A crise americana e a economia brasileira

Por João de Alcântara Lopes

Esse é o assunto predominante desde a segunda feira passada (15), quando estourou a “bolha” dos principais bancos dos Estados Unidos, causando grande preocupação na população brasileira, temerosa que a crise americana possa nos atingir.

Muitas pessoas, empresários e órgãos de imprensa têm perguntado a minha opinião sobre a real probabilidade, e em que intensidade essa crise poderá nos afetar. Na minha visão, baseada nas análises conjunturais do momento, tanto da situação da economia americana como da economia brasileira, não podemos afirmar que estejamos cem por cento isentos de quaisquer influências dessas turbulências externas. Vivemos numa economia globalizada e dificilmente essas intempéries explosivas deixariam, de certa forma, de nos respingar, mas nunca com a intensidade que pudesse colocar em risco o momento atual de desenvolvimento da nossa economia.

Pode-se dizer, sem medo, em comparação com o que está acontecendo na economia do país mais rico do mundo (nas suas devidas proporções), que o Brasil da atualidade é um país privilegiado, por estar numa situação contrária ao que está acontecendo na economia do Tio Sam, pelos seguintes motivos:

1– Sistema Financeiro Nacional – Os bancos brasileiros estão sólidos, obtendo excelentes lucros como nunca antes, graças ao favorecimento do BC com a adoção da política de juros altos e altas tarifas de serviços ao público. A rentabilidade dos bancos brasileiros é uma coisa fantástica, supera em muito a de vários bancos americanos, atingindo a média de 17,4% no exercício de 2007 e 21,7% no primeiro semestre deste ano, contra 11,3% e 8,8%, respectivamente, dos bancos americanos, o que tem propiciado a capitalização e fortalecimento do nosso sistema financeiro.

Outro aspecto que se deve levar em consideração para esse sucesso é o baixo índice de crédito de risco, motivado pelo grande cuidado e zelo dos bancos brasileiros na hora de conceder o crédito. O limite é sempre condicionado à renda do cidadão, não podendo a prestação ser superior a 30% da mesma, o que propicia ao devedor uma tranqüilidade para solver os seus compromissos. Os bancos americanos, ao contrário, concederam créditos ao público sem os necessários critérios técnicos e seguros, o que contribuiu para elevação das dívidas da população para 70% da sua renda, levando à insolvência pessoal e constituição dos créditos podres, provocando a quebra do sistema financeiro americano.

2– Setor empresarial – As empresas brasileiras, de um modo geral, estão sólidas, gozando de um boa saúde financeira, bem aparelhadas e apresentando grande incremento das suas receitas e lucros. São responsáveis, em grande parte, pelo robusto crescimento da arrecadação de impostos do governo federal, que cresceu 11,2% de janeiro a julho deste ano, em comparação ao mesmo período do ano passado. Para se ter uma idéia, apenas 80 grandes empresas pagaram 5,2 bilhões de impostos somente em julho deste ano, o que comprova o franco desenvolvimento e solidez desse segmento.

3– Expansão do Crédito – O crédito chegou a 36% do PIB em 2007 e apresenta, neste ano, uma expansão para 37,2%, o que é considerado baixo, não causando risco de liquidez. Em outros países da América do Sul a relação crédito/PIB chega a até 80%; em outros países, como Estados Unidos e Japão, 180%; e alguns países da Europa, como Itália e França, 160%.

4– Endividamento Público – A dívida pública brasileira é, essencialmente, constituída de divida interna, visto que o Brasil quitou a sua dívida externa. Atinge, atualmente, o montante aproximado de R$ 1,25 trilhão, representando cerca de 42% do PIB, quando os Estado Unidos devem US$ 9,5 trilhões, equivalentes a mais de 70% do seu PIB.

5– Reservas Internacionais – As nossas reservas estão no nível de US$ 200 bilhões, o que dá uma certa tranqüilidade de liquidez por muito tempo, mas não por todo o tempo.

6– Crescimento Econômico – A nossa economia, apesar das turbulências externas, encontra-se em pleno processo de crescimento. Conforme divulgado pelo IBGE, o nosso PIB (resultado da soma de todos os bens e serviços produzidos no país) cresceu 6% no primeiro semestre, indicando uma probabilidade de fechar o ano em 5,50%, o que é considerado um ótimo crescimento. Isto significa mais empregos e renda para o trabalhador e fortalecimento do sistema econômico nacional.

7– Supersafra de Grãos – A nossa safra de grãos 2007/2008 atinge 143 milhões de toneladas, registrando um crescimento de cerca de 11,3% sobre a do período anterior, o que garantirá o abastecimento interno, e ainda sobrará para exportação, o que propiciará a baixa dos preços de alimentos no mercado, contribuindo com o controle da inflação, que já se encontra em processo de baixa, registrada nos últimos meses.

8– Independência no Setor Energético – O Brasil é um país privilegiado nesse setor, possuindo grandes reservas de petróleo em exploração, já com auto-suficiência e com enormes reservas a serem exploradas, como a de Tupi, com 8 bilhões de barris e outras de menores portes, e ainda as reservas do pré-sal, que será, sem dúvida, a grande cartada do desenvolvimento econômico do Brasil, num futuro não muito distante, dependendo somente da competência dos nossos governantes e administradores. Além do petróleo existe ainda a exploração do etanol, o combustível limpo e renovável, que assegurará o abastecimento interno e ainda a exportação, para o fortalecimento das nossas reservas energéticas e financeiras.

Por tudo isso é que chega-se à conclusão de que esta crise americana não terá grandes repercussões na nossa economia, mas somente na grande imprensa. Ainda bem.

Isso não quer dizer que não soframos alguns efeitos, como maior dificuldade para alocação de recursos externos pelas empresas brasileiras, o que as obriga a tomar esses recursos no mercado interno, por um custo maior, o que pode encarecer os produtos; mas o BNDES já garantiu que não faltarão recursos para os investimentos produtivos demandados. Algumas matérias-primas importadas também ficarão mais caras, devido ao preço do dólar.

Assim, estou de acordo com o governo federal quando afirma que estamos realmente preparados para enfrentar essa crise, sem maiores problemas que possam ameaçar o nosso processo de crescimento e desenvolvimento econômico em curso.

Além dos itens citados acima, que nos oferecem uma certa “blindagem” contra essa crise, o próprio governo americano já sinalizou com uma grande ajuda aos bancos endividados, anunciando a compra dos créditos podres do sistema financeiro, causadores da grande crise, o que já acalmou os mercados. As bolsas do mundo inteiro registraram altas histórias, inclusive a nossa (BOVESPA), que atingiu o índice de 9,5% na última sexta feira, recuperando, assim, parte das perdas sofridas até então.

Agora, de quem não estamos livres é dos grandes especuladores internacionais, que estão sempre à espreita de uma oportunidade para atirar o seu bote para tirar proveito das situações já difícies e obter lucro fácil. Os maiores problemas que acontecem nas economias mundiais têm origem na especulação. A especulação é um mal que deve ser combatido com veemência por todos, tal como a corrupção, para o bem da humanidade.
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(*) Economista, consultor e presidente do CORECON-GO

http://www.cofecon.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=1557&Itemid=1

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