ASSUNÇÃO/PARAGUAI - Influenciadas pelo levante popular no último dia 20 no Brasil, que levou 2 milhões de pessoas às ruas para protestar contra a corrupção e os governantes, cerca de três mil pessoas percorreram, no último dia 21/06, as ruas do centro de Assunção, a capital do Paraguai, depois de se reunirem em frente ao Congresso Nacional na Praça de Armas, para denunciar a corrupção e criticar a classe política do país.
Por ANTONIO CARLOS LACERDA
PRAVDA.RU
Líderes estudantis, políticos locais e ativistas se revezaram em discursos e pronunciamentos. A convocação da manifestação de do protesto foi divulgada pelas redes sociais com o lema "Por um Paraguai melhor" e com um texto que criticava o recente aumento aprovado pelos deputados para suas próprias aposentadorias, assim como o adiamento da votação de um projeto relativo ao transporte público para a cidade de Assunção.
A presidente da Coordenação dos Advogados do Paraguai, Kattia González, disse que a sua organização é uma das responsáveis por convocar os protestos, além de outros grupos populares, que se mobilizam há dois anos para criticar a corrupção política.
"Estamos aqui para pedir mais justiça no Paraguai. A convocação se espalhou pelas redes sociais. São muitos jovens estudantes, professores, profissionais, trabalhadores e isso é o que torna rica esta convocação", disse Kattia.
A presidente da coordenação informou que a sua organização quer que a agenda parlamentar esteja de acordo com os anseios populares. "Hoje temos uma agenda que está priorizando coisas que são uma agressão ao Paraguai, por exemplo, os deputados terem aumentado suas aposentadorias ao invés de votarem o projeto do Metrobus. Mas esse não é o único motivo, cada um tem o seu", afirmou.
"Acho que o exemplo dos brasileiros nos influenciou, por que eles sim e nós não?", acrescentou Kattia.
Após ler e improvisar vários discursos durante duas horas, várias pessoas se dirigiram à porta do Congresso onde, depois de uma breve resistência, foram contidos pelos policiais antidistúrbios sem maiores incidentes.
O grupo percorreu o centro de Assunção, passou em frente ao Panteão dos Heróis Nacionais e cruzaram as ruas gritando aos ônibus: "Ferro-velho! Queremos Metrobus!".
Os manifestantes protestaram também em frente à casa de um deputado do Partido Colorado e depois na sede de um jornal nacional.
Os presentes cantavam frases como: "O Paraguai despertou! O que aconteceu em Curuguaty?", em referência ao massacre em que morreram seis policiais e onze trabalhadores rurais em junho do ano passado durante a integração de posse de terrenos ocupados pelos sem-terra como protesto pela reforma agrária.
Graciela Ramírez, de 69 anos, disse que foi se manifestar contra "as coisas ruins" que os congressistas estão fazendo. "Quero a modernização do transporte público", afirmou.
A irmã Catalina, freira das Filhas da Misericórdia, disse que ela e outras companheiras de sua ordem vieram "acompanhar o povo que sofre, porque já passou da hora de se fazer justiça e dos dirigentes se preocuparem com as necessidades do povo".
Samsara, uma paraguaia de 22 anos que acaba de retornar ao país com sua família após residir na Espanha durante oito anos, afirmou estar "cansada da corrupção de políticos que roubam todos os dias".
"Isso me lembrou os protestos que ocorreram em Madri. É uma revolução que está acontecendo por todos os lados e, sobretudo, é preciso fazê-la no Paraguai que é o segundo país mais corrupto do mundo. Somos os indignados paraguaios", afirmou.
ANTONIO CARLOS LACERDA é Correspondente Internacional do PRAVDA.RU