Equador investirá US$ 1 bilhão para construir Cidade do Conhecimento

Yachay, a Cidade do Conhecimento, ocupará uma área de quase 4.500 hectares com zona universitária, residencial, industrial e agropecuária (Divulgação Yatchay)Vitor Taveira | Quito Definido por Rafael Correa como "o maior e mais importante" da história do país, projeto de cidade planejada quer focar matriz produtiva no conhecimento.

O governo equatoriano está construindo sua primeira cidade planejada. Até 2017, aproximadamente US$ 1,04 bilhão será investido para estabelecer nos 4.489 hectares de Yachay, a Cidade do Conhecimento, quatro setores: zona universitária, zona industrial, zona agroturística e zona de biotecnologia. A nova cidade, que pode chegar a abrigar 170 mil habitantes até 2035, faz parte de um projeto desenvolvimentista de longo prazo que pretende, segundo seus idealizadores, transformar a matriz produtiva do Equador: de um sistema baseado em produtos primários para uma economia centrada no conhecimento.Leia também:

Para Equador, entrar na Aliança do Pacífico 'é pouco menos que suicídio', diz Rafael CorreaO presidente Rafael Correa não economiza euforia ao falar de Yachay - que, em quéchua, significa "conhecimento". Para o chefe de Estado, o novo município, localizado na região de Urcuquí, a pouco mais de 100 quilômetros da capital Quito, representa "o maior e mais importante projeto da história do Equador"."O futuro mudará dependendo do talento humano e das tecnologias científicas. Yachay será uma das cidades mais representativas do mundo", disse em 2012, ao anunciar o ambicioso projeto."Yachay nasce como símbolo do novo Equador.

Em 26 de julho de 1972 se iniciou o boom petroleiro equatoriano, e hoje, 31 de março de 2014, começa outro boom, do conhecimento, que vai durar para sempre, pois se trata de um recurso infinito, ilimitado", declarou na cerimônia de inauguração da Universidade de Investigação de Tecnologia Experimental Yachay em Urcuquí.[Em visita ao local, o presidente Rafael Correa declarou que Yachay marca o início de uma nova era para o Equador]O projeto da Cidade do Conhecimento foi elaborado pela companhia sul-coreana IFEZ e para coordenar sua construção e gestão foi criada uma empresa pública, a Yachay EP. De acordo seu gerente-geral, Héctor Rodríguez, o projeto faz parte de uma estratégia de desenvolvimento de longo prazo e terá foco em produção de tecnologia e inovação.Além de pretender transformar a matriz produtiva do país, o projeto vai fomentar, em escala local, "um desenvolvimento sustentável e desconcentrado do eixo Quito-Guayaquil", afirma Rodríguez, citando as duas maiores cidades equatorianas. "Também possibilita um salto acadêmico qualitativo no sentido de uma melhoria na educação superior e no sistema de ciência e tecnologia", explica.   

Escolha do localDe acordo com o estudo da IFEZ, a escolha da zona de Urcuquí para o empreendimento se deu devido a diversos fatores, como altitude moderada, relevo plano, clima ameno, baixo risco sísmico, disponibilidade de recursos hídricos e proximidade de portos, aeroportos e centros urbanos.A região foi declarada no final do ano passado como ZEDE (Zona Especial de Desenvolvimento Econômico) para as áreas de tecnologia, indústria e logística, o que garante uma série de incentivos e isenções fiscais para as empresas que se estabeleçam na região. Mais de 30 companhias, entre elas grandes transnacionais como Microsoft e Telefônica, já assinaram acordos manifestando interesse em se instalar no local.


Os edifícios de uma fazenda e um engenho abandonado foram restaurados para ser utilizados na estrutura da nova universidadeAté o ano que vem, Rodríguez estima que ao menos 20 empresas estejam instaladas no parque industrial de Yachay. Além disso, o plano do governo é que até 2017 todos os institutos de pesquisa do Estado migrem para a cidade do conhecimento.Para Rodríguez, Yachay deve funcionar como uma ponte para ajudar a reduzir a distância entre Estado, mercado e academia. As áreas de pesquisa e desenvolvimento definidas como estratégicas dentro do projeto são: Ciências da Vida; Tecnologia da Informação e Comunicação; Nanociências; Energias Renováveis; e, Petroquímica.

"Estas se convertem em áreas de investigação para os institutos de pesquisa, em temas para docência e pesquisa para a universidade e em áreas de empreendimento para o setor empresarial", explica o gerente.Estrutura para os novos alunosO pontapé inicial foi dado há pouco mais de três meses com a inauguração da primeira parte da Universidade, que conta com salas de aula, auditórios, comércio e alojamentos construídos a partir da restauração da estrutura dos edifícios de uma antiga fazenda de açúcar da região.Uma biblioteca e laboratórios científicos e tecnológicos estão sendo construídos para começarem a operar no início do próximo período letivo, em setembro. Os primeiros 184 alunos selecionados estão passando por uma fase de nivelação para logo entrarem num ciclo básico comum e, posteriormente, direcionarem suas carreiras para os ramos específicos de conhecimento.Entre os primeiros estudantes de Yachay estão Gissela Pilliza e Sebastián Rodríguez, que querem cursar engenharia de software e biotecnologia, respectivamente. Sebastián diz que foi atraído pela proposta inovadora do projeto. "A oferta acadêmica das universidades existentes no país não miravam um futuro promissor e ambicioso no campo internacional de pesquisa e desenvolvimento da ciência. E é exatamente isso que nos ensina Yachay", considera.

Vitor Taveira/Opera Mundi


Alunos da 1ª geração da universidade Yachay, Sebastián e Gissela destacam a metodologia diferenciada e o projeto inovador como atrativosGissela destaca como um dos fatores mais positivos de sua experiência na universidade a metodologia diferenciada dos professores. "Em outros lugares os alunos leem e repetem, mas aqui você é estimulado a gerar o conhecimento, precisa pensar e demostrar", relata.Críticas da oposiçãoApesar de toda pompa, o projeto de Yachay gera desconfiança e críticas de alguns setores de oposição ao governo.

Ex-ministro do governo Correa e ex-presidente da Assembleia Constituinte, o economista e professor universitário Alberto Acosta, agora opositor do presidente, questiona os altos custos de implantação do projeto, afirmando que seria mais barato e eficiente potencializar o que já existe, gerando consórcios e acordos entre as universidades que já produzem pesquisa e conhecimento no país.Ele alerta que Yachay poderia se converter numa espécie de "gueto de sábios", distante do resto da população, o que não seria condizente com o conceito indígena do "yachay", no qual o conhecimento convive com a comunidade e é parte dela."O mais preocupante é que o projeto está sendo feito com uma visão tecnocrática, que não abre a porta para o diálogo de saberes e não se inspira nada no Buen Vivir dos povos indígenas.

Se encaixa mais no mundo das empresas transnacionais do que na lógica comunitária e ancestral", questiona. Para Acosta, há o risco é de que o Estado invista e qualifique as pessoas com o melhor nível possível mas que elas sejam cooptadas por estas empresas transnacionais.

Fonte Opera Mundi

http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=951ff4e98728489ab3949b77a11507e2&cod=14033

Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter

Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
X