Expansão do Crédito

Por João de Alcântara Lopes

Ultimamente tem-se falado e discutido muito sobre a política expansionista do crédito no Brasil. Alguns são contra essa expansão, alegando que isso poderia provocar um excesso de demanda e, conseqüentemente, a elevação dos preços, causando a pressão inflacionária. De fato, vendo-se por este ângulo, há lógica no argumento. Porém, em economia, não se pode analisar tomando-se por base um único aspecto da questão. A situação é um pouco mais complexa no sentido de um contexto geral de uma política de desenvolvimento econômico integrado.

Se por um lado a oferta de crédito pode provocar um incremento da demanda, como é o lógico, nem sempre essa demanda acarretará elevação dos preços nem pressionará a inflação, como afirmam alguns analistas. Isso somente pode acontecer numa situação em que há escassez de produtos no mercado consumidor, quando se verifica, então, o desequilíbrio da lei de mercado, ou seja, a lei da oferta e da procura.

Mas numa economia estável, onde se produz o suficiente para o consumo interno e ainda sobra para exportar, como é o nosso caso, cuja exportação tem batido recordes consecutivos, responsáveis em grande, parte pelo crescimento econômico e de nossas reservas internacionais, isso jamais pode acontecer. Quando acontece, é produto de pura especulação, como o caso que está acontecendo com os preços dos alimentos, influenciados pela escassez externa dessas commodities e, infelizmente, esse mau procedimento convive conosco em quase todos segmentos diuturnamente.

A expansão do crédito, de um modo geral, é benéfica para o desenvolvimento econômico de qualquer nação, pois sem recursos financeiros não se produz e nem se consome adequadamente, o que geraria uma situação de estagnação econômica com alta inflação, o fenômeno chamado estagflação, prejudicial e contrário à política de crescimento econômico.

No nosso caso o governo brasileiro tem priorizado a política de expansão do crédito, em todos os segmentos, seja para produção ou consumo, estabelecendo-se, assim, um vetor de aceleração do crescimento, responsável em grande parte pelo aumento do PIB no ano passado. O crédito representa hoje cerca de 36,1% do PIB (uma oferta de R$ 1,017 trilhão), e é previsto que atinja a marca de 40% ainda neste ano.

Alguns analistas e o próprio governo já demonstram certa preocupação com essa expansão, temerosos de um estrangulamento na oferta de produtos e de uma explosão de consumo, causando a pressão inflacionária acima citada. Mas, em nosso caso (pleno crescimento, com previsão de incremento do PIB de 5 a 5,5% para este ano), este nível de expansão do crédito não oferece perigo de desequilíbrio de oferta/procura.

Esse nível de crédito é, realmente, considerável, o maior desde 1995, quando atingiu 36,8% do PIB. Mas em alguns países a relação crédito/PIB chega a até 100%, obtendo-se uma média de 60% em países emergentes, sem contudo provocar problemas de explosão de consumo nem pressão inflacionária. Tudo é questão de uma boa administração da política monetária e responsabilidade fiscal do país.

É natural que a oferta de crédito deve ser aplicada de maneira prudente e responsável pelos agentes do crédito, para que não aconteçam problemas de alta inadimplência, o que prejudicaria todo o sistema financeiro nacional, a exemplo do aconteceu com a maior economia do planeta – o caso do subprime, que está causando enormes transtornos à economia americana, com reflexos no mundo inteiro. Mas um caso nada tem a ver com o outro, ou melhor, com o nosso caso.

Apesar do endividamento das famílias e empresas brasileiras haver crescido nos últimos dois anos (em torno de 47%), a inadimplência, felizmente, vem decrescendo, registrando uma redução de 5,8% no período de janeiro/2007 a abril deste ano, demonstrando uma tendência salutar para a economia.

O crédito é bem vindo à nossa economia, para fomentar a produção, o emprego, consumo e, conseqüentemente, o desenvolvimento econômico de que tanto carecemos. Não devemos ter medo de crescer. Precisamos crescer, sem medo de sermos felizes.
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(*) Economista, presidente do CORECON-GO

www.cofecon.org.br

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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