Portugal: PNR vomita ódio

“As ideias não se apagam…” - Assim é de facto. Porém, tal como da boca do diabo saem por vezes verdades, também acontece o mesmo com que aqueles que vomitam ódio pestilento quando a abrem... Resta saber se se tratam de ideias ou de remoques.

Recentemente um grupúsculo da extrema-direita que se trata por Partido Nacional Renovador (PNR), onde se acoitam neofascistas portugueses, instalou no Marquês de Pombal, a Praça mais movimentada de Lisboa, um “outdoor” xenófobo contra a imigração. O facto, obviamente, originou a indignação geral, incluindo todo o espectro político parlamentar, desde da Direita à Esquerda, e em particular daqueles, como nós, que foram também imigrantes. É bom lembrar, para quem não saiba, cerca de cinco milhões de portugueses trabalham e vivem fora do país, onde muitos criaram raízes e até constituíram família com os nativos dos países de acolhimento.

Dias depois, o cartaz foi objecto de vandalismo, em resultado do que aquele partido resolveu colocar novo “outdoor” com a frase que serve de título a este artigo. E quem o fez, é um idiota. Não cremos que tão tacanha atitude tenha partido de alguém que se indigne com manifestações de puro xenofobismo. A verdadeira indignação não desce a esse nível… Tal atitude é própria de quem se quer armar em vítima e concitar sobre si a atenção geral. No caso, claro, até é muito conveniente…

Os imberbes salazarengos do PNR nem sequer estão de acordo com o melhor pensamento do seu mentor ideológico a respeito das “raças” e da emigração. Lembramo-nos perfeitamente do discurso do regime que afirmava Portugal como um país multiracial e disso fazia gala. Lembramo-nos também das políticas sociais do regime, que advogam, que literalmente “empurravam” as classes menos favorecidas para a “estranja”, provocando uma hemorragia de mão-de-obra útil ao país, que só com a Revolução dos Cravos estancou. Lembramo-nos como isso era útil ao governo de então. Da remessa da “dinheirama” dos emigrantes financiava a economia do país e com a ausência forçada de milhões de portugueses equilibrava a Balança Comercial do lado das importações. Naquele tempo, claro, ninguém se atreveria a colocar um “outdoor”, mesmo pago, em qualquer praça do país reclamando, por exemplo, a Liberdade de Expressão. E obviamente não o faria, não porque esta não fosse uma necessidade muito sentida por muitos portugueses, mas porque era simplesmente proibida. Porém hoje, é possível a este grupelho de neofascistas, ostensivamente hostil à Democracia e às pessoas que buscam o nosso país para trabalhar e viver, que o faça com inteira liberdade. Não resulta dessa atitude qualquer perseguição pelos esbirros da PIDE, que felizmente já não existem, e menos ainda prisão nos calaboiços de Peniche, de São Nicolau ou do Tarrafal, que há muito foram encerradas. Eis o que em termos de ideias, aqueles senhores “naturalmente” desejariam de ver “renovado” no Portugal de hoje.

As nossas dificuldades sociais, muitas vezes utilizadas indevidamente com fins políticos de suspeita intenção, habitual entre as hostes neofascistas e ultramontanas como o PNR, não resultam da imigração, mas de um disfunção económica, em muitos casos conveniente e deliberada, com origem na persistente crise económica internacional que vivemos. Por outro lado, quando se fala que os imigrantes são uma necessidade e uma mais valia económica para o país, o que é inteiramente verdade, faz-se não pelos seus “lindos olhos” mas porque convém. Há neste tipo de observação muito cinismo e pouca solidariedade, o que envergonha um português como nós, que foi tratado no Brasil como um seu filho. E aqui convergem os argumentos a favor e contra a imigração aparentemente em oposição. Os primeiros, conforme opinião do seu líder, Sr. Pinto Coelho, cuja foto aparece no cartaz, não estão contra os “bons” imigrantes e os segundos dizem que estes serão bem vindos, claro, enquanto forem úteis… Bem por esse andar, qualquer dia, também classificaremos os nacionais entre bons e maus, entre úteis e inúteis, só que teremos dificuldades de expulsar os últimos uma vez que são de cá… Os adeptos do Nacional Socialismo apreciam muito este tipo de ideias, “simplesmente iluminadas”, e de encontrar entre os mais fracos o seu “bode expiatório” e por isso “não se apagam”, pelo menos da memória daqueles que sofreram o horror do Holocausto. De facto vivemos uma época que prima pelo abandono total e absoluto da solidariedade humana, em ruptura com a nossa cultura judaica-cristã.

Outra ideia equivocada dos herdeiros do legado fascista português é o seu nacionalismo, um nacionalismo serôdio com cheiro a bolor, para os quais, bom mesmo seria o “Portugal dos Pequeninos”, que faz as delicias da pequenada que o visita em Coimbra. Portugal, talvez por estar virado para o mar, com Castela pelas costas, foi ao longo da sua História um país com pendor universalista, carácter que o regime de Salazar não enjeitava.

Por outro lado, foi durante muito milénios, antes da sua fundação, o destino de milhões de homens que para aqui vieram fundamentalmente pela mesma razão que leva hoje outros tantos a emigrar para as “quatro partidas do mundo”: melhores condições de vida. Curiosamente, alguns dos nossos imigrantes modernos procedem das mesmas regiões desses tempos recuados. Com efeito, os portugueses são, do ponto de vista eugénico, fruto de um feliz encontro multi-étnico em que se misturaram genes que vão desde o homem primitivo africano ao berbere, passando pelo caucasiano, pelos celtas, pelo bárbaro, pelo judeu, etc. Somos em suma o povo europeu mais mestiço. Herdámos desses antepassados longínquos a sua saga migrante que mais tarde, no Século XV, nos levou a romper o medo do “mar tenebroso” e a vadiar pelo mundo em busca do “paraíso terreal”, que a nossa alma lusitana persegue como algo perdido no génesis da criação do Mundo. Um objectivo que tem no generoso mito do V Império, obra dos insignes pensadores António Vieira, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva, a melhor expressão de uma “Fraternidade Universal”, subjacente à nossa incessante busca do “eterno retorno” à origem da Humanidade. Como pensar num nacionalismo português, quando diante de nós temos a Pátria Universal construída pelos nossos avós?

Artur Rosa Teixeira

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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