Ulrich Seidl é um cineasta austríaco provocador. Seu último filme,envolvendo três mulheres (mãe, irmã e filha) contou ele para os jornalistas na Berlinale, tinha 6 horas de duração, ou seja, impossível de se comercializar.
Então, o que fazer ? Dividir em três filmes, explicou Seidl, todos com o mesmo título principal Paraíso. O primeiro pedaço, dedicado à mãe, se chamou Paraíso: Amor e foi para o Festival de Cannes; o segundo, dedicado à irmã e tia, teve o nome de Paraíso: Fé e foi ao Festival de Veneza; e o terceiro pedaço, dedicado à filha, com o título de Paraíso: Esperança, veio ao Festival de Berlim.
A parte dedicado ao Amor, contou o lado feminino do turismo sexual, com mulheres maduras ainda no calor sexual, viajando para lugares onde existem homens disponíveis para levá-las ao orgasmo, mediante pagamento. Assim, a mãe foi ao Quênia, onde encontrou jovens africanos cheios de energia, mas precisando, vez ou outra, de um aprendizado amoroso, como o de chupar o seio dando prazer e não de maneira dolorosa.
A segunda parte, dedicada à Fé, mostrou a irmã da primeira personagem preocupada mais com religião do que com sexo. Mulher interessada em propagar a fé católica do Evangelho, o que não a impede de ter acessos de volúpia, mas santificadas por serem masturbações com o crucifixo.
A trilogia se termina com a Esperança e a protagonista é a filha, obesa, fazendo um tratamento num clínica dietética para emagrecimento. Uma clínica para obesos, dirigida por um médico magro, garantia de um bom tratamento. E a jovem obesa, ainda virgem mas desejosa de perder a virgindade, utiliza os diversos exames para seduzir o médico, com muito mais idade, esperando incentivá-lo a tomar a esperada iniciativa. Num certo momento, quase acontece, porém ela vai ter sua primeira experiência completamente bebada, sem nada sentir, com um frequentador de uma discoteca perto da clínica de emagrecimento.
Afinal, a última parte da trilogia Paraíso é também sobre obesidade ? Ulrich Seidl nega. Sua explicação é a de que utilizou mulheres obesas em contraste com os modelos padrões femininos, de mulheres magras e elegantes. Em todo caso, com o aumento de pessoas gordas além da medida, a obesidade parece ter virado tabu, tanto que no encontro do cineasta com a imprensa, demorou alguém, enfim, levantar a questão sobre as mulheres obesas do filme.
Rui Martins