Deu a louca no mundo

Por PEDRO VALLS FEU ROSA

Prenderam um galo em uma cela de delegacia. Isto aconteceu na província de Formosa, na Argentina. O crime dele foi ter destruído uma máscara de cerâmica Aymara que a vizinha de seu dono havia trazido da Bolívia. As autoridades policiais asseguraram que o galo estava sendo bem tratado em sua cela. Este galo deu mais sorte do que uma penosa surpreendida fazendo sexo com um homem em Zâmbia, e que acabou condenada por um Conselho local à morte por decapitação.

Enquanto isso, na Sérvia, Micko acabou preso. Trata-se de um boi de 4 anos de idade, cujo dono foi condenado pela prática de atos violentos. Com a prisão dele, a saída para evitar que Micko fosse para um matadouro foi enviá-lo também para a cadeia. Assim, para este pobre boi, ‘a vaca foi para o brejo’.

Falando em bovinos, a situação anda muito avacalhada em uma prisão localizada ao norte da cidade de Londres, no Reino Unido: ladrões roubaram do cofre de lá o equivalente a US$ 1 mil. É isso mesmo: a penitenciária foi depenada! Destino semelhantes tiveram policiais israelenses – eles “deram bobeira” e a viatura na qual estavam foi carregada por ladrões, apenas tendo sido recuperada horas depois sem o aparelho de rádio e o computador.

Em situação parecida se viram policiais japoneses de Gunma, ao norte de Tóquio, cuja viatura foi furtada por um cidadão que, carregando compras e cansado de andar, decidiu arrumar um “transporte gratuito” até sua casa.

Já em Ryazan, perto de Moscou, na Rússia, muitas pessoas não conseguiram voltar para casa: um servidor municipal decidiu furtar uma ponte de metal que cruzava um rio próximo. Ele carregou a ponte de caminhão, escandalizando a Polícia local.

Aliás, sobre a Polícia, nenhuma é tão cheirosa como a Gujarat, uma cidade da Índia. Lá, os agentes da lei estão utilizando uniformes perfumados com essências de flores e frutas cítricas, em uma tentativa de melhorar a imagem da corporação. A idéia é que as pessoas tenderiam a se aproximar mais de agentes delicadamente perfumados.

Menos delicado foi um policial da Malaysia, que tomou uma bolsa das mãos de uma turista e saiu pelas ruas em desabalada carreira até ser preso por seus colegas poucos quarteirões à frente. Dá para perceber que é complicado ser policial por lá.

Mas pior ainda é ser agente da lei na África do Sul: a barra anda tão pesada que até os cachorros da corporação usam coletes à prova de balas e facadas. Recentemente dois deles foram esfaqueados tentando parar um ladrão na província de Natal. Quem também tem uma “vida de cão” são os cachorros ingleses: 150 deles são seqüestrados por dia, apenas sendo devolvidos após o pagamento de resgates em dinheiro vivo.

A propósito do vil metal, li no jornal “Seoul News” que o governo da Coréia do Norte estaria faturando US$ 20 milhões por ano com a falsificação de dinheiro. Segundo consta, a Casa da Moeda local teria se especializado em produzir notas de dólar de altíssima qualidade.

Por falar em dólares, um congressista norte-americano questionou a remessa de 363 tolenadas deles, em um total de US$ 5,5 bilhões, ao Iraque, naquele que foi o maior transporte de dinheiro vivo da História. Disse ele: “quem em seu juízo perfeito enviaria 363 toneladas de dinheiro para uma zona de guerra”?

Aliás, sobre “zonas de guerra”, li no “El Clarín”, da Argentina, que quem quer fazer uma é o prefeito de Villarino. Indignado com os freqüentes assaltos cometidos em sua cidade, ele declarou: “se não há solução para os roubos surgirão esquadrões da morte, porque há muitos moradores com ovos suficientes para frear estes idiotas delinqüentes”.

E assim vai caminhando a humanidade. 19% dos nossos semelhantes vivem na miséria, com menos de US$ 1 por dia, mas perdemos entre 4% do PIB (EUA) e 11% do PIB (Brasil) só em função do crime. Investimos US$ 1,3 trilhão por ano em armamentos e não conseguimos ainda discutir seriamente como combater o mal que nos deixa prisioneiros em nossas próprias casas.

Daí, talvez, a ironia de Oscar Wilde, segundo quem “o mundo pode ser um palco, mas o elenco é um horror”.

PEDRO VALLS FEU ROSA é Desembargador do Poder Judiciário Brasileiro, presidente do Tribunal Eleitoral do Estado do Espírito Santo, no Brasil.

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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