Jericoacoara, caminho do mar

Jericoacoara é o mar, as dunas e o vento. Por onde se vai, estão os três lá, em perfeita harmonia, com o mar beijando a areia e o vento soprando histórias de um caso de amor natural, de belezas infinitas... Difícil não sentir a forte vibração dessa antiga vila de pescadores, distante 300km de Fortaleza, no extremo norte do Ceará, protegida pelas dunas e onde só se chega em carro 4x4 ou caminhonete. A viagem até lá é quase uma aventura, com o inusitado nos surpreendendo a cada curva.

Por Petrônio Souza Gonçalves

Em Fortaleza tem saída diária em ônibus convencional até Jijoca de Jericoacoara, município sede da Vila, em dois horários: às 8h e 18h30, na rodoviária. Mas a melhor dica é fazer o traslado em van ou micro-ônibus, com as várias agências de turismo que existem na capital do Ceará, que levam diariamente os passageiros ao preço médio de R$ 60,00 por pessoa, com tudo incluso: o transporte até Jijoca e a caminhonete até Jericoacoara. No total são quase seis horas de viagem. Uma dessas agências é a Beira Mar Turismo (85) 3067-4908. Todas as agências consultadas buscam os turistas nas pousadas, rodoviária ou aeroporto, obedecendo o horário de saída, sempre às 8h. Para chegar à Vila, nas caminhonetes os turistas vão dentro da cabine ou na carroceria, com as malas viajando no teto. Diante de tanto vento e areia, os guias avisam: as passagens dão direito a sessão grátis de esfoliante natural. Para os serviços de guia, contamos com Luiz Gouvêia, que trabalha associado com pousadas e transporte (88) 9970-0499.

Já no caminho por entre e sobre as dunas, na carroceria das várias caminhonetes que fazem o traslado da cidade de Jijoca de Jericoacoara até a Vila, por 23km, passando pelo Parque Nacional de Jericoacoara, a 10km de Jeri o guia para o carro para que todos apreciem a primeira lagoa do roteiro, bem no meio da duna, a lagoa do Amâncio, que por falta de chuva está secando. É o cartão de apresentação, o ponto de rompimento com tudo que havia de urbano para a completa imersão no novo cenário, especialmente decorado para deixar o mais exigente turista embasbacado com a beleza daquela região paradisíaca do nordeste brasileiro.

A Vila

A Vila de Jeri é de uma beleza única. Suas ruas são todas de areia, sem iluminação noturna e com fiação subterrânea. A noite tem na lua e nas estrelas um adereço especial, dando um charme todo especial à paisagem. Só é permitido o trânsito na área urbana dos veículos cadastrados, o que faz mais agradável os passeios pelas ruas de Jeri, quem tem aproximadamente quatro mil moradores. Mas vale lembrar que ao forte sol a areia fica muito quente, impossibilitando o passeio. Por isso, durante o dia Jeri fica sempre vazia, com os turistas aproveitando os vários passeios de buggy em seus arredores.

Jeri tem uma boa estrutura para receber o turista, tanto em pousadas como em restaurantes. Hoje a Vila conta com mais de 260 opções de hospedagem, da mais luxuosa a mais simples, e inúmeros restaurantes, que podem ser consultados pelo site: www.portaljericoacoara.com.br.

 Passeios

São muitos os destinos e opções no entorno de Jericoacoara, sempre feitos em buggys ou em carros com tração 4x4. O melhor mesmo são os buggys, com a paisagem aberta à sua frente e o vento batendo no rosto. Os guias e motoristas sempre perguntam: "o passeio será com emoção ou sem emoção?". E vão todos por entre as dunas se surpreendendo em um frenético sobe e desce. É de impressionar as belezas que se escondem entre elas, tudo em sequência cinematográfica.

A primeira opção é o passeio para Tatajuba, a R$ 50,00 por pessoa, uma antiga vila de pescadores que foi soterrada pelas dunas e que renasceu alguns metros mais à frente. Para chegar até lá tem que saber da evolução das marés, pois um dos acessos é pela praia. Antes de chegar a Tatajuba pode se apreciar cavalos marinhos no caminho, com o compromisso de que se não vê-los, serão devolvidos os R$10,00 investidos no pequeno transporte de canoa em um braço de mar. Mais à frente, o buggy entra em uma pequena balsa para seguir viagem por entre mangues, até alcançar novamente a areia.

São muitas as lagoas e pequenos braços de mar existentes nessa região. No meio do caminho, tomado por areia e água, se vê alguns meninos mostrando a estrada para os buggys, como se fossem os meninos da porteira da antiga canção sertaneja. Ao final das travessias por entre águas, os turistas jogam moedas para a felicidade dos meninos das dunas. E vão os buggys dunas adentro, como que se passeassem por dentro de verdadeiros quadros ensolarados, com a imensidão abrindo e enfeitando os caminhos.

Ao chegar à entrada da antiga vila de Tatajuba, em uma pequena vendinha, encontra-se a sempre falante e folclórica ex-moradora dona Delmira, figura mundialmente conhecida e devidamente maquiada com batom indefectível que fica na janela com seu periquito no ombro contando histórias da vila que não existe mais. Ao seu lado, a foto da soterrada igrejinha em que ela foi batizada. Dona Delmira já é atração turística e parada obrigatória dos passeios, com os turistas que ficam ouvindo as suas histórias enquanto tomam uma gelada água de coco. Até o almoço, mais algumas subidas e descidas entre dunas e lagoas, como a Duna do Funil, com sua bela lagoa ao fundo, por onde se desce de eskibunda por aproximadamente 100mts, ao preço de R$ 5,00. Para quem quiser voltar em um triciclo, o preço é de R$ 10,00.

Poucos quilômetros depois, a bela Lagoa Torta com seus vários restaurantes onde se pode passar a tarde tomando aperitivos deitado em rede estendida dentro da lagoa de água doce. Para quem estiver animado, tem ainda caiaque, pedalinho e stand up. Quando pedi o cardápio para o almoço, demorou muito para o garçom trazê-lo, até que retornou com uma bandeja repleta de peixes de várias tamanhos e espécies, além de lagostas e camarão. Perguntei se não havia cardápio escrito e ele respondeu-me que tinha apenas peixe. Ao que fiz o pedido, para um almoço delicioso, defronte a um cenário magnífico. O almoço sai a um preço médio de R$30,00 por pessoa. É de encher os olhos, o estômago e o coração. Na volta, a beleza nos seguia novamente por todos os lados.

Lagoa Azul

Outro passeio de igual beleza é para a Lagoa Azul, a 20km da Vila. Antes, uma parada para fotos ao lado da árvore da Preguiça, uma árvore de mangue que cresceu tombada, junto ao chão, e a lagoa Paraíso.

Linda, a lagoa Paraíso trás bares ao seu entorno. De água doce, pode-se passear de caiaque e barco. Mais alguns quilômetros à frente, a grande atração, a cinematográfica lagoa Azul. Verdadeiramente azul, a lagoa tem mais de 17km de extensão e vários pontos de banho. Curiosamente, ela não tem nascente ou rio que lhe abasteça, sendo resultado do acumulo de água da chuva e do lençol freático que chega à superfície. Ela é perfeita para quem quer passar um dia de descanso, com suas águas límpidas e tranqüilas, em que se pode mergulhar, passear de jangada, ao preço médio de R$10,00 por pessoa, ou simplesmente ficar apreciando sua beleza, deitado em uma das muitas redes estendias dentro da água. Sua areia branca lhe dá um ar de mar, deixando o mais exigente turista fascinado diante de um cenário paradisíaco. Vale destacar a qualidade da comida servida nos restaurantes ao entorno, com média de R$ 30,00 o almoço por pessoa. Nesses bares, sempre os cardápios são bilíngue, revelando a forte presença do turista estrangeiro durante todo o ano.

Pedra Furada

Símbolo de Jericoacoara é sua charmosa Pedra Furada, que fica na praia, a 2km da vila, em uma boa sugestão de caminhada para ver o pôr do sol. Na maré baixa é possível chegar pela praia. Nos meses de junho e julho pode-se ver o sol se pôr entre seu furo, fazendo um espetáculo de encher os olhos. A praia em que fica a Pedra Furada é toda tomada por pedra, que impossibilita o banho convencional, quando muitos ficam dentro das pequenas piscinas que se formam por entre as pedras e areia. 

Forró

Tudo é forró em Jeri. Nos buggys, nas ruas, nas casas, tudo é forró. Lá tem até o Beco do Forró, que tem status de atração turística, com shows regulares nas quartas e sábados. Outro orgulho local é a padaria Santo Antônio, que abre as 3h da madruga e encerra expediente às 6h, servindo sempre o melhor café para o mais boêmio turista.

Pôr do sol com vários sotaque e idiomas

Por sua posição peninsular, é possível ver o nascer e o por do sol no mar. É o único lugar no Brasil que tem esse privilégio. A duna que fica aos pés de Jeri é o palco para ver o pôr do sol. Ao entardecer, uma romaria de turista sobe ao seu cume, enquanto o sol se põe de forma frontal à Vila e à duna, lá no fundo do mar. Com o silêncio que se faz é fácil ouvir os vários sotaques dos brasileiros e os muitos idiomas dos estrangeiros, tão comuns na Vila de Jericoacoara. Quando o sol se punha, eram tantas fotografias que até se ouviu o chiado dele entrando no mar. 

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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