Não é possível pensar em desenvolvimento sem valorizar as pessoas

Marcus Eduardo de Oliveira (*)

O desenvolvimento, em suas múltiplas manifestações, não é uma questão de ter, mas sim de ser mais. Sábios e filósofos de todos os tempos e de todos os horizontes profetizaram a esse respeito. Gandhi argumentou que o desenvolvimento seria bom e justo somente se elevasse a condição dos mais modestos. Em defesa de uma economia com uma face mais humana, padre Louis Joseph Lebret pontuou que o desenvolvimento não deve ser visto apenas pelo prisma econômico (acúmulo material), mas também pelo social, ético, político, moral. Adam Smith, preocupado em estudar a riqueza das nações, afirmou que a verdadeira riqueza deve ser avaliada pelo padrão de vida das famílias.

Pois bem. Se verdadeira for a premissa de que uma economia boa é aquela que funciona, a economia para poder funcionar a contento e fazer jus à sua condição de ciência pertencente ao campo do humanismo, necessita incluir as pessoas. Dito isso, cabe ressaltar que a inclusão das pessoas passa indubitavelmente por avaliar o padrão de vida das famílias. Inclusão está associada a bem-estar.

É pela inclusão das pessoas, tornando-as participativas, que podemos então medir o eixo da liberdade e da melhoria de vida de cada um. Isso implica, contudo, captar a realidade social. Dito de outra forma, isso deve ser o foco principal das preocupações econômicas. Não é por acaso que é consenso afirmar que o crescimento econômico vem acompanhado por um florescimento das liberdades. Essa tal liberdade somente se torna plena quando incorpora em sua essência o mais importante imperativo: a justiça social. Por sua vez, justiça social é o outro nome de uma economia que esteja incorporada à idéia central que pretende colocar o progresso a serviço dos mais pobres. Àqueles que dirigem (e participam) (d) as economias modernas – os agentes econômicos – devem estar cientes dessa premissa.

Definitivamente, não é possível pensar em desenvolvimento sem valorizar as pessoas, assim como não é possível falar em crescimento das liberdades e de justiça social sabendo que um terço da humanidade permanece mergulhado na miséria. Continuar postergando a solução desse enorme e desumano problema, é procrastinar a escala evolutiva da vida; antes disso, é afrontar a capacidade de viver em equilíbrio e em harmonia consigo e com os outros.

Ora, se todo problema social exige uma solução econômica, que a economia esteja à altura de resolver essa ignomínia. Conquanto, antes da ação, é necessário o consenso. Por que afirmamos isso? Porque a divergência, nesse caso, apenas divide, e não permite construir o novo. Vejamos que a barafunda e a celeuma, em termos de condução da atividade econômica, tende a se estabelecer, o que impede, sobremaneira, apontar e vislumbrar o horizonte com nitidez.

Em se tratando de matéria econômica, é muito mais corriqueiro termos dissenso que consenso. Vejamos pelo prisma de se buscar entender o que significa de fato e de direito desenvolvimento para os economistas. Nesse pormenor, uns dizem que a melhor política de desenvolvimento seria a que enriquece os indivíduos. Outros, mais preocupados com a realidade social, apontam que a melhor política é a que desempobrece os mais necessitados.

Esses estão do lado dos que pensam antes ser necessário destruir os alicerces da pobreza, a fim de solidificarem uma economia e sociedade com capacidade de prosperarem sem as manchas sociais mais tacanhas dos tempos modernos: a fome, a miséria, a exclusão social. Esses últimos ainda são sabedores de que uma economia vai mal e regride quando a especulação e as artimanhas do mercado financeiro se tornam mais atrativas do que a criação de novas atividades que nascem de novas idéias que está, por sua vez, centralizada na valorização do capital humano.

Quando o capital humano (o intelecto) passa a ser valorizado e incluído em termos de políticas econômicas, a satisfação de cada um realça em escala exponencial. Se a idéia central da economia (tanto ciência quanto atividade produtiva) não for a inclusão das pessoas, a economia deixa de fazer sentido uma vez que essa ciência nasceu para dar boas respostas de como melhorar a vida de cada um.

Aos economistas modernos que pautam suas ações nessa linha de pensamento cabe anunciar mais um recado vindo da academia. De lá, Edmund Phelps, laureado com o Nobel, vem para dizer que “a boa economia é a que satisfaz a aspiração a uma vida boa”. Alguém quer aspiração melhor a uma vida boa do que se sentir e estar incluído?

Portanto, se os economistas têm uma função bem definida essa é certamente a de se envolver no processo de transformação econômica e social.

A economia e os economistas modernos precisam, em termos de análises e ações, alcançarem os objetivos sociais. De uma vez por todas é precioso pontuar que só haverá inclusão plena quando as ações apontarem para a urgente transformação. Do jeito que está não é possível pensar em desenvolvimento sem valorizar as pessoas. Sem inclusão, definitivamente não há progresso!

(*) Economista e professor universitário. Especialista em Política Internacional pela FESP e mestre pela USP. Articulista do “Portal EcoDebate” e da Agência Zwela de Notícias (Angola). É colaborador do site “O Economista”.

prof. [email protected]

http://twitter.com/marcuseduoliv

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