Brasil caminha para ser o grande produtor mundial de alimentos

Brasil caminha para ser o grande produtor mundial de alimentos
Brasil caminha para ser o grande produtor mundial de alimentos

Inflação dos alimentos - "Há um ano, quando se falava em agricultura, as perspectivas eram muito boas, principalmente porque se tinha mercado e preço. E o setor reage com bastante rapidez a esses fatores, como por exemplo o trigo. Aumentamos a produção do trigo brasileiro, na última safra, em 50% - o que é uma elevação extraordinária. Isso tudo porque havia um mercado mundial, com bom preço, muito alto, deu-se uma linha de crédito e seguro aos produtores. Eles imediatamente reagiram bem e plantaram bem. Então, a agricultura tem essa facilidade. Mas este quadro que tínhamos há um ano se alterou muito em função da crise internacional, que acabou pegando também o setor.
 Em alguns setores, a agricultura brasileira é a grande exportadora do mundo. Somos os maiores exportadores de carne, de café e sucos, entre outros. À medida que algum país importador reduz a quantidade - como a Rússia, em carne suína ou de frango -, isso imediatamente causa impacto nos grandes centros produtores porque os preços e o mercado acabam diminuindo muito."

Medidas governamentais - "O governo propôs uma política de crédito de tal forma que todos plantassem - e o setor agrícola plantou 100% da área do ano anterior. Mas não plantou só porque o governo deu essas condições, mas porque ela é diferente da área industrial, que pode dar férias coletivas, diminuir a linha de produção. Na agricultura, o agricultor tem que continuar plantando.
Temos uma dificuldade maior. Diminuímos um pouco a tecnologia, que representa custos. Então, a produtividade deve cair um pouco, mas talvez 2% ou 3%, ou seja, não é muito, até seria normal. Além disso, tivemos a seca no Paraná, que perdeu-se 30% da produção de soja; 25% da de milho; e parte da de feijão. A seca também pegou o resto do Sul, em menor intensidade, o Uruguai e praticamente toda a Argentina, onde a produção do trigo caiu pela metade, e a soja e o milho também diminuíram bastante. Teve um aspecto positivo: os preços melhorarem um pouco para os produtores brasileiros. De qualquer forma, o governo está atento desde o início para adotar instrumentos e políticas para que primeiro os produtores plantassem e, que agora, comercializem."

Exportação de carnes - "O Brasil exporta carnes de maneira geral para 150 países. Claro que alguns deles têm impacto grande, como a Rússia, o maior importador de carne. Na medida em que o país se retrai na sua importação, isso causa impacto. Embora a retração possa representar uma diminuição nas nossas exportações de 5% a 10%, mas isso já causa impacto em termos de preço. Em relação à carne de gado, não devemos ter maiores problemas. Digo maiores, porque teremos problemas, mas são problemas que podemos suportar.
Então, acredito que esse setor continuará trabalhando normalmente, vai passar pela crise. Já o frango, estamos num preço limite muito baixo, mas já há um acordo com os produtores em diminuir em 10, 15 ou até 20% a produção de frango no sentido de evitar excesso de oferta. Mas, de qualquer forma, estamos recebendo missões das Filipinas nessa semana que, possivelmente, vão abrir com a China, possivelmente nos próximos 30 ou 60 dias, para credenciar plantas para exportação. Assim, estamos trabalhando com vários outros países para colocar essa diferença, que não estamos conseguindo, em alguns países que se retraíram nesse momento. Acredito que a questão do frango também poderemos superar.
Nossa grande preocupação está nesse momento com suínos. Embora estejamos trabalhando com mercados como o Japão e a China, ainda vamos demorar um pouco. O Chile também já está reabrindo, mas de qualquer forma o mercado de carne suína vai demorar um pouco e confesso que eu ainda não sei exatamente o que fazer, porque é uma crise e já se apresentou como proposta financiar formação de estoques de carnes congeladas através das grandes empresas produtoras em Santa Catarina. Mas não sabemos se isto resolve. É uma questão que estamos acompanhando e os representantes do setor têm dialogado constantemente com o governo."

Políticas para o setor - "Goiás é um estado extraordinário em termos de capacidade de produção. O Brasil é um país muito eficiente e se coloca hoje com destaque, não só pelo que já produz, como em termos de perspectivas futuras. É um dos poucos países que tem terra, água, sol, gente e tecnologia. Tem uma tecnologia extremamente avançada em agricultura tropical, com todas as condições para dar resposta às necessidades do mundo.

Claro que tínhamos projeções de aumento de produção muito boas e uma participação muito boa do Brasil, nesse mercado mundial, que se abria cada vez mais em termos de consumo de produtos agrícolas. Não só por causa dos alimentos, mas também como matéria-prima, no caso para bioenergia. Com a crise, evidentemente, isso se arrefeceu. Mas as projeções de longo prazo mostram que estas condições, na medida em que a crise seja ultrapassada, o que pode demorar um, dois ou três anos, não mais do que isso, essa boa perspectiva do Brasil retorna. Agora, existe uma política agrícola. Podemos até, sob alguns aspectos, discordar dela."

Agronegócio - "O agronegócio brasileiro tem tido um desenvolvimento extraordinário. O que falta, talvez, seja uma política mais efetiva de crédito, de preço e de estudo dessa questão do endividamento do setor rural. Quer dizer, são três coisas que precisam ser, evidentemente, equacionadas. Estamos hoje com um grupo de estudos, entre o Banco do Brasil, os ministérios da Fazenda - que sempre tem de participar desse tipo de discussão, para que depois se possa viabilizar, já que isso sempre envolve custos e orçamento do governo - e o da Agricultura. Também participam alguns técnicos de representações de produtores para ver que fórmula podemos utilizar para resolver essa questão do endividamento que já existe e evitar que futuros endividamentos ocorram, para que se tenha uma política de preço de sustentação, onde efetivamente o agricultor possa ter o mínimo de renda e possa continuar a se desenvolver e a continuar produzindo. Então, acho que essas condições todas de alteração e de melhoria da política agrícola estão em estudo."

Agenda - "Temos uma agenda hoje de dez pontos que consideramos importantes. Começando desde a questão de fertilizantes, que tem sido extremante vulnerável na agricultura brasileira porque 75% dos fertilizantes são importados. Um país que é grande produtor não pode ficar dependendo da importação com uma variação de preço excessivamente alto. Isso tem impacto no custo de produção bastante alto, já que no mundo são poucos os países que dominam as minas e as jazidas desses fertilizantes, assim como no Brasil são três empresas que controlam a comercialização. Essa é uma questão estrutural e tem que ser enfrentada. Na defesa sanitária, animal e vegetal, que eu acho que progredimos muito nesses últimos dois anos, também teremos que avançar muito.
Assim, temos toda a pesquisa, evidentemente, como fundamental; a tecnologia, a adaptação de novas variedades geneticamente mais produtivas, mais resistentes. A questão das doenças e os impactos delas, como no caso da soja, a ferrugem. A questão da infra-estrutura e logística é um problema seriíssimo. Você não pode trazer a produção do Mato Grosso para os portos de Santos e Paranaguá. O custo é muito elevado. Temos que encontrar uma outra saída. Não é só questão de política agrícola. Há uma série de outras questões, uma outra agenda que temos que estruturar já que o Brasil caminha pra ser o grande produtor agrícola mundial, o grande fornecedor de alimentos para o mundo."

Orgânicos - "Eles foram regulamentados há muito pouco tempo, no ano passado. Orgânico é um mercado bom e que cresce não só dentro do Brasil, mas no mundo todo. A regulamentação foi fundamental porque ela estabelece os padrões de produção e dá garantia para o consumidor saber o está comprando como produto orgânico. Dá também garantia para quem produz porque pode certificar o produto. Essa estrutura, entre você estabelecer essas regras todas, cria certificadoras. Passar a certificação, esse é um processo que talvez ainda demore um pouco. Mas acho que estamos caminhando muito rapidamente para isso. O estado que hoje é líder nessa produção e que avançou muito é o Paraná; mesmo no Distrito Federal tem uma associação muito boa, muito forte. O consumidor quer ver e quer ter a certeza da origem do que ele está comprando é um produto orgânico. O produtor evidentemente quer isso para mostrar que está produzindo um bom produto. Como isso, tem-se um preço diferenciado, classe cada vez maior que deseja esse produto. Acho que esse é um grande mercado."

Mercado de trabalho - "Praticamente todas as reservas que o País tem, e que são extremamente importantes nesse momento de crise, foram geradas pela agricultura. É o único setor que, além de pagar o déficit das demais áreas de exportação, é o que gera 100% de saldo na balança comercial brasileira. Em 2008, fechamos as exportações do setor agrícola em mais de US$ 70 bilhões; importamos menos de US$ 10 bilhões e geramos um saldo positivo de US$ 60 bilhões. É recorde, é um dado extraordinário.
 Pagamos o déficit do setor industrial e do de serviços e ainda tivemos o saldo líquido de mais de US$ 40 bilhões, que foi o saldo da balança comercial brasileira. É bom ressaltar essa importância que tem o setor agrícola para a economia. Efetivamente, foi o segundo setor que mais demitiu. Foram 143 mil trabalhadores. Agora, quando você decompõe e analisa isso, o setor álcool açucareiro sozinho demitiu quase 80 mil. Ou seja, a grande demissão está concentrada em um único setor e muito em São Paulo e em Minas Gerais. Então, foram pequenas as demissões nos demais setores e no resto do Brasil. Quando o governo viu esses dados, passou a estudá-lo junto com esse setor para ver o que pode ser feito pra evitar que esse processo se agrave."

Fonte: Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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