Brasil chama ação de Israel de "terrorismo de Estado"

A ofensiva de Israel na Faixa de Gaza é "terrorismo de Estado" e se segue a um histórico de descumprimento de resoluções da ONU contra o país quanto à questão palestina, afirmou em entrevista ao Valor o assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, elevando o tom da reação brasileira ao ataque de Israel ao grupo Hamas, que controla a Faixa de Gaza. Garcia diz que a crítica ao governo israelense não deve ser vistas como oposição a Israel, país que o presidente Luís Inácio Lula da Silva quer visitar este ano.


Em conversa telefônica ontem com a ministra de Relações Exteriores de Israel, Tzipi Livni, o chanceler brasileiro, Celso Amorim, em tom mais moderado, criticou a perda de vidas humanas e o uso "desproporcional" de força na ofensiva israelense contra os palestinos, invocou a necessidade de um cessar-fogo imediato e sugeriu um "possível" envio de uma missão observadora internacional.


Amorim, que invocou a "neutralidade" do Brasil no conflito, relatou a auxiliares que a ministra o ouviu "com atenção e respeito", mas não deu resposta. O telefonema foi iniciativa da ministra.


Garcia, apesar das críticas, argumenta que o Brasil não quer favorecer nenhum dos lados no conflito, mas buscar uma alternativa aceitável para a paz na região.


"Israel é intocável, mas o governo de Israel não pode permitir que isso seja uma justificativa para qualquer tipo de ação", argumentou Garcia, um dos principais conselheiros de Lula em política externa. Ele lembra que o governo brasileiro tem sido enfático em condenar as ações terroristas contra o Estado de Israel e o anti-sionismo.


"Quando há um atentado contra Israel, é um ato terrorista; quando uma ação do Exército israelense provoca morte de civis palestinos é uma reação de defesa?", questionou Garcia. "Isso é terrorismo de Estado, me desculpe", comentou, lembrando o bloqueio israelense ao abastecimento de energia e alimentos à Faixa de Gaza, sob controle de Hamas. Garcia reconhece que o governo Lula tem "simpatia" pela causa palestina, mas diz que o apoio aos palestinos não pode ser visto como um confronto com o Estado de Israel, cujo direito de existência pacífica o Brasil defende "intransigentemente".


Após o encontro com o presidente da França, Nicolas Sarkozy, no fim do ano, o presidente Lula determinou ao Ministério de Relações Exteriores que realizasse consultas com a diplomacia francesa para buscar propostas conjuntas de paz para o Oriente Médio. Na última semana de 2008, Amorim fez contatos telefônicos com autoridades envolvidas na questão, defendendo uma reunião para discutir alternativas de paz na região.


Um dos principais pontos enfatizados pela diplomacia brasileira é o fim do bloqueio às regiões ocupadas pelos palestinos, na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Em conversas reservadas, diplomatas brasileiros graduados lembram que o bloqueio, que dificulta as condições de sobrevivência numa das regiões mais superpopuladas do planeta, é um dos maiores incentivos ao recrutamento da militância radical que sustenta o Hamas. Espremidos na Faixa de Gaza vivem 4.156 pessoas por quilômetro quadrado, lembra um dos principais auxiliares de Amorim.


Garcia e os diplomatas brasileiros negam que os crescentes interesse comerciais e de investimento entre o Brasil e os países árabes levem o governo a se inclinar pelas posições palestinas no conflito. Lembram que o governo Lula negociou uma agenda comercial com Israel e foi um dos principais incentivadores do acordo de livre comércio do Mercosul com Israel, firmado em 2008. O que Lula e seus assessores em política externa criticam é o que o presidente classificou, em Pernambuco, na semana passada, de desproporção na reação israelense aos mísseis lançados pelo Hamas contra Israel.


Lula, lembram seus auxiliares, comparou a ação do poderio militar israelense ao uso de bombas contra palitos de fósforo.


Em nota assinada por seu presidente, o deputado Ricardo Berzoini, o PT, principal partido do governo, caracteriza também os ataques do exército de Israel como "terrorismo de Estado". Afirma o PT que atentados não podem ser respondidos através de ações contra civis. "A retaliação contra civis é uma prática típica do exército nazista: Lídice e Guernica são dois exemplos disso", assinala o partido do presidente Lula. Para o PT, Israel tem o apoio dos Estados Unidos que, "se realmente quiser, tem os meios para deter os ataques".

Fonte: Tribunal Popular citando Valor On-line

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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