Logística: o que esperar de 2009

Milton Lourenço (*)

Depois da desaceleração da economia internacional nos últimos meses, não há quem não preveja para 2009 um ano extremamente difícil, com muitas oscilações e dificuldades, especialmente nos primeiros meses. Mas, para o segundo semestre, já é de se esperar que haja uma gradativa recuperação da economia que deverá se arrastar por todo o ano de 2009 e, provavelmente, chegará até meados de 2010.

Previsões um tanto pessimistas não faltam. Até o Banco Central, em razão do agravamento da crise internacional, já projeta que as exportações brasileiras deverão sofrer queda de cerca de 4% em 2009, o que, se confirmado, será o primeiro recuo nas vendas de mercadorias ao exterior desde 1999. Pelas contas do BC, o País irá exportar US$ 193 bilhões em 2009, contra US$ 200 bilhões em 2008. Apesar da queda, a previsão do BC ainda é mais otimista que os US$ 170 bilhões projetados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Mas não se pode esquecer que, em todo cenário de crise, há sempre oportunidades. Do lado do governo, talvez esse seja o momento de o País ampliar a sua infra-estrutura de transportes que, se não fosse a atual fase de apreensão provocada pela crise financeira que teve início nos Estados Unidos, parecia caminhar célere para o dia em que haveria o chamado “apagão” logístico.

Como a maioria das empresas deverá diminuir o ritmo de seus investimentos, até porque os mercados internacionais assim o exigem, a atual infra-estrutura – portos, portos secos, rodovias, ferrovias e hidrovias – passará a ser menos exigida, o que, por outro lado, oferecerá certo fôlego aos investimentos estatais que, normalmente, nunca acompanham a demanda prevista.

Como ao governo não têm faltado recursos financeiros – o que lhe falta sempre é capacidade gerencial para aplicar os recursos previstos no orçamento –, 2009 constitui uma excelente oportunidade para se dar uma acelerada no cronograma das obras, procurando-se recuperar o terreno perdido.

Afinal, os números nacionais mostram que, de 2002 a 2007, houve um crescimento vertiginoso em movimentação de contêineres (87%) que não pôde ser acompanhado pelo aumento da infra-estrutura portuária e logística. Se há algum lado positivo na crise, é esse, ou seja, o fato de oferecer oportunidade para diminuir o fosso que separa a demanda prevista da atual capacidade instalada.

Para se ter uma idéia do tamanho do problema, basta ver que o Porto de Santos, naquele período de 2002 a 2007, aumentou 51% o seu movimento, o que equivale a um crescimento superior a 10% ao ano. E a sua infra-estrutura, obviamente, não cresceu nessa velocidade.

Hoje, o Porto trabalha com 85% de sua capacidade e, crescendo na velocidade registrada nos últimos anos, só não começou a se aproximar perigosamente de um ponto de saturação porque houve um alívio representado pelo aumento de produtividade dos terminais. Isso equivale a dizer que não houve, até agora, nenhum motivo que justificasse fuga de cargas para outros portos. Até porque Santos, o maior porto em movimentação de cargas da América Latina, está localizado na região que concentra 70% da economia nacional.

É verdade que o seu crescimento esbarra em obstáculos que vão das condições físicas insuficientes, em razão das restrições para a expansão de pátios e armazéns, a questões burocráticas, trabalhistas e legais, como as que envolvem a legislação de meio ambiente. Mas, a longo prazo, as perspectivas são atraentes, especialmente com a construção de novos terminais privados, como o da BTP (Brasil Terminais Portuários) e o da Embraport.

Portanto, o que se pode esperar de 2009 é que o governo invista em obras de recuperação ou revitalização portuária, com melhores acessos e aumento da profundidade do calado. Passando essa fase de dificuldades, com certeza, o Porto de Santos poderá atrair novos armadores, inclusive, aqueles responsáveis pelos meganavios chamados pós-Panamax.

Em outras palavras: investir em infra-estrutura só aumenta a produtividade, acelerando o desenvolvimento do País. Foi o que fizeram, por exemplo, o presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt (1882-1945), pouco depois da depressão de 1929 com o New Deal, e o presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976) na década de 1950. Não é à toa que, tantos anos depois, ainda são bem lembrados.

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Milton Lourenço é diretor-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP, e diretor-administrativo do Centro de Logística de Exportação (Celex)-SP.

E-mail: [email protected]

Site: www.fiorde.com.br

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