disse o personagem de Jorge. A competitividade, o afã de superar os demais, a inveja do êxito alheio, são os maiores aliados da morte por infarto. Provavelmente sejam também de outras doenças fatais.


O ex-presidente Fernando Henrique deve consultar já o doutor Jatene. As suas mais recentes declarações sobre Lula, a quase apoplexia com que, no encontro com os donos do poder econômico, se referiu ao Chefe de Estado (inveja mata: trata-se de um operário na chefia do Estado) mostram que o festejado intelectual está precisando de acompanhamento cardiológico. E não fez melhor o antigo presidente, quando falou em Macunaíma. Lula não tem o perfil do anti-herói de Mário de Andrade.


O ex-presidente é homem vitorioso. Não tem por que invejar o êxito de ninguém, porque foi brindado por todos os êxitos: na cátedra, na literatura sociológica, na presença no Senado e na Presidência da República. Nunca se atrapalhou com o uso dos talheres nos salões do mundo. Sabe perfeitamente como servir-se de chá no Palácio de Buckingham e conhece as anedotas que fazem Clinton divertir-se, embora, com precavida elegância, evite as que falam de charutos. Lula, para a sua razão aristocrática, é um brega. A sua missão histórica deveria limitar-se à liderança sindical, ( . . .)como fez George Meany, que dominou o sindicalismo norte-americano por décadas. Lula devia trabalhar para a conciliação de classes e se satisfazer em apenas reivindicar - e sem greves, como fazia Meany - participação modesta dos trabalhadores na prosperidade do capitalismo em geral. Mas Lula foi atrevido. Fundou um partido político, liderou intelectuais (alguns com muito mais estofo do que sua ex-excelência) e acabou chegando ao Palácio do Planalto. Tratou-se, como pensa o grande sociólogo, de um desaforo de pobre. ( . . . )


Texto integral, clique: http://cartamaior.uol.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3299

“Não tem nada mais sagrado do que um governo cuidar dos seus filhos. Tem gente incomodada. Tem gente agora achando até que pobre não pode mais votar porque está votando em mim. Daqui a pouco eles vão propor a mudança do povo. E nós sabemos que, quando as pessoas começam a duvidar do povo e querem criar um povo melhor do que o nosso povo, o Hitler serve como experiência de quem quer criar uma raça superior”, discursou o presidente. (Correio Brazilense, sábado, 9 de setembro de 2006)

É muito divertido ouvir o Sr. Fernando Henrique falar em moralidade pública, e cobrar do presidente Lula medidas contra os corruptos. Onde se encontrava ele quando seu governo beneficiou banqueiros com as inside informations do BCl? Em que galáxia passava férias, quando o BC salvou os bancos Marka e Fontecidam?

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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