Luta contra o tempo

Milton Lourenço (*)

Em 2007, o Brasil passou de 42º para 39º colocado no ranking mundial de movimentação de cargas em TEUs (unidade equivalente a contêiner de 20 pés). Só no Porto de Santos, a movimentação de cargas em contêineres cresceu de 34 milhões de toneladas em 1986 para 85 milhões entre 1994 e 2004, capacidade triplicada três anos mais tarde. E, ao que tudo indica, esses números continuarão a crescer.

Para os próximos anos, a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) já trabalha com uma previsão de crescimento anual de 15% na movimentação de carga conteinerizada. E não é só nesse segmento que o crescimento é esperado. No setor de commodities, a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) prevê que o Brasil venha a deter 60% do mercado internacional até 2017, especialmente em produtos como açúcar, café, suco de laranja, soja e carne bovina, entre outros. Sem contar o etanol, para o qual é previsto um crescimento vertiginoso.

Tudo isso faz crer que o País necessitará passar por profundas transformações para adequar sua infra-estrutura portuária, além de adotar novos padrões de comportamento e gestão logística, o que, com certeza, exigirá novos arrendamentos de terminais dos portos públicos pelo setor privado.

Afinal, a expansão do volume do comércio exterior vem obrigando os armadores a utilizar os chamados meganavios que dependem de maior profundidade no estuário e terminais que possam receber esse tipo de embarcação. Não basta mais dispor de berços de atracação, pois é preciso oferecer também uma extensa retroárea adequada, especialmente para contêineres, além de instalações portuárias específicas para operar com níveis elevados de produtividade. Tudo com acesso por modernas vias terrestres.

No Porto de Santos, responsável por 27% do comércio exterior brasileiro, já não há espaço para expansões físicas. O que resta fazer é melhorar a operacionalidade dos modais ferroviário e rodoviário, o que inclui para breve a construção de uma terceira pista da Rodovia dos Imigrantes. E esperar que seja confirmada a previsão segundo a qual, pelo menos na próxima década e meia, ainda serão os navios tradicionais, de menor porte, que não exigem grandes infra-estruturas de acesso marítimo e de terminais, aqueles que dominarão o comércio internacional.

Neste ponto, é preciso esclarecer que a tipologia dos navios cada vez mais segue caminhos diferentes. Os graneleiros, por exemplo, são maiores e exigem um canal mais profundo, enquanto os transportadores de contêineres, embora mantenham a tendência de crescimento em sua largura, não precisam de calado tão profundo, ao contrário do que se imaginava até há pouco tempo.

Seja como for, tanto num como noutro aspecto, o Porto de Santos aparece com plenas condições de se adequar às mudanças impostas pelos novos tempos: hoje, a Codesp dispõe de 53 berços de atracação de uso público e espera oferecer mais 20 ou 22 berços nos próximos cinco anos, o que inclui dois no bairro da Alemoa, dois na Prainha, dois na Conceiçãozinha, na margem esquerda, em Guarujá, três da Brasil Terminal Portuário (BTP) no antigo Lixão da Alemoa e os demais da Embraport. Sem contar o projeto Barnabé-Bagres, que deverá ter em execução o seu primeiro módulo só dentro de cinco anos, de acordo com as previsões mais otimistas.

Na área de líquidos, segundo dados da Associação Brasileiras de Terminais de Líquidos (ABTL), o volume de crescimento previsto até 2010 é de mais 186 mil metros cúbicos de espaço entre os terminais da Alemoa e da Ilha Barnabé. Para 2012, a expansão prevista chega a 206 mil metros cúbicos e, de 2012 a 2015, a 1,5 milhão de metros cúbicos. Isso significa que, para se chegar a esses números, haverá necessidade de expansão da infra-estrutura portuária a fim que possam ser oferecidas condições ideais de atracação e operacionalidade.

Em resumo: hoje, não há outra alternativa para o do Porto de Santos, a não ser expandir-se. E de maneira urgente. Vem por aí uma luta contra o tempo.

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(*) Milton Lourenço é diretor-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP. E-mail:

[email protected]

Site: www.fiorde.com.br

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